Diretora das Pontifícias Obras Missionárias do Brasil, Ir. Regina da Costa Pedro, religiosa da Congregação das Missionárias da Imaculada, destaca contribuição do pontífice para a valorização da voz das mulheres na vida eclesial.
Com a partida do Papa Francisco, a Igreja recorda com gratidão a vida de um pastor que transformou corações e guiou o povo de Deus com coragem, escuta e misericórdia. Entre os muitos aspectos de seu pontificado, destaca-se o esforço por tornar a Igreja mais sinodal, inclusiva e atenta às vozes socialmente invisibilizadas — especialmente a das mulheres.
Para Ir. Regina da Costa Pedro, diretora das POM do Brasil, um dos maiores legados do Papa Francisco foi justamente o espaço que ele abriu para a participação feminina na vida da Igreja. “Falar do legado do Papa Francisco para a nossa Igreja seria um assunto para muita conversa. Mas é muito bonito pensarmos no legado que ele deixa para nós, mulheres, e a nossa participação na vida da Igreja”, afirmou a religiosa.
A partir do conceito de sinodalidade, que marcou fortemente o pontificado de Francisco, Ir. Regina destaca a importância do que chamou de “dívida de escuta”, expressão que surgiu fortemente durante as reflexões do Sínodo da Sinodalidade. O Papa reconheceu que a Igreja havia deixado de escutar muitas pessoas, e entre essas, as mulheres estavam no topo da lista. “O Papa Francisco, reconhecendo essa dívida de escuta da Igreja para com as mulheres, quis ouvi-las. E eu sou testemunha disso”, pontua.
Mulheres assumem espaços de decisão
Primeira mulher a assumir a direção das Pontifícias Obras Missionárias no Brasil, Ir. Regina simboliza, com sua própria trajetória, os frutos concretos desse novo tempo na Igreja. Sua nomeação histórica reflete o caminho de abertura e valorização das mulheres promovido por Francisco, inspirando outras lideranças femininas a assumirem com coragem e fé papéis decisivos na missão da Igreja.
Durante seu pontificado, Francisco nomeou diversas mulheres para cargos estratégicos no Vaticano e criou espaços de escuta específicos, como os quatro encontros realizados entre as sessões do Sínodo da Sinodalidade, organizados especialmente para ouvir mulheres. Esses encontros reuniram mulheres com diferentes competências e origens, discutindo temas variados, sempre com o objetivo de refletir sobre a contribuição específica que a mulher pode oferecer à Igreja.
Para Ir. Regina, essas ações revelam uma mudança profunda: “Uma Igreja que ouve as mulheres, como o Papa Francisco quis fazer, é uma Igreja que se torna mais justa e inclusiva. Uma Igreja mais forte, mais viva, mais rica. E, sobretudo, uma Igreja que se abre para ouvir o que o Espírito tem a dizer através da nossa voz, através da nossa vivência.”
Além das escutas e espaços de diálogo, o Papa Francisco também concretizou avanços institucionais importantes ao nomear mulheres para funções antes ocupadas exclusivamente por homens. Durante seu pontificado, ele indicou leigas e religiosas para cargos de destaque na Cúria Romana, como no Dicastério para os Bispos, na Secretaria para a Economia, e em outras estruturas decisivas do governo da Igreja.
A primeira mulher nomeada por Papa Francisco para liderar um importante departamento da Cúria Romana foi a irmã italiana Simona Brambilla. Em 6 de janeiro de 2025, ela foi designada prefeita do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita na estrutura central de governo da Igreja Católica.
Essas nomeações não apenas romperam barreiras históricas, mas sinalizaram um compromisso com uma Igreja mais corresponsável e representativa, onde a liderança das mulheres é reconhecida como essencial para o testemunho do Evangelho no mundo contemporâneo.
A despedida de Francisco é marcada por gratidão. Como conclui Ir. Regina: “Muito agradecida, Papa Francisco, você nos ouviu.”