Por Dom Esmeraldo Barreto de Farias e Pe. Roberto Veras
O medo paralisa a esperança. Quando isso acontece, estagnamos, ficamos impedidos de ir ao encontro do Projeto de Deus para a nossa vida, as nossas realidades, não damos testemunho da Luz que ilumina e dá sentido aos nossos sonhos e ações.
Hoje, vivemos tempos difíceis e de incertezas, e desejar saber como será o amanhã se assemelha a atravessar a noite escura do medo. Por um lado, enxergamos a pandemia, que insiste em não passar completamente e segue fazendo milhares de vítimas, causando dores e luto silenciosamente. Por outro, convivemos com o flagelo da guerra na Ucrânia e em outros países, marcado, quase sempre, pelo jogo de interesses dos “senhores do mundo” que geram morte e tristeza. O perfume da morte penetra nossas narinas, vai diretamente ao nosso coração e paralisa nossos passos. Sentimo-nos impotentes, com mãos e pés atados.
Para onde seguir? Onde e como está nossa esperança de tempos melhores? Algo semelhante deve ter acontecido com os seguidores de Jesus após aquela sexta-feira pesada e escura na vida deles. Eles experimentaram o desencanto e a desilusão; a tristeza e o abandono. Mas não paralisaram. No encontro com Jesus, descobriram que a “Esperança não decepciona” e avançaram na certeza de que Cristo, o crucificado, ressuscitou. Com isso, eles nos ensinam que é preciso vencer as “sextas-feiras” escuras da vida, superar a incerteza de um futuro traumático e duvidoso e caminhar em direção à Luz, sinal de nossa esperança.
A noite da Páscoa é o limiar entre a noite e o dia, a morte e a vida, a tristeza e a alegria. O limiar entre o desânimo e a esperança, entre o vazio e a plenitude. É no romper do dia que nascem a vida e a esperança. As mulheres, que cuidaram de Jesus até o fim, levaram perfume para perfumá-lo e, ao chegarem ao sepulcro, inalaram o cheiro bom da vida que dali brotava e se tornaram as primeiras testemunhas do mistério da Ressureição. Elas se arriscaram, tiveram coragem, superaram o medo e constataram que aquele que buscavam entre os mortos, agora vive plenamente!
As respostas que buscamos não se encontram no sepulcro da morte, mas sim na vida, que é dom de Deus! Temos que fazer este movimento em direção à vida! A noite da Páscoa é marcada pelo movimento: move-se a pedra, movem-se as mulheres e move-se Pedro! É movendo-se que se remove o medo e se ressignifica a morte! Esse movimento se deu no coração das mulheres que, mesmo diante do vazio e do silêncio, acreditaram no que viram e ouviram e anunciaram aos outros. E a força presente em seu anúncio moveu o coração de Pedro, levando-o até o sepulcro, fazendo-lhe crer no que o Mestre lhes havia dito que ressuscitaria ao terceiro dia (Lc 9, 22).
A Páscoa pede que cada um de nós aprenda a crer. O acreditar coloca a vida em movimento e vence o medo! Acreditar na Ressureição é reconhecer que as dores, o medo, a morte apontam para a cruz, mas a cruz de Cristo transforma tudo isso em vida, abrindo um novo tempo, forjando em nós uma nova pessoa: transformada pela fé pascal, curada em seu interior, redimida e ressuscitada para uma vida nova em Cristo. Ao abraçar a cruz, Jesus deu sentido aos nossos sofrimentos. Esta é a experiência fundamental que devemos fazer na festa da Páscoa. Com o auxílio e pela força do Espírito Santo, à luz do Ressuscitado, transfiguram-se nossos sentimentos, move-se tudo que existe de negativo internamente e faz-se a passagem à luz, renovando nossa imutável esperança, pois onde havia luto, agora há consolação; onde havia morte, agora há vida.
Assim como fez com as santas Mulheres e o apóstolo Pedro, o Senhor nos ajude a superar o medo de anunciar. E como fazer isso? A seguinte história contada por um teólogo nos ajuda a compreender bem esta tarefa que o Senhor nos confia.
“Pedro pergunta ao Senhor Ressuscitado: É realmente a tua opinião, Senhor, que devemos pregar o Evangelho a todas as pessoas? Mesmo a estes pecadores que o martirizaram? Sim, Pedro, responde o Senhor. Ofereça-lhes primeiro o Evangelho. Vá em busca daquele homem que cuspiu na minha cara. Diga-lhe que eu o perdoo. Procure o homem que me colocou a coroa de espinhos na testa. Diga-lhe que tenho uma coroa pronta para ele no meu reino, se ele aceitar a salvação. Procura o homem que tirou a cana da minha mão e me bateu com ela. Dar-lhe-ei um cetro, e ele se sentará comigo no meu trono. Procure o homem que me bateu na cara com a sua mão. Diga-lhe que o meu sangue o limpa de todo o pecado e que também foi derramado por ele. Procure o soldado que empurrou sua lança no meu lado e lhe diga que há um caminho mais próximo do meu coração do que este!”
Assim, fazendo a experiência da Páscoa de Jesus Cristo, poderemos melhor suportar as sextas-feiras pesadas de nossas vidas e das realidades em que vivemos, mover nosso coração em direção ao outro, especialmente aos que vivem nas periferias, tornando-nos mais sensíveis, disponíveis e solidários, inspirando o perfume da salvação que impregna e dá sentido ao nosso ser e agir. Esse é o caminho do discípulo missionário(a)!
Uma feliz Páscoa a todos e todas!