Artigo | Missão é sempre partir: testemunho missionário em Hong Kong

Missionária da Imaculada (PIME) partilha os desafios da pastoral além-fronteiras na Igreja em Hong Kong, China.

Minha vocação missionária nasceu na Paróquia Nossa Senhora da Luz, Arquidiocese de São Paulo, Região Santana. No Dia Mundial das Missões de 1976, o então Diretor das Pontifícias Obras Missionárias Pe. Gaetano Maiello, PIME, veio falar a nós jovens sobre as missões. Assim, acabei conhecendo as Irmãs Missionárias da Imaculada do PIME. Entrei nessa Congregação em 1979 e fiz a primeira profissão Religiosa em 1982. Durante o noviciado, tivemos a graça de sermos estimuladas à missão além-fronteiras pela nossa Irmã Annamaria Fornasiero, que também trabalhava nas POM. Com ela, nós noviças conhecemos a missão católica chinesa no Brasil, e assim nasceu o meu grande amor pela nação chinesa, seu povo e cultura. Essa paixão foi ainda mais estimulada pelo conhecimento da história de uma de nossas Fundadoras, Madre Igilda Rodolfi, cujo sonho era ser missionária na China. Contribuiu também a partilha de experiências missionárias dos padres idosos do PIME, que vieram para o Brasil depois da expulsão, e viviam perto do nosso noviciado.

Depois de trabalhar na periferia de São Paulo e em Nhamundá, Amazonas, finalmente parti para Hong Kong, chegando lá em 1989 após passar um ano de estudos de inglês na Inglaterra. Enquanto estudava chinês, deparei-me com a situação gritante dos refugiados vietnamitas que, naquela época, viviam em campos fechados esperando a definição de seu status. Ainda estudante, iniciei visitas pastorais aos refugiados vietnamitas, ocupando-me de suas várias necessidades. Eles eram mais de 65 mil, espalhados por 15 campos. Dos primeiros sete anos com eles, ficaram memórias inesquecíveis. A vida dos campos era humilhante, mas o povo resistia, conservando sua grande dignidade e fé. Existia também muita fraternidade e ajuda recíproca entre os membros das várias religiões, já que tinham uma base comum: todos eram refugiados. Lembro-me também como os católicos, na falta de um ferro e de eletricidade, esquentavam os fundos das panelas no carvão para passarem suas melhores roupas e irem participar da missa semanal. Desse tempo, ficaram muitas amizades bonitas, sejam com aqueles que iniciaram nova vida em outras terras, ou com a maioria forçada a retornar para o Vietnã.

Depois de quase 18 anos de missão em Hong Kong, trabalhando em algumas paróquias, de me formar como assistente social e desenvolver serviço com pessoas portadoras de deficiências físicas e mentais, acabei partindo para Roma, Itália. Tendo sido eleita conselheira geral da nossa Congregação, fiquei lá 13 anos. No início, não me parecia que era o momento de sair, pois me encontrava familiarizada com a realidade, com o povo e a língua local. Porém, Deus tem seus planos. Hoje vejo que tenho muito a agradecer pelo serviço no governo geral da minha Congregação. Tal experiência alargou meus horizontes: conheci diferentes realidades, povos, culturas e igrejas locais. Enfim, saí muito enriquecida!

Além disso, durante “os anos romanos”, tive a graça imensa de conhecer a realidade das pessoas em situação de Rua. Foram cerca de 13 anos de serviço voluntário nos refeitórios da Cáritas de Roma, sobretudo escutando as pessoas ali servidas. As saídas para a Cáritas foram oportunidades preciosas para refletir sobre a missão de maneira concreta, mesmo estando na administração geral da nossa Congregação. Nasceu assim uma nova paixão missionária: o serviço aos nossos irmãos e irmãs em situação de rua.

Em janeiro de 2020, tive a grande alegria de retornar para Hong Kong. Nos últimos quatro anos, além de atuar como supervisora e animadora espiritual de uma escola que administramos, desenvolvo trabalho pastoral na Paróquia Santos Cosme e Damião, Tsuen Wan, particularmente acompanhando os adultos desejosos de receber os Sacramentos da Iniciação Cristã. Acompanho o conteúdo transmitido aos catecúmenos e, sobretudo, me disponho a caminhar com eles e seus catequistas para que possam perceber Deus sempre presente e atuante em suas vidas.

Devido às transformações políticas e sociais dos últimos anos, a Igreja em Hong Kong vem enfrentando desafios à evangelização devido ao grande êxodo migratório de cristãos, assim como pelo grande número de chineses vindos para Hong Kong do interior da China. Para muitos desses últimos, é aí que acontece um encontro mais aberto com a Igreja Católica universal. Para nós missionários/as, é importante refletir sobre como facilitar esse encontro.

Missão é sempre partir! Depois de alguns meses de férias aqui no Brasil, retorno para Hong Kong com muita gratidão por tudo aquilo que recebi.

Por Ir. Marinei Pessanha Alves
Irmãs Missionárias da Imaculada do PIME

 

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