Papa no Egito: somos chamados a caminhar juntos

O papa Francisco proferiu seu primeiro discurso em terras egípcias, nesta sexta-feira (28), aos participantes da Conferência Internacional pela Paz promovida pela Universidade sunita de Al-Azhar, no Cairo.

“É um grande dom estar aqui e iniciar neste lugar minha visita ao Egito, nesta Conferência Internacional pela Paz. Agradeço ao Grande Imã por tê-la pensada e organizada e por me convidar”, disse Francisco.

O papa ressaltou em seu discurso, que o Egito se mostrou ao mundo, ao longo dos séculos, “como terra de civilização e terra de alianças”.

Terra de civilização porque desde tempos antigos, “a civilização surgiu das margens do Nilo e foi sinônimo de civilização. No Egito, se elevou a luz do conhecimento, fazendo germinar um patrimônio cultural inestimável, composto de sabedoria e sagacidade, de aquisições matemáticas e astronômicas, de formas maravilhosas de arquitetura e arte”.

“A busca do saber e do valor da educação foram escolhas fecundas de desenvolvimento empreendidos pelos antigos habitantes desta terra. São também escolhas necessárias para o futuro, escolhas de paz e pela paz, pois não haverá paz sem uma educação adequada das novas gerações. Também não haverá uma educação adequada para os jovens de hoje se a formação a eles oferecida não responder à natureza do homem, ser aberto e relacional.”

Segundo Francisco, “a educação se torna sabedoria de vida quando é capaz de extrair do ser humano, em contato com Aquele que o transcende e com tudo o que o circunda, o melhor de si, formando uma identidade não voltada para si mesma. A sabedoria procura o outro, superando a tentação de se enrijecer e se fechar; aberta e em movimento, humilde e curiosa ao mesmo tempo”.

“A sabedoria sabe valorizar o passado e colocá-lo em diálogo com o presente, sem renunciar a uma hermenêutica adequada. Esta sabedoria prepara um futuro em que não se mira ao prevalecer da própria parte, mas ao outro como parte integrante de si. A sabedoria não se cansa, no presente, de encontrar ocasiões de encontro e partilha; do passado se aprende que do mal vem somente o mal e da violência somente a violência, numa espiral que termina por aprisionar. Esta sabedoria coloca no centro a dignidade do ser humano, precioso aos olhos de Deus, e uma ética digna do homem.”

“No campo do diálogo, especialmente inter-religioso somos sempre chamados a caminhar juntos, na convicção de que o futuro de todos depende também do encontro entre religiões e culturas. Neste sentido o trabalho da Comissão mista para o diálogo entre o Pontifício Conselho para o Diálogo inter-religioso e a Comissão de Al-Azhar para o Diálogo nos oferece um exemplo concreto e encorajador”, disse ainda o Papa Francisco.

Três orientações fundamentais podem ajudar o diálogo: o dever da identidade, a coragem da alteridade e a sinceridade das intenções. “O dever da identidade, porque não é possível iniciar um diálogo verdadeiro baseado na ambiguidade ou no sacrificar o bem para agradar a outro; a coragem da alteridade, porque quem é diferente de mim, culturalmente ou religiosamente, não deve ser visto e tratado como um inimigo, mas acolhido como um companheiro de viagem, na convicção genuína de que o bem de cada um reside no bem de todos; sinceridade de intenções, porque o diálogo, como expressão autêntica do ser humano, não é uma estratégia para alcançar segundas intenções, mas uma forma de verdade que merece ser pacientemente realizada para transformar a competição em colaboração.”

Egito, terra de alianças.
Educar para a abertura respeitosa e ao diálogo sincero com o outro, reconhecendo os direitos e as liberdades fundamentais, especialmente a religiosa, é a cia melhor para edificar juntos o futuro, para ser construtores de civilização.

No Egito, não surgiu somente o sol da sabedoria; também a luz policromática das religiões iluminou esta terra: ao longo dos séculos, “as diferenças de religião constituíram uma forma de enriquecimento recíproco a serviço da comunidade nacional”. Credos diferentes se encontraram e várias culturas se misturaram, sem se confundir, mas reconhecendo a importância de aliar-se para o bem comum. Tais alianças são ainda mais urgente hoje. Ao falar sobre isso, eu usaria como símbolo a “Montanha da Aliança” que sobe nesta terra. O Sinai nos lembra que uma aliança autêntica sobre a terra não pode prescindir do Céu, que a humanidade não pode encontrar paz excluindo Deus do horizonte, e nem pode subir à montanha para e apoderar de Deus.”

“Num mundo que globalizou muitos instrumentos técnicos úteis, mas, ao mesmo tempo tanta indiferença e negligência, e que corre numa velocidade frenética, dificilmente sustentável, sente saudade daquelas grandes perguntas de sentido, que as religiões fazer recordar e que suscitam a memória das próprias origens: a vocação do homem, criado não para se exaurir na precariedade de assuntos terrenos, mas para caminhar em direção ao Absoluto ao qual se dirige. Por estas razões, especialmente hoje, a religião não é um problema, mas parte da solução.

É imprescindível excluir qualquer forma de justificação da violência. “A violência, de fato, é a negação de toda religiosidade autêntica”.

“Como responsáveis religiosos somos chamados a desmascarar a violência que se disfarça de suposta sacralidade, acentuando o egoísmos e não uma abertura autêntica ao Absoluto. Devemos denunciar as violações contra a dignidade humana e contra os direitos humanos, e denunciar as tentativas que justificam toda forma de ódio em nove da religião”.

Fonte: Rádio Vaticano

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