A Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil, inspirada na sua missão primordial de animar, coordenar e promover a Vida Religiosa Consagrada e no compromisso com os mais pequenos e excluídos, a exemplo de Jesus, se dirige a todos os irmãos e irmãs, leigos e leigas, consagrados e consagradas, com uma palavra de esperança e encorajamento.
Estamos atravessando tempos difíceis e desafiadores no Brasil e no mundo. A incapacidade do poder político de intervir de modo eficiente nas urgências e necessidades sociais para o bem do povo, sobretudo dos mais vulneráveis (LS, 58), ofusca e dificulta a compreensão da realidade e aprofunda as desigualdades e o sofrimento de milhões de brasileiros.
Presenciamos, com pesar, ameaças irresponsáveis ao estado de direito e à democracia. Decisões do poder executivo e parcelas do Congresso Nacional desconsideram o valor do diálogo com a sociedade. Vemos surgir Medidas Provisórias que mancham os princípios fundamentais da Democracia contidos na Constituição, como a reforma trabalhista que dificulta as condições de trabalho e reduz benefícios, o congelamento dos benefícios sociais, privatização de empresas e a MP 910/19 que estabelece regularização perversa para o assentamento dos povos originários e tradicionais.
As intrigas e as polarizações políticas que estamos assistindo, que desautorizam e retardam as medidas necessárias em meio à pandemia, deixam-nos com o coração apertado diante das incontáveis perdas humanas tratadas com descaso, em um momento em que todos deveriam estar unidos pela proteção e causa comum.
E o que dizer das comunidades mais afetadas pelo isolamento, pela queda de receitas, pela impotência diante do sofrimento dos mais pobres?
Tal sofrimento nos mantém de braços erguidos diante do Deus da vida para renovar a esperança que alimenta a alegria de servir, fortalece nossa fé e nos encoraja para continuar trabalhando em parceria com todos os homens e mulheres que sonham com a conversão social, cultural, ecológica e eclesial (cf. Exortação Apostólica “Querida Amazônia”), concretizando o Evangelho, como a “força Salvadora de Deus” (Rm 1,16).
Estamos de acordo com o isolamento social, o apelo para “ficar em casa”, bem como uso de máscaras, cuidados higiênicos e outras orientações ditadas pelos competentes órgãos nacionais e internacionais de saúde pública. O momento exige de nós senso crítico, diante das notícias, unidade e colaboração, cada um(a) fazendo sua parte.
Nós, Vida Religiosa Consagrada, estamos conscientes de que “não somos Deus” (LS, 67), embora possamos colaborar de forma efetiva e afetiva na grande obra da criação.
Estamos comprometidos (as) com a vida plena, com a busca sincera da verdade e com a justiça social. Louvamos e agradecemos aqueles(as) que buscam salvar vidas, com iniciativas que socorrem os mais vulneráveis, sustentando os mais frágeis, em todas as suas dimensões.
Que o Senhor ressuscitado continue nos alimentando com a Palavra que aquece o coração e com o Pão partilhado para a vida do mundo. Este tempo passará, e não seremos mais os(as) mesmos(as). A normalidade não será um simples retorno ao passado e sim a certeza de novos céus e novas terras.
Estas nossas palavras se somam à nota da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com data de 11\04, sobre a gravidade da injustiça que está embutida na Medida Provisória 910\19 caso seja aprovada nos termos em que o Poder Executivo apresentou ao Congresso Nacional.
Temos diante de nós uma grande oportunidade de sermos mais fraternos(as), humildes e santos(as). Jesus nos afirma: “Tende coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). Prossigamos na esperança, sob a materna proteção da Mãe Aparecida, celebrada hoje sob o título de Nossa Senhora de Fátima.
Brasília, 13 de maio de 2020
Ir. Maria Inês V. Ribeiro, mad – Presidente
e Diretoria da CRB Nacional
Ir. OIavo Dalvit, fsc
Ir. Maria José B. dos Santos, bdp
Pe. Nivaldo Pessinatti, sdb
Ir. Ana Teresa Pinto, fma
Ir. Elliene O.Barros, ibp
Pe. Antônio R.Moura Neto, osj
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