Por Dom José Altevir da Silva, CSSp*
18 de maio de 2021
Hoje, mais do que nunca, sentimos a necessidade de cultivarmos a paz na família, dentro de casa. As notícias sobre violência tomam conta dos meios de comunicação social. Aumenta a cada dia em nossos municípios casos de violência contra crianças e adolescentes. O ideal é não deixar isso entrar dentro de nossa casa. O melhor jeito de impedir que a violência entre em nosso lar é tendo atitudes de paz. Mas, infelizmente, são muitos os casos, em que os abusos às crianças e adolescentes têm sua origem em meio àqueles que deveriam defender e proteger tais inocentes.
A Igreja nos ensina que a família é o eixo da humanidade, é o “patrimônio da humanidade”, como disse São João Paulo II. O futuro da sociedade e da igreja passa pela família, pois é ali que os filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor e a paz no seio familiar terá dificuldade para conhecê-los fora da família.
A sociedade como um todo não pode se furtar deste grande compromisso, ser promotora da paz no seio de nossas famílias. Neste sentido, a cada ano somos convidados a unir todas as forças vivas da sociedade, instituições, Igrejas, toda pessoa de boa vontade para lembrar a memória do crime bárbaro que chocou o país, ocorrido em 18 de maio de 1973, na cidade de Vitória, no Espírito Santo, contra a
vida de uma criança. Ficou conhecido como o “Caso Araceli”. Porque era o nome de uma menina de apenas oito aninhos, que teve todos os seus direitos violados, e o direito à vida, negado. Ela foi raptada, estrupada e morta por jovens de classe média alta daquela cidade. Foi feita uma campanha de mobilização contra o abuso sexual de criança e adolescente, e a cada ano se procura fazer memória da data para mobilizar, sensibilizar, informar e convocar toda a sociedade para participar da luta contra abuso e exploração sexual e garantir a toda criança e adolescente o direito ao seu desenvolvimento de forma segura e protegida.
É sabido que a violência sexual praticada contra criança e adolescente envolve vários fatores de risco e vulnerabilidade, quando se considera as relações de gênero, de raça/etnia, de orientação sexual, de classe social, de geração e de condições econômicas. Nessa violação, são estabelecidas relações diversas de poder, nas quais tanto pessoas e/ou redes utilizam crianças e adolescentes para satisfazerem seus desejos e fantasias sexuais e/ou obterem vantagens financeiras e lucros.
Nesse contexto, a criança ou adolescente não é considerada sujeito de direitos, mas um ser despossuído de humanidade e de proteção. É importante neste dia 18 de maio lembrar que a violência sexual contra meninos e meninas ocorre por meio do abuso sexual intrafamiliar ou interpessoal como na exploração sexual. Aqueles que seriam os primeiros a defender a criança, o adolescente, muitas vezes são os primeiros a explorar estas pequenas criaturas. Devido a relação de poder, e sendo que as ocorrências se dão mais com as meninas, fica difícil para as mães denunciarem tal situação, pois vai se formando um cenário tão desumano, onde as ameaças surgem por parte dos infratores, sem que os criminosos sejam de fato punidos.
Em nossos munícipios deve ter visibilidade a importância dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), que são unidades públicas que funcionam como porta de entrada, e para os pobres, às vezes, como única saída, com relação ao atendimento de pessoas em situação de risco social ou que tiveram seus direitos violados. Aqui segue o meu desejo e esperança de que os Conselhos municipais funcionem bem nos dez municípios que formam nossa amada Diocese. Pois grande é a vulnerabilidade de uma multidão de indefesos.
Apesar das lutas dos Direitos Humanos, da sociedade e das Igrejas, 18 de maio continua muito vivo e presente na vida de tantas Araceli Crespo de hoje, especialmente em nossa Amazônia. Peçamos a Deus, que por intercessão da criança Araceli Crespo, que tenha fim a impunidade e a violência sexual contra as crianças e adolescentes.
* Bispo da Diocese de Cametá (PA)