Neste dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, queremos destacar uma experiência missionária transformadora. Helena Pereira, 66 anos, é leiga missionária. Mulher corajosa e destemida. Seu coração movido pelo ardor missionário a levou para viver uma experiência junto ao povo de Moçambique, um dos países mais pobres do mundo. Helena integrou a equipe de missionários do Regional Sul 1 da CNBB, com sede na Diocese de Pemba, num trabalho que apoia grupo de mulheres e de crianças, com presença marcante nas comunidades. Recentemente retornou ao Brasil, após uma experiência de 5 anos. Acompanhe a entrevista realizada pelo site das Pontifícias Obras Missionárias:
Você foi enviada como missionária para Moçambique por qual projeto ou Instituição?
Inicialmente eu fui por um convite do então Bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa, que veio ao Brasil e foi visitar o curso para missionários ad gentes em Brasília, curso que eu estava participando, pois me preparava para ir à Amazônia. Foi ai que mudei de rota sem pensar muito e aceitei fazer essa experiência na África. Então foi um acordo entre o Bispo da Diocese de Guarulhos, Dom Edmilso, que é a minha Diocese, Dom Luiz Fernando e eu. Mas logo depois alguns membros do Regional Sul 1 da CNBB foram em Pemba para concretizar o projeto que já havia sido planejado, assim passei a integrar ao projeto Sul 1 Pemba, como também outros missionários que foram chegando.
Quais foram as motivações que impulsionaram a viver essa experiência missionária fora do Brasil?
Há mais de 30 anos participando de várias pastorais da Igreja, passei também a participar de encontros de formação missionária estadual, cursos, congressos, lendo artigos em revistas sobre missão, participei de experiências missionárias na Amazônia e no sertão da Bahia, tive contato com testemunhos de missionários… Isso foi criando em mim um desejo de fazer uma experiência além-fronteiras e acabei indo além continente, além oceano.
Como foi a acolhida que você recebeu do povo em Moçambique, na região de Cabo Delgado, na Diocese de Pemba?
Eu fui muito bem recebida, é uma festa para o povo nas comunidades quando chega um missionário, ficam muito felizes, se sentem muito animados com a presença de pessoas de fora, são muito acolhedores, são carismáticos e isso nos cativa muito. Também a diocese, os missionários, a Igreja como um todo, muito acolhedores, vários missionários de diversos países e congregações, isso me ajudou muito na adaptação.
Quais projetos você atuava no local?
Na verdade eu fui designada a uma missão específica: a de cuidar, acolher, hospedar os missionários no Paço Episcopal. O Paço Episcopal é a sede da diocese é a casa do bispo, é a casa de hospedagem de todos os que vão para a cidade por diversos motivos, como doentes em busca de tratamento, documentação, compras etc. Também hospeda os superiores de diversos países que vão visitar as suas respectivas congregações, visitantes, convidados, enfim é uma casa que passa muita gente. Também atuei na comissão Bíblia Evangelização e Missão, na qual organizamos e realizamos as visitas missionárias nas comunidades. E além disso, tem um grupo de mulheres com as quais nos encontramos a cada 15 dias, temos dois momentos: uma reflexão bíblica com o tema Jesus e as mulheres, refletindo a mensagem tirada da palavra. Outro momento é a partilha de vida à luz daquela palavra cada uma das mulheres coloca um pouco de suas vidas, suas famílias, suas histórias, suas culturas… então isso me ajudou muito, me enriqueceu no conhecimento da vida familiar local.
Momentos com crianças em que fazíamos brincadeiras, danças, gincanas e distribuição de roupas, brinquedos, encerrando com o almoço com a ajuda e organização dos missionários locais. Isso em épocas como: dia das crianças, natal das crianças, páscoa das crianças. Também ajudava na construção e motivação de fornos para fabricação de pães para as mulheres terem condições de ter seu dinheirinho. Esse tipo de atividade foi muito importante, porque promoveu alegria e ao mesmo tempo muita gratidão por poder favorecer aqueles momentos às pessoas.
Por ser uma região de grandes conflitos, havendo muitos deslocados e desaparecidos nas comunidades, como você conseguiu superar o medo para estar integralmente na missão?
Vivemos em um contexto de conflitos com muitos ataques, a gente convive com muitas realidades tristes. Ouvi relatos de missionários que se hospedam na casa, alguns também deslocados, notícias das mulheres do grupo que traziam das famílias atingidas pela dor da morte, das desaparecidas, dos deslocados e o que se via nas ruas. Isso tudo é muito difícil para a gente superar o medo. O que eu fiz foi rezar, na confiança que sempre senti no apoio da família e amigos pela oração, para tentar ter um equilíbrio para que isso não me absorvesse, embora isso tenha custado muito, foi difícil viver tudo isso e ao mesmo tempo não ser indiferente ao sofrimento das pessoas e estar sempre disposta a viver, e viver bem a missão.
Houve algum acontecimento que marcou sua trajetória no país?
Sim, houve vários momentos marcantes mas eu destaco um. Foi quando surgiu uma conversa em Pemba que nós seríamos atacadas. Isso gerou uma confusão muito grande, desestabilizou as pessoas, criou um pânico geral, quase como que um terrorismo psicológico. Isso no comércio, nos moradores, nos missionários nas organizações. Vários desses, inclusive moradores do local, voltaram para seus respectivos países, províncias e cidades. Diante desse contexto, eu resolvi ficar e não me arrependi, mesmo passando dias em uma casa, dias na casa de outra, e por aí vai. Com a ajuda de algumas congregações, alguns missionários, nós nos apoiávamos uns nos outros e assim enfrentamos a situação, com medo mas com a certeza de estarmos juntos. Saímos mais fortalecidos daquela situação.
Que mensagem de motivação você deixa para aqueles que desejam viver uma experiência ad gentes?
Não ter medo do medo, porque o medo deve fazer parte da nossa vida, é constante em toda e qualquer circunstância que vivamos, não super valorizá-lo. O medo de forma equilibrada nos torna mais prudentes. Vá de coração aberto, despojado, sem maiores ambições. Além disso, lembro que o Papa Francisco nos motiva a “esperançar” a ser esperança para si mesma e para os que nos rodeiam. A missão é árdua, mas prazerosa.