“Gostaria de poder visitar o Santuário de Aparecida”: com estas palavras, o papa se dirige aos bispos de toda a América Latina, reunidos na Assembleia do CELAM, Conselho Episcopal Latino-americano em São Salvador, El Salvador, de 9 a 12 de maio.
A mensagem de Francisco é inteiramente inspirada na Padroeira do Brasil, da qual este ano se celebram 300 anos do achado, nas águas do Rio Paraíba (SP).
Definindo Aparecida como “uma escola de discipulado”, o Papa releva três aspectos daquele acontecimento, começando pelos pescadores que encontraram a imagem:
“Um grupo de homens que sabiam enfrentar as incertezas do rio, que viviam na insegurança de não ter o que levar para seus filhos. Conheciam a ambivalência entre a generosidade do rio e a agressividade de suas ondas e a inclemência de um dos pecados mais graves que castiga nosso continente: a corrupção. A corrupção, como um câncer, está corroendo a vida cotidiana dos povos”.
O segundo aspecto é a Mãe. “No relato de Aparecida, a encontramos suja de lama no rio. Ali ela esperava seus filhos, em meio a suas lutas e anseios. Maria estava ali, onde os homens tentam ganhar suas vidas”.
E enfim, o papa ressalta o encontro. Depois de restaurá-la e limpá-la, os pescadores a levaram para casa, um lar aonde os moradores da região iam encontrá-la. “Esta presença se fez comunidade, Igreja. As redes não se encheram de peixes, se transformaram em comunidade”.
Hoje, 300 anos depois, como filhos, somos chamados a escutar e aprender o que aquele acontecimento continua a nos dizer:
“Aparecida não traz receitas mas chaves, critérios, pequenas grandes certezas para iluminar e sobretudo, acender o desejo de nos despojar de todo o desnecessário e voltar às raízes, ao essencial, à atitude que fez de nosso continente a terra da esperança. Aparecida renova nossa esperança em meio a tantas inclemências”, frisa o papa.
Em seguida, Francisco convida os bispos latino-americanos a aprender a escutar e conhecer o Povo de Deus, dando-lhe a importância e o lugar merecidos.
“Isto significa despojar-nos de nossos preconceitos, racionalismos e esquemas funcionalistas para conhecer como o Espírito atua no coração deste homens e mulheres. Como temos a aprender da fé desta gente; a fé de mães e avós que não têm medo de se sujar, pois sabem que o mundo está cheio de injustiças, onde a impunidade da corrupção continua cobrando vidas e desestabilizando cidades”.
A partir daí, segue a exortação do papa: “Não tenhamos medo de arriscar e nos comprometermos com os ‘sujos’… isto não é heroicidade… nem ser kamikazes… Somente deixando de ser auto-referenciais seremos capazes de nos re-centrarmos Naquele que é fonte de Vida e Plenitude”.
Concluindo, Francisco lembrou a passagem da exortação Evangelii Gaudium:
“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’” (Mc 6, 37).
Na conclusão, o papa Francisco lembra. “Na medida em que nos envolvermos com a vida de nosso povo fiel e sentirmos a profundidade de suas feridas, podemos ver, sem filtros clericais, o rosto de Deus”.
Fonte: Rádio Vaticano