Mês Missionário Extraordinário impulsiona a missão

Por Pe. Maurício da Silva Jardim *

O Papa Francisco, em 22 de outubro de 2017, durante o ângelus, anunciou a intenção de proclamar um Mês Missionário Extraordinário para celebrar o centenário da carta Apostólica Maximum Illud de seu predecessor, o Papa Bento XV. Nesse mesmo dia, o santo Padre enviou uma carta ao Cardeal Fernando Filoni, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, e presidente do comitê supremo das Pontifícias Obras Missionárias (POM), encomendando “a tarefa de preparar esse evento, especialmente por meio da ampla sensibilização das Igrejas particulares, dos Institutos de vida consagrada e Sociedades de vida apostólica, assim como associações, movimentos, comunidades e outras realidades eclesiais”.

No Brasil, o processo de preparação do Mês Missionário Extraordinário tem repercutido na pastoral ordinária e na maior conscientização da missão ad gentes nas Igrejas particulares, nos diferentes sujeitos da missão: Pontifícias Obras Missionárias, congregações religiosas, organismos, pastorais, movimentos eclesiais, novas comunidades, conselhos missionários e comissões. As propostas de preparação do Mês Missionário, apresentadas pelo Grupo de Trabalho e aprovadas pelo Conselho Permanente da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil, estão sendo acolhidas progressivamente.

A temática “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo”, e o objetivo “despertar em medida maior a consciência da missão ad gentes e retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral”, desencadeiam processos de um novo impulso missionário nas comunidades de fé e, ao mesmo tempo, ajudam a “pôr a missão de Jesus no coração da Igreja, transformando-a em critério para medir a eficácia de suas estruturas, os resultados de seu trabalho, a fecundidade de seus ministros e a alegria que eles são capazes de suscitar. Porque sem alegria não se atrai ninguém” (Papa Francisco, Reunião do Comitê diretivo do CELAM, Bogotá, 7 de setembro de 2017).

O primeiro propósito do Mês Missionário Extraordinário “é despertar em medida maior a consciência da missão ad gentes”. O próprio logotipo indica a cruz missionária que abraça o mundo. O foco central, portanto, está em colocar a dimensão universal da missão no centro, como indicado na Evangelii Gaudium, o paradigma de toda a obra pastoral da Igreja (EG 15). As palavras de Jesus: “Vão, portanto, e façam discípulos todos os povos” (Mt 28,19), constituem o programa desta “missão primordial e essencial da Igreja”, que “ainda hoje representa o máximo desafio” por ser “a primeira de todas as causas” (EG 15).

A missio ad gentes, entendida como missão junto aos povos não cristãos no contexto sociocultural deles, implica viver com gratidão no meio desses povos, aprender a falar a língua deles, partilhar o Evangelho com a vida e a palavra, e formar comunidades encarnadas seguidoras de Jesus. Para além da territorialidade, a missio ad gentes também é entendida como “missão nos ambientes humanos, culturais e religiosos ainda alheios ao Evangelho de Jesus, e a presença sacramental da Igreja constituem as periferias extremas, os ‘últimos confins da terra’, para onde, desde a Páscoa de Jesus, são enviados os seus discípulos missionários, na certeza de terem sempre o seu Senhor com eles (cf. Mt 28, 20; At 1, 8). Isso é o que chamamos de missio ad gentes” (Discurso do Papa Francisco no Dia Mundial da Missões, 2018).

A missio ad gentes se concretiza com o envio além-fronteiras de missionárias e missionários devidamente preparados. Para além de definir o que é a missão ad gentes, tal enfoque ocasiona questionarmos qual é a sua relevância hoje para a Igreja e para o mundo, e quais são as implicações para a nossa caminhada de discípulos-missionários.

O segundo propósito do Mês Missionário Extraordinário atinge o âmbito da pastoral ordinária: “retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral”. Nesse âmbito, a ideia central no processo de preparação é inserir dentro da programação ordinária e habitual das Igrejas locais, a temática e o espírito do Mês Missionário, visando a renovação missionária de tudo o que fazemos na obra evangelizadora. Será uma ocasião para despertar, animar e não cansar as comunidades, “de modo que todos os fiéis tenham verdadeiramente a peito o anúncio do Evangelho e a transformação das suas comunidades em realidades missionárias e evangelizadoras; e aumente o amor pela missão, que é uma paixão por Jesus e, simultaneamente, uma paixão pelo seu povo” (Carta do Papa Francisco ao Cardeal Filoni, 22 de outubro de 2017).

Ainda no âmbito da pastoral ordinária, é fundamental incendiar os corações dos fiéis que já participam da comunidade, para que cresçam na fé e no discipulado missionário. São várias propostas apresentadas no Guia do Mês Missionário Extraordinário, publicado pelas edições CNBB. Para motivar as dioceses e comunidades, os arcebispos e bispos receberão na Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida, além do Guia, a Cruz Missionária e a bandeira com o logo produzido pelo Vaticano. Esses símbolos irão percorrer as Arqui(dioceses) para animar e despertar a identidade missionária das comunidades, num caminho de permanente saída e conversão. Há previsão de data de abertura do Mês Missionário conforme os diferentes âmbitos, contudo não teremos data de encerramento, pois a missão é permanente e não se conclui na Igreja. Que a temática “Batizados e enviados: A Igreja de Cristo em missão no mundo” seja nosso guia nos caminhos da missão.

* Diretor Nacional das POM

 

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