Mais de 280 seminaristas de todo o Brasil viveram uma experiência missionária com os pés na Amazônia. O Cardeal Steiner traz sua reflexão sobre essa bonita vivência.
A Igreja de Manaus, juntamente com as Igrejas irmãs de Itacoatiara e Coari, teve o grato privilégio de acolher a primeira experiência vocacional missionária; primeira nessa formatação, mas na estrada de uma série de iniciativas da animação missionária dos candidatos ao ministério ordenado. Coube à Igreja anfitriã os encaminhamentos das necessidades estruturais para acolhida, acomodação, dinamização das visitas nas comunidades, sendo, na verdade, a grande agraciada com a presença de mais de 280 agentes de evangelização em seus diferentes ministérios e vocações.
Foram as comunidades de nossas Igrejas as visitadas por pessoas que não estiveram aqui com “malas prontas” ou para uma “experiência de turismo”, mas aqui chegaram portadores de uma Palavra. Palavra que já é acolhida em nossas comunidades, e sempre que ressoam em um anúncio contínuo acendem a esperança do nosso povo. Foram dias da Palavra! A própria natureza das nossas comunidades são a expressão da Palavra no meio do povo.
Foi a primeira vez que chamamos a experiência missionária de “vocacional”. Isso tem muito da sintonia com o Ano Vocacional da Igreja do Brasil, o qual estamos em estreita comunhão e, embora não sendo uma reflexão nova, retoma o vínculo indispensável entre missão e vocação. Foi bonito perceber, entre os participantes, as mais variadas vocações e ministérios: os jovens da Infância e Juventude Missionária, os seminaristas, os presbíteros responsáveis pela formação nos seminários, os irmãos bispos, religiosas e outras mulheres cuja presença sempre nos interpela. Como exortei na homilia de encerramento, “toda vocação é serviço na missão. Toda missão nos dá o servir, servir na Palavra, servir no testemunho, servir no lava-pés, servir no consolo, servir na samaritaneidade, servir na fraqueza, servir no perdão, servir na misericórdia, servir na reconciliação, sempre servir, porque nascemos do povo de Deus, todos nós, nas nossas vocações, nascemos do povo de Deus, mas especialmente aqueles que se sentiram chamados, convocados, para servir de modo próprio dentro da Igreja, nos sacrifícios, isto é, nos sacramentos”. Esse modo de conceber a vocação como serviço e missão é iluminador e paradigmático para nossas dinâmicas de animação vocacional.
Certamente um dos frutos dessa experiência implica nossos processos de formação presbiteral. Os seminaristas constituíram a grande maioria dos participantes. A diversidade de testemunhos relatados transbordou de encantamento pela missão, levantando consistentes questionamentos sobre os estilos de vida nos seminários. Também insisti nas palavras de encerramento que “os processos formativos levem a ser missionários, não celebrantes de sacramentos […] Ser padre não é um status, estamos a serviço do Reino. O serviço nos realiza, é a maturação da nossa vida”. Emerge um novo modo de refletir a realidade (próprio da Etapa do Discipulado) e um novo modo de refletir a fé (naquele discipulado que continua como configuração), um novo caminho de formação. Na Igreja da Amazônia, desde Santarém (1972 e 2022) chamamos esse caminho de encarnação. “Encarnar-se onde Deus deu a graça de viver”, sem esquecer que “nós saímos do povo e voltamos para o povo para servir, servir em missão”. Por isso, levar sempre consigo a alegria, a teologia que nasce da dor do povo, “uma riqueza para nossa pobreza”. Tudo isso o fazemos na fé, confiantes na presença do Reino de Deus.
Certamente os formadores implicados nessa tarefa acolheram, da experiência, um apelo para repensar processos formativos a partir da missão da Igreja. Nesse sentido, podemos dizer que a experiência vivida em Manaus e municípios do interior, na Prelazia de Itacoatiara e em uma Paróquia da Diocese de Coari, não encerrou com o retorno dos agentes às suas dioceses e seminários, mas continua como compromisso, como aprofundamento, como construção de novos caminhos.
Gratidão foi o que mais experimentamos nesses dias em nossa Arquidiocese. Sou muito grato a todos que se empenharam pelo bom andamento da experiência. Daqui, agradeço o empenho do reitor do seminário Arquidiocesano São José, o Pe. Zenildo Lima e ao Diácono Matheus Marques com nossa equipe de seminaristas pela interlocução e encaminhamentos; agradeço às comunidades pela generosa acolhida; agradeço às Pontifícias Obras Missionárias, OSIB, CRB, Infância e Juventude Missionária e Coordenação Nacional dos COMISES pela confiança em nossa Arquidiocese. Certamente essa alegria se multiplicará por ocasião do 5º Congresso Missionário Nacional que também acolheremos aqui.
Ressalto o que disse durante minha participação no encontro animado com esses jovens missionários: “Deus nos dê a alegria de vivermos o Reino de Deus, que Ele nos dê a alegria de testemunhá-lo”.
*Arcebispo de Manaus (AM)