Jovem fala da experiência do Missão sem Fronteiras

Por Mateus Libarino

“Procura ser um exemplo para quem crê”, lema da III Missão Sem Fronteiras me impulsiona a partilhar experiência de viver e perceber no rosto dos irmãos a alegria do evangelho de Cristo Jesus. Foram dias intensos e de profundas reflexões que nos tornaram membros do corpo das comunidades do município de Viamão (RS) e que nos convidam desde então a sermos testemunhas do amor de Deus.

Alegria já estampada no encontro dos diferentes sujeitos da missão: a Juventude Missionaria do Brasil e Paraguai. Que em uma singular ciranda promoveu em cada jovem um sentimento de acolhida fraterna do outro, em sua cultura, língua e valores, reavivando e fazendo ecoar aquilo que é intrínseco da missão: a universalidade.
Faço memoria aos primeiros dias da experiência que tanto contribuíram para nossa vivência naquelas comunidades, a partir de momentos de formação e retiro, sob a ótica de quatro eixos temáticos: caminho, encontro, partilha e envio.

tiago2Destaco o quão enriquecedor foi pra mim e acredito que para todos aqueles que vivenciaram. Primeiro pelo fato de nos situar no nosso próprio caminho, o “eu” e “minha historia”, repensando como a celeridade do mundo moderno nos afasta de nós mesmos, talvez seja esse, um dos estopins que nos distancia da consciência e do entusiasmo missionário e, por conseguinte, da promoção do reino de Deus.

Um segundo ponto que muito me inquietou e norteou para os desafios dos dias seguintes das visitas às famílias foi à percepção do outro, recordo do Papa Francisco que diz: “quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem” (EG 9). Volta e meia somos acomodados em uma zona que só nos faz enxergar aqueles que nos oferecem “vantagens” imediatas, esquecemo-nos de olhar ao nosso redor. O ato de reconhecer o outro e propor ser um sinal da presença de Deus em sua vida deve ser ação permanente em nós enviados de Cristo; que não se encerra em um evento, que não se reduz apenas aos que conhecemos ou que professam o nosso credo, pelo contrário deve romper as fronteiras que nos tornam apáticos aos sofrimentos promovidos pela desigualdade social, preconceito e intolerância sempre tão presentes na vida de muitos – recordemo-nos da samaritana.

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Ao lembrar-me do Passeio na Quinta da Estância, reafirmo mais uma vez a alegria de está com os irmãos de diferentes regiões do Brasil e aqueles do Paraguai, sentimento único. Rostos novos, mas que pareciam ser de toda uma vida. A juventude que se encontra na mesma identidade missionária, me senti em casa. As atividades lá desenvolvidas nos aproximaram ainda mais, proporcionaram crescimento pessoal e favoreceram o trabalho em grupo.

tiago5As visitas missionarias foram realizadas em comunidades urbanas e rurais. Iniciadas pela realidade rural, conhecemos um pouco da vida do povo do Assentamento Filhos de Sepé, fomos recebidos pelas lideranças da localidade que contaram um pouco de sua história de lutas em busca de uma terra para viverem. Durante as visitas a cada família daquele lugar pude pensar na dignidade da pessoa humana oportunizada pelo acesso a terra, em ocasião dos diversos relatos das pessoas acerca do seu modo de vida e dos frutos do seu trabalho. Muito do que testemunhei lá não aparece nos meios de comunicação predominantes, a nós endereçados diariamente, que ao contrário demonizam a luta pela democratização do acesso a terra e contribuem para o preconceito com aqueles que se organizam pela justiça social. Nas comunidades urbanas percebi, conforme dialogava nas famílias, aquilo é tão presente em nosso país, principalmente nas periferias: medo da violência, exclusão, poucos equipamentos públicos, falta de saneamento e acesso à saúde.

tiago6Em cada visita éramos tomados por um sentimento único, por vezes, apesar das inúmeras dificuldades, encontrei sorrisos largos que me fizeram dizer uma frase tão dita pelo amigo seminarista Israel “é fácil ser feliz”. Em outros momentos, me emocionei junto aqueles que nas suas angústias via em mim uma oportunidade de falar de suas dores, emprestei meus ouvidos e coração para acolher. O sentimento de transformação era mútuo, não por ação heroica minha, mas, por ação de Deus protagonista da missão.

Por fim, aproveito para externar gratidão a Deus por cada momento vivido, pelas pessoas da organização, pela família que me acolheu, pelos amigos da missão. Tenhamos a certeza que “toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros” (EG), que assim sejamos.

* Juventude Missionária Vitória da Conquista (BA)

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