de Rosinha Martins
“Eu não tenho nada: nem família, nem irmãos, nem dinheiro. Tenho só este amigo que encontrei no caminho”, disse o marroquino Said, de 25 anos (foto), abraçando o seu novo amigo que, a partir de agora, deve perseguir com ele, juntos, o mesmo sonho: encontrar um lugar seguro para viver e trabalhar, distante da miséria e da fome. “Marrocos, nunca mais, não dá para viver lá. Nosso sonho é a Europa”, continuou.
Said e mais 706 imigrantes vindos de Marrocos, Guiné, Gambia, Síria, Nigéria, Egito, Sudão, Togo, Serra Leoa, Senegal, Palestina, Tunísia, Angola, Eritreia, de toda a África subsaariana, chegaram na noite do último sábado, 25 de fevereiro, no porto de Augusta, na Sicília – Itália. Eles fazem um caminho longo, inimaginável, marcado por perigos e mortes na esperança de encontrar um lugar seguro para viver e trabalhar.
“A maioria destes são caracterizados como ‘imigrantes ambientais’, o que quer dizer que deixam seus países por causa da fome, de doenças, falta de água, etc. No caso da Eritreia, dos 6 anos a um tempo indeterminado, os jovens são obrigados a servir o exército, porque, a modos de um governo totalitário, devem se tornar militares a vida toda e, por isso deixam o país e, os sírios, por causa da guerra”, explicou o chefe da Protecao Civil de Augusta, que coordena, também o trabalho de acolhida dos imigrantes quando chegam ao porto pelo Mediterrâneo, Luigi Salomone.
Ainda, segundo Salomone, o que se vê em relação a imigração, é a ponta do iceberg. O Quênia tem um grande campo de refugiados com mais de dois milhões de pessoas que, para não continuarem vivendo nas condições subumanas a que são submetidos, deixam o país. O presidente tem trabalhado para fechar este campo de refúgio, o que significa que milhões destes partirão rumo a Europa.
Luigi não hesita em dizer que “a migração é um negócio enorme e, por isso, os migrantes são explorados em todos estes países. Ou seja, é um negócio para trazê-los até aqui, para atravessá-los. São pessoas “desgraçadas” nas mãos de grandes desonestos”, assegura.
A chegada no porto de Augusta
Conforme as informações da Proteção Civil do Porto de Augusta, eles chegam até o porto nos barcos dos Médicos sem Fronteiras, da Cruz Vermelha, dos Militares, os quais tem um acordo com Comunidade Europeia de socorrer estes imigrantes.
Uma pesquisa feita pela organização internacional com os imigrantes revelou que uma viagem da Eritreia e da Nigéria até a Líbia dura de 22 a 25 meses. Organizações clandestinas, de nação a nação, lhes ajudam a fazer a travessia e devem pagar caro. A coisa mais trágica é que, depois de terem atravessado o deserto de Chad e Líbia, se tornam escravos por mais ou menos cinco meses, na Líbia. São usados para o trabalho forçado, violentados e tantas outras formas de opressão. O jovem Said contou que na Líbia ganhavam pouco e eram presos, maltratados. “A gente trabalhava muito, pouco dinheiro e eles nos prendiam”, relatou.
As mulheres que chegam na Itália, 80% estão grávidas, do quinto ao oitavo mês. “Isto indica, segundo a pesquisa feita, que são violentadas na Líbia e as enviam para o sul da Itália porque não lhes servem mais. Isto é a coisa mais terrível que se esconde no fluxo migratório”, diz Somonele. “Chegou aqui no Porto, estes dias”, acrescenta, “uma menina de 24 anos que estava grávida. Ficava sentada em um canto aqui, sem memória, por causa da violência que sofreu. Quando eu a toquei para falar com ela e dar-lhe um biscoito, ela se assustou. Ela se encontra em um hospital e lá os médicos não conseguem tocá-la pelo trauma que traz consigo. Ela não deixa ser tocada”.
A situação dos Marroquinos
Na manhã desta terça, restaram no Porto, cerca de 70 marroquinos. A Europa os trata com mais rigor por justificar que eles não são refugiados, mas deixam seus países por não terem condições de sobrevivência. Por volta das 12h, de hoje, horário de Itália, eles receberam da polícia portuária uma carta da UE, escrita em italiano explicando-lhes as suas condições. Eles saem dali, levados até uma estação de trem qualquer, levados pela Proteção Civil e de lá devem se virar e, conforme explica a carta, a partir daí, eles tem 7 dias para permanecer legalmente no Estado italiano. Passados os sete dias, se são pegos, serão presos. “Mas temos somente sete dias…não tenho dinheiro, não tenho como sair daqui”, falou um deles com olhar desesperador.
Uma vez colocados na estação de trem da cidade de Augusta, a maioria deles, não tendo como continuar o caminho, passam a pedir esmolas nas ruas, dormem nas marquises das calçadas. Outros conseguem chegar a Milão, Alemanha, junto a parentes que lhes esperam.
Todo esse processo de contato com a família, de primeiros socorros são feitos com a ajuda das Missionárias Scalabrinianas que estão sempre atentas a cada aviso de chegada de um barco que sempre de novo chega com milhares deles.
A questão migratória na Itália
De acordo com Luigi, a imigração na Itália não tem uma boa gestão. “O acordo inter europeu é que cada país deveria acolher uma quantidade de imigrantes: a Itália, 12 mil, Alemanha, mais ou menos, 15 mil, França, 12 mil. Dos 185 mil que chegaram na Itália este ano, permanecem 176 mil deles, sendo que somente 9 mil foram distribuídos aos outros países. E isto para a Itália é um problema sério.
Equipe se prepara para receber mais 2 mil imigrantes
A Proteção Civil e as Irmãs Scalabrinianas já se preparam – organizando mantimentos, roupas, material de higiene, remédios – para receber mais de 2 mil imigrantes que chegarão na próxima quinta, 2, no Porto de Augusta.
Fonte: Missionárias Scalabrinianas