Experiência missionária na Ilha do Marajó (PA)

Por Lucas de Lacerda*

De 27 de dezembro de 2019 à 17 de janeiro de 2020 aconteceu na cidade de Chaves, na Ilha do Marajó, estado do Pará, a terceira edição da missão Kairós, promovida pelo Regional Sul 4 da CNBB do estado de Santa Catarina. Estávamos reunidos em trinta e quatro missionários, entre casais, leigos solteiros, seminaristas, e um padre. Eu era o único gaúcho do grupo, e juntamente com um seminarista de Niterói (RJ) fomos integrar o grupo catarinense.

82883397_622053468625604_7090880543432114176_nO objetivo da missão é proporcionar ao missionário uma inserção na realidade do povo marajoara, vivendo como eles vivem, para daí haver uma troca de evangelização, o povo evangelizando os missionários, e os missionários o povo. Essa rica troca de experiências de fé tinha como cenário uma realidade muito pobre economicamente, sem recursos, sem o básico para uma sobrevivência digna.

Estávamos na chamada “boca da Amazônia” e ali conseguimos experimentar a realidade desse povo que vive sua fé sem a eucaristia frequente. Fomos conhecer como o povo ribeirinho que vive às margens do rio Amazonas mantém sua fé ardente num local que o padre passa uma vez por ano. As condições precárias de vida desse povo como, a falta de energia elétrica, a falta de saneamento básico, a falta de água tratada, o difícil acesso ao recursos de saúde, dentre tantas outras agruras da vida deles é confrontada com uma alegria de viver, uma fé tão ardente, e uma esperança inabalável de que a vida pode ser melhor, que eu me envergonhei de tantas reclamações da minha própria vida, me envergonhei por não valorizar tanto o fácil acesso que temos não só a recursos, mas também aos sacramentos.

82172416_622053068625644_8617611679083003904_nO povo chorava ao receber a eucaristia, o povo ia rezar diante do sacrário por ter a oportunidade de estar diante da presença real de Jesus uma vez a mais no ano do que o habitual. Se o Cristo presente no sacramento da comunhão demora a passar por lá, o Cristo dentro de cada um pulsa de alegria com a santidade de um povo tão simples que parece trazer Deus em seu olhar. Foi uma forte experiência de fé.

Se de um lado a miséria material era grande, de outro a generosidade e bondade em acolher os missionários era muito maior. Passamos um pouco de fome, pois muitos não nos esperavam, então a comida era escassa. Passamos trabalho ao aprender a viver sem banheiro, a tomar banho de rio, e a não ter energia elétrica. A rede era nossa cama, e a chamada rabeta (um pequeno barco) era nosso meio de transporte entre as casas. Tivemos muitas dificuldades, mas em cada uma delas encontramos Deus, fazendo um forte apelo a não esquecermos desse povo sofrido, e de aprendermos dele a simplicidade de Jesus de Nazaré.

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Se todos pudessem ver a alegria nos olhos dessas comunidades ao receber os missionários, ao participar de uma celebração da palavra e da eucaristia, valorizaríamos muito mais a frequência em nossas comunidades de fé. O povo nos deu uma aula de fé, uma lição de vida! A missão continua, e o nosso coração continua ardendo por Ele e pelo seu povo.

* Seminarista da Arquidiocese de Porto Alegre (RS)

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