Por Pe. Antônio Niemiec, CSsR*
Grupo de Trabalho (GT) de Formação Missionária colabora com os processos formativos referentes à missionariedade na Igreja do Brasil.
A CNBB, na segunda metade de 2019, ofereceu às comunidades cristãs do Brasil o Programa Missionário Nacional 2019-2023 (PMN), em sintonia com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023. O objetivo do PMN é “contribuir para que a missão seja, de fato, parte integrante da vida do cristão católico e dos organismos e comunidades eclesiais” (Apresentação). Os bispos recomendaram efetivar o Programa: “Acolher e concretizar as prioridades e projetos do Programa Missionário Nacional: formação, animação missionária, missão ad gentes e compromisso social-profético” (DGAE 2019-2023, n. 200).
Para agilizar esse processo de efetivação do PMN, a Comissão Missionária da CNBB, levando em consideração suas prioridades, criou Grupos de Trabalho (GT) e um deles é o GT “Formação Missionária”.
O objetivo do GT “Formação Missionária”
“Proporcionar a experiência do encontro com Jesus Cristo que forma discípulos missionários e fortalece a vida em comunidade, a fim de que o Evangelho seja testemunhado e anunciado no cotidiano da vida pessoal, familiar e social” (PMN, 3.1).
Projetos da prioridade “Formação missionária”
O PMN apresenta três projetos que ajudam na concretização dessa prioridade em todos os âmbitos e espaços da Igreja no Brasil: Regionais, dioceses, paróquias, comunidades, pastorais, movimentos, serviços, congregações religiosas, novas comunidades, institutos e organismos de comunhão e participação. São eles: 1) Formação dos sujeitos das comunidades eclesiais missionárias; 2) Criação de uma equipe de assessores em vários níveis; 3)Formação missiológica.
Membros do GT
Os membros do Conselho Missionário Nacional (COMINA), numa de suas reuniões, indicaram as seguintes pessoas como membros do GT: Dom Esmeraldo B. de Farias (Araçuaí-MG); Pe. Djalma da Silva (Centro Cultural Missionário); Aparecida A. Gonçalves (Leste 2); Ir. Alcinda Primon (Sul 1); Ir. Patrícia Souza (IAM); Ir. Regina da Costa Pedro (PIME); Pe. Edvaldo A. Brito (Nordeste 2); Pe. Antonio Niemiec CSsR (POM).
Algumas preocupações do GT
Durante os encontros realizados pelos membros do GT, algumas considerações e preocupações foram apontadas: o PMN precisa ser melhor conhecido e chegar às bases (grupos, pastorais, movimentos, paróquias, Congregações, seminários, comunidades de vida); o processo formativo não pode ser reduzido apenas à questão intelectual (formação e curso não são as mesmas coisas); o processo formativo deve ser integral, gradual, vivencial, permanente, respeitoso e considerar as dimensões: humana, comunitária, espiritual, intelectual e pastoral missionária (DAp 278-281; PMN, p. 44); precisa se inspirar na pedagogia de formação de discípulos missionários conforme o DAp 278; que na elaboração da proposta formativa se leve em consideração as 61 sugestões de ações, colhidas no processo de preparação do PMN, nos 18 Regionais.
Algumas considerações básicas sobre a formação
Pe. João Batista Libânio, no artigo “Formação dos discípulos missionários” (Vida Pastoral, n. 261, p. 25-31), partindo da realidade atual e das orientações da Conferência de Aparecida, apresenta uma bela reflexão que serviu de inspiração para o trabalho dos membros do GT.
A estrutura básica de toda formação eclesial apoia-se no tripé: Palavra de Deus, vida sacramental e prática da caridade (Isso vale também para o processo de formação missionária).
O encontro do discípulo com Jesus Cristo pede aprofundamento pelo conhecimento e meditação da Palavra e pela vida sacramental, a fim de desabrochar em prática missionária. A vida sacramental, assim como a leitura e a meditação da Palavra, conduz à prática. Esta se faz ao anunciar aos outros sua experiência de Jesus, por quem foi seduzido o discípulo. Com a convicção de tal vivência, ele tem energia para comunicá-la a outros. Contudo, isso não basta. Como consequência de tudo isso, se faz necessária uma práxis cristã que transforme a realidade de injustiça em justiça, de ódio em amor, de segregação em comunhão, de discriminação em acolhida, de morte em vida. E a vida de Cristo, que ele anuncia, abraça toda a realidade humana até a comunhão com Deus trino. […].
O encontro com Cristo renova os nossos relacionamentos humanos, orientando-os, no dia-a-dia, para uma maior solidariedade e fraternidade, na lógica do amor. Ter fé no Senhor não é algo que interessa unicamente à nossa inteligência, ao campo do saber intelectual, mas é uma mudança que compromete a vida, a totalidade do nosso ser: sentimento, coração, inteligência, vontade, corporeidade, emoções e relacionamentos humanos. A fé muda verdadeiramente tudo em nós e para nós, e revela-se com clareza o nosso destino futuro, a verdade da nossa vocação no interior da história, o sentido da vida, o gosto de sermos peregrinos rumo à Pátria celeste. […].
Todo fiel tem o direito de exigir que a paróquia ou a comunidade eclesial de base sejam verdadeiros lugares de formação, particularmente nas diversas catequeses, cursos, movimentos pastorais e ainda mais especialmente nas celebrações. Esses são o lugar por excelência da formação do discípulo missionário .
Referenciais bíblicos e do magistério da Igreja para o processo de formação
Entre os diversos textos inspiradores, o GT escolheu referenciais que podem guiar, motivar e orientar o serviço de formação missionária a ser prestado:
“Meus filhos, por quem sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gl 4,19).
“Tende em vós o mesmo sentimento (a mesma opção de fundo) de Cristo Jesus” (Fl 2,5).
“Seguindo a verdade em amor, cresceremos em tudo em direção àquele que é a Cabeça, Cristo, cujo Corpo, em sua inteireza, bem ajustado e unido por meio de toda junta e ligadura, com a operação harmoniosa de cada uma das suas partes, realiza o seu crescimento para a sua própria edificação no amor” (Ef 4,15-16).
“Todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz partícipe de sua missão, ao mesmo tempo em que o vincula a Ele como amigo e irmão” (DAp 144).
“Quando cresce no cristão a consciência de pertencer a Cristo, em razão da gratuidade e alegria que produz, cresce também o ímpeto de comunicar a todos o dom desse encontro” (DAp 145).
Discipulado e missão são como as duas faces da mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos salva (cf. At 4,12)” (DAp 146).
O desenvolvimento prático dos três projetos da prioridade “Formação Missionária” está em fase avançada de elaboração, pelos membros do GT e, em breve, deve ser oferecido à Igreja no Brasil. Acreditamos em sua grande utilidade e proveito para as pessoas diretamente envolvidas com os processos formativos, no que se refere à missionariedade. Além disso, servirá de instrumento para revisar, inovar e qualificar esses processos na Igreja no Brasil.
* Secretário nacional da Pontifícia União Missionária