Cristo realmente aponta para a Amazônia

Por Tiago Cembrani*

“Como, pois, invocarão, aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: ‘Como são belos os pés dos que anunciam boas-novas”” (Rm 10,14-15)

Com estas palavras, o Apóstolo Paulo, que com zelo e ardor missionário levou a mensagem do Evangelho a tantos povos e nações, manifesta o que deve ser a primeira e principal tarefa de todo batizado: ser missionário do amor de Deus, que, em seu Filho Jesus Cristo, deseja encontrar, salvar e libertar a cada um de nós, seus filhos.

Nos dias 05 a 17 de janeiro, tive a graça de participar da I Experiência Vocacional-Missionária “Pés a Caminho”, na Arquidiocese de Manaus (AM). Foram dias de oração, formação, partilha de experiências, encontros e reencontros e, sobretudo, de aprofundamento e renovação do ardor missionário através de nossa presença junto à realidade amazônica.

Recordando desta experiência, o primeiro sentimento que nasce em meu coração é a gratidão. Sou grato a Deus pelo chamado e pelo sustento na vocação! Grato a Ele por ter me dado esta enorme graça de estar, mesmo que por um breve período, junto ao povo amazônico, não apenas fazendo coisas, mas, acima de tudo, convivendo, sendo presença e recebendo deles tantos aprendizados e experiências bonitas de fé e amor. Estes dias foram realmente um tempo de graça; tempo de dar e receber; pausa restauradora na caminhada.

Também sou grato à diocese de Cachoeira do Sul (RS), que me enviou para esta experiência. Dos 280 participantes, 5 pertenciam ao regional Sul 3, e eu pude representar nossa querida diocese. Mesmo com as dificuldades, sobretudo para custear uma participação como esta – uma viagem de uma ponta a outra do país – nossa diocese quis tomar parte neste importante evento eclesial, no contexto do Ano Vocacional no Brasil, mostrando que, desde este nosso solo gaúcho, queremos reforçar nosso compromisso de olhar para a Igreja em sua totalidade, fazendo-nos disponíveis onde quer que ela necessite de ajuda.

Sou grato também ao querido povo da Arquidiocese de Manaus, que com caloroso afeto e espírito fraterno nos acolheram tanto no Seminário quanto nas paróquias e comunidades. Como foi boa a acolhida nesta terra! Sua alegria e generosidade foram grande testemunho do que é ser Igreja nos dias de hoje. Por isso, quero, agora, partilhar algumas experiências que vivi nestes dias.

Após o dia de formação sobre a realidade amazônica, eu e outros 9 missionários visitantes fomos designados para estar junto do povo da Paróquia Nossa Senhora das Graças, na Colônia Antonio Aleixo. Junto a nós estavam o pároco, Pe. Gastón Gabriel SdC, missionário argentino; as Irmãs Zulmira, Marli e Auriana, Filhas de Santa Maria da Providência (FSMP) e alguns outros missionários residentes.

Caminhar longas distâncias ou atravessar o rio de barco para realizar as visitas tornou-se a nossa rotina naquela semana. Ficávamos desde bem cedo até tarde da noite trabalhando bastante, buscando nos fazer presentes onde era possível e necessário. Assim, no contato com as pessoas durante as visitas, na Eucaristia, nos encontros e nas ações sociais, foi crescendo nossa compreensão de qual era o chão que nós agora pisávamos. Era um chão marcado pela presença de Deus, pela beleza, pela diversidade, mas também por inúmeros desafios! Neste processo, foi de grande valor as muitas orientações que recebemos antes de partir para a ação missionária. Por outro lado, percebemos que a missão se faz através do encontro com cada pessoa, e, para isso, definitivamente, não existe fórmula pronta. Cada encontro foi único e especial!

Uma das experiências mais marcantes foi ver a realidade da fome que assola muitas famílias naquela realidade. Como disse o Papa Paulo VI: “o povo da fome nos interpela!” Neste sentido, como sinal do Reino de Deus presente nesta realidade, destaco o projeto “Pão e Paraíso” da Paróquia Nossa Senhora das Graças. Este maravilhoso projeto atinge cerca de 500 crianças que, diariamente, recebem refeição de qualidade nos 9 refeitórios que estão espalhados pelo território da paróquia. Junto da refeição, há um bonito trabalho de evangelização com as crianças conduzido pelo pároco e pelas religiosas. Não é tarefa fácil sustentar este projeto, mas todo o trabalho é desenvolvido com amor, dedicação e grande competência. Na partilha do pão material, entendemos o real sentido de sermos Igreja, de sermos eucarísticos: estender a mão aos que passam necessidade e aproximar-se deles com amor fraterno, porque “em nossas obras, nosso povo sabe que compreendemos sua dor” (S. Alberto Hurtado).

O carisma guanelliano inclui viver da Divina Providência e isso foi bastante perceptível enquanto estivemos naquela paróquia. Ao mesmo tempo, sentimos como a Igreja é convidada a ser a mão da Divina Providência no mundo: mãos que, uma vez socorridas, agora se estendem para socorrer os pequeninos.

Em uma comunidade da periferia, às margens do rio Amazonas, fortemente marcada pela realidade da drogadição e do tráfico, percebemos a importância do trabalho dos católicos, não apenas no nível eclesial, mas também social. Quão grande é a responsabilidade que toda a Igreja possui em relação à Amazônia, tão necessitada de ajuda espiritual e material e do envio de missionários e missionárias apaixonados por Jesus Cristo e o seu Evangelho!

Gratidão a Deus pela Amazônia e sua realidade rica e plural: a diversidade dos povos que lá residem e dela cuidam; as belezas naturais, com suas águas, suas florestas e sua fauna, que nos deixaram fascinados e nos conduziram à ação de graças ao Criador; a multifacetada cultura amazônica, com suas danças, músicas, comidas típicas e histórias…

Gratidão a Deus pela Igreja na Amazônia, que tem muito nos ensinar. Olhando para a realidade eclesial amazônica, aprendemos a ser Igreja sinodal e ministerial, misericordiosa e solidária, profética e missionária, sempre em busca de crescer na vivência alegre e dinâmica do Evangelho.

Gratidão a Deus por todas as forças missionárias que lutam incansavelmente para difundir e tornar presente o Reino de Deus. São testemunhas alegres e verdadeiras do Evangelho. “Este testemunho atraente e jubiloso é a meta para a qual Jesus nos conduz com o seu olhar de amor e com o movimento em saída que o seu Espírito suscita no nosso coração” (Papa Francisco). Testemunho a alegria de ter contado com a amizade e o apoio dos missionários que comigo estiveram: toda dificuldade e cansaço foi vencido pela força da fraternidade! E, assim, são inúmeros os testemunhos de homens e mulheres apaixonados pela missão, que dia após dia, cada vez mais, doam um pouco de suas vidas até que tudo seja consumado para louvor e glória de Jesus Cristo!

Muitas outras belas experiências eu poderia descrever aqui, mas tenho consciência da pobreza das palavras diante da imensa riqueza que trago no coração. Eu e todos os participantes desta experiência missionária saímos com a certeza de que não há como ser verdadeiramente Igreja sem ser missionário. No processo formativo, esta é uma verdade pela qual devemos sempre lutar: “a missão é fundamento da vocação cristã” de tal forma que “reconhecemos a transversalidade da missão no processo formativo do discípulo-missionário”.

Ter pisado no chão da Amazônia me fez conhecer uma realidade totalmente nova e desafiadora. É impossível retornar para casa com a mesma visão de Igreja e de humanidade, haja vista os desafios e alegrias vivenciados ao longo destes 14 dias. Cristo, realmente, aponta para a Amazônia!

Jesus, missionário do Pai, seja nosso modelo e guia na missão!
Que Nossa Senhora, Rainha da Amazônia, interceda por nós!
Corações ardentes, pés a caminho…

* Seminarista da Diocese de Cachoeira do Sul

 

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