Por Kika Alves*
Nos dias 03 a 24 de janeiro, 13 missionários da diocese de Franca (SP) estiveram na diocese-irmã Bom Jesus do Gurguéia (PI) para uma visita missionária nas paróquias Nossa Senhora Aparecida (Alvorada do Gurguéia), Nossa Senhora das Mercês (Palmeira do Piauí), Divino Salvador (Cristino Castro) e São Francisco de Assis (Santa Luz).
Nos primeiros dias os missionários ficaram em Bom Jesus, cidade sede da diocese, e foram acolhidos por dom Marcos Antônio Tavoni, bispo diocesano. A formação foi conduzida por dom Esmeraldo Barreto, bispo auxiliar de São Luis do Maranhão e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB, e dom Eduardo Zielski, bispo de São Raimundo Nonato (PI) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária do Regional Nordeste IV. Os bispos puderam partilhar deste momento com os participantes do Conselho Missionários de Seminaristas (COMISE), formado por seminaristas do Piauí e da Amazônia, que também fizeram missão na Diocese em janeiro, porém em outra região.
A acolhida em cada uma das cidades foi muito carinhosa. Os missionários ficaram poucos dias em cada paróquia/comunidade, mas foi o suficiente para conhecer um povo muito acolhedor e de muita fé, com um belo testemunho de vida e de religiosidade. Todos os missionários esperam voltar com mais tempo em cada lugar para conhecer mais e melhor. A missa de encerramento foi na paróquia São Francisco de Assis em Santa Luz, lugar onde atua o padre José Manoel da Diocese de Franca, que está há 11 anos em missão na Diocese-Irmã.
A viagem durou seis dias, contando ida e volta, oportunizando momentos de partilha, união e confraternização dos missionários que voltaram para suas casas felizes e animados para mais um ano na presença de Deus, tendo sempre na mente e no coração essa Igreja em saída, que vai ao encontro do próximo para partilhar do grande amor que Deus.
Meu testemunho:
Dois dias antes da viagem eu liguei para o dom Paulo, bispo diocesano de Franca, querendo desistir de tudo porque eu achava que alguns acontecimentos eram um sinal de que a gente não deveria ir. Ele, como um verdadeiro pastor e eu vou além, como um pai, ouviu e acalmou. Disse que Deus não desampara aqueles que escolhe, que seria uma experiência única podermos partilhar de nossa pobreza com um povo que nos esperava com ansiedade e alegria, e que nosso grupo ficaria mais unido para viver tudo que nos aguardava. Hoje eu digo, com lágrimas nos olhos, que ele estava certo. Eu nem quero imaginar quanta benção eu teria perdido se tivesse ficado aqui, com meu medo, com minhas incertezas, com meu comodismo e minha falta de confiança.
Eu quis escrever esse texto logo que cheguei em casa porque tudo ainda está muito vivo na minha memória. Mas eu nunca vou conseguir transmitir a imensidão de cada abraço que eu recebi, de cada sorriso, cada lágrima, cada olhar, cada história partilhada. Nem as fotos vão revelar tudo que passamos em cada paróquia, cada comunidade.
Mas eu preciso partilhar que estou me sentindo uma filha muito amada de Deus porque mesmo com todas as minhas faltas, que não são poucas, Ele me permitiu viver mais uma experiência que dá cada dia mais sentido à minha vocação missionária.
Engana-se quem pensa que a gente vai lá evangelizar um povo que não conhece Deus, pelo contrário, eles têm uma fé que muitas vezes nos comove. A gente vai pra dividir um pouco do que temos a oportunidade de conhecer aqui.
E quem pensa que é um povo pobre e sofrido se engana também, pois eles têm dificuldades sim, como nós também temos, mas vivem em paz, sem medo da violência, sem precisar desconfiar até da sombra, sem agitação. Há muita fartura de alimentos (frango, porco e ovo caipiras, tomate sem gosto de agrotóxico, farofa com carne, carne de sol, cuscuz, beju…) e, nessa região que visitamos, tem muita água e de ótima qualidade. Quando saímos de lá já começamos a comentar da saudade dos doces (Buriti, Caju…) e dos sucos de fruta (manga, caju, umbu, acerola, cajá, goiaba, maracujá…). Isso sem falar nas frutas (araçá, siriguela, pitomba, melancia, meloa…). Nossa, eu poderia citar tantas coisas!
Eu já estou com saudade de todos os lugares e todas as pessoas! Fui acolhida por 8 famílias diferentes e hoje eu me considero filha de cada uma delas. Visitei um incontável número de casas e em todas fui recebida com muito carinho. Fiz novas amizades que quero levar pra vida.
Estou com saudade do céu estrelado, do vento que era como um bálsamo para o calor, do silêncio que só é quebrado por uma família rindo e conversando ao final de um dia.
Enfim, foi um tempo curto, que pudemos ficar pouco em cada lugar, mas foi muito abençoado e feliz. Uma frase que ouvi no 4º Congresso Missionário Nacional marcou para mim essa missão: “Se o coração não arde, os pés não andam”. Andei muito mas meu coração está transbordando de felicidade.
Missão não é teoria, é pratica. Não é uma opção, é prioridade. Não é mais uma atividade, é sair para semear a semente que já foi plantada em nosso coração!
* coordenadora do Conselho Missionário Diocesano (COMIDI) da diocese de Franca (SP)