Artigo | Moçambique: uma Igreja profundamente missionária

Dom Maurício Jardim, presidente da Comissão Missionária da CNBB e bispo de Rondonópolis-Guiratinga/MT, partilha a experiência vivida no mês de junho em visita pastoral à Igreja de Moçambique.

Agradeço a oportunidade de partilhar minha visita missionária a Moçambique. Foram doze dias intensos para reencontrar o Povo de Deus das comunidades onde atuei como missionário presbítero, de 2008 a 2011, pelo projeto do Regional Sul 3 da CNBB. Nessa visita fui acompanhado pelo Padre Sérgio Zanon e a leiga Márcia Moraes Videira, ambos da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga/MT.

De 18 a 29 de junho 2024, visitamos a Arquidiocese de Nampula e a Diocese de Pemba, ambas no norte de Moçambique. Na Arquidiocese de Nampula, estivemos nas paróquias São Paulo Apóstolo de Larde e São Miguel Arcanjo de Micane. Hospedamos na residência dos missionários localizada na vila de Moma, 210 Km de Nampula. Ali convivemos com a equipe de brasileiros do Regional Sul 3 e 4 da CNBB. São dois padres, uma leiga e um leigo do Rio Grande do Sul e um padre da Arquidiocese de Florianópolis que, recentemente, integrou a equipe com o objetivo de abrir um novo projeto de cooperação Missionária. Também do Sul do Brasil, encontramos três religiosas da congregação das irmãs Filhas do Amor Divino que cooperam na Paróquia São Miguel Arcanjo de Micane.

O campo de atuação missionária dos leigos situa-se nas áreas de formação, reforço escolar, alfabetização de adultos, cultivo de hortaliças, cursos de geração de trabalho e renda. Entre os projetos que a equipe missionária acompanha, está o lar vocacional que atualmente acompanha 14 vocacionados. Esse lar foi inaugurado em 2009 e já deu os primeiros frutos de uma ordenação sacerdotal e uma profissão religiosa. Nas duas paróquias atendidas pela equipe missionária do regional Sul 3 e Sul 4, há 27 seminaristas. Tal realidade vocacional aponta para um caminho de esperança e autonomia da Igreja local.

Em Nampula, fomos recebidos pelo arcebispo Dom Inácio Saúre e realizamos encontro com os missionários brasileiros, os quais partilharam conosco as alegrias e desafios de suas vidas missionárias.

Na Diocese de Pemba, província de Cabo Delgado que vive o sétimo ano de conflito armado (terrorismo), com mais de um milhão de pessoas deslocadas de seus territórios, realizamos encontro com doze missionários de diferentes congregações religiosas. Em atitude de escuta, percebemos que os missionários brasileiros, presentes nesse local de conflitos, dão grande testemunho de fé e esperança para o povo das comunidades que vivem inseguros nesse clima de ataques e tensões.

Dom Juliasse Ferreira Sandramo, bispo de Pemba, relatou que, nesses tempos de conflitos, não faltam o testemunho dos missionários e missionárias brasileiros e dos cristãos leigos nas comunidades. Um exemplo disso é que, diante dos ataques e destruição das aldeias, muitos cristãos leigos correram às igrejas para buscar a Eucaristia e preservá-la da destruição.
Atualmente são 16 missionários brasileiros na diocese de Pemba, mas em 2017 eram 29, pois 23 voltaram ao Brasil, 6 permaneceram e dez novos chegaram. Dom Juliasse, mesmo ciente de que a província do Cabo Delgado não é um atrativo para os missionários nesses tempos de conflito, faz um apelo da necessidade de continuidade da cooperação missionária da Igreja do Brasil com Pemba.

Segundo Márcia C. Moraes C. Videira, leiga missionária de Rondonópolis, “a visita a Moçambique foi uma experiência profundamente transformadora. Fomos calorosamente recebidos pelo povo moçambicano e os missionários que lá se encontram atuam com generosidade e alegria contagiantes. Aprendi muito sobre a resiliência e a força dessa comunidade que, apesar das adversidades, mantém uma fé inabalável. A presença de Deus é sentida em cada canto, nas orações comunitárias e nas celebrações, onde o sagrado é vivido com uma intensidade e devoção impressionantes. A maneira como eles tratam e vivem me ensinou a valorizar ainda mais a simplicidade e a pureza da fé, reforçando minha espiritualidade e compromisso com o servir”.

Padre Sérgio Zanon do clero da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga destacou: “Os dias de experiência missionária em Moçambique significaram muito para minha vida presbiteral. Foram dias intensos onde pude experimentar vários sentimentos e fazer ricas reflexões acerca da vida da Igreja e sua razão de ser, que é missionária. Encontrei um país que vive sérios desafios políticos, econômicos e sociais. Contudo, encontrei também um povo extremamente resiliente que, forjado por dificuldades e sofrimento, descobriu a alegria e a esperança que não decepciona.

Comunidades vivas, missionários brasileiros que, desafiados pelo contexto do país, mantêm seu testemunho de fé. Voltei feliz, inquietado, provocado e estimulado a olhar para a dinâmica pastoral da Igreja no Brasil de forma mais profunda”.

Relato com a certeza de que, apesar de ser uma visita breve, virão frutos de ampliação da cooperação missionária da Igreja do Brasil com Moçambique.

Dom Maurício da Silva Jardim
Presidente da Comissão Episcopal para Ação Missionária e
Cooperação Intereclesial da CNBB e Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga/MT

Artigo publicado originalmente na Revista SIM (maio a agosto 2024). Acesse a edição virtual da Revista

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