Por Pe. Genilson Sousa*
Soubemos das grandes iniciativas de Pauline Maria Jaricot em apoio à missão Universal da Igreja. Também recordamos como suas inspirações fizeram surgir as Obras Missionárias na França. Este ano celebramos os 100 anos como Obras Pontifícias, as quais estão presentes em mais de 130 Países. O ardor missionário de Pauline levou a uma consciência missionária de toda a Igreja, não somente local, na diocese, mas também de maneira universal. Desse modo, a natureza das POM é uma rede de oração e caridade pela missão da Igreja ao serviço do Santo Padre, como compromisso missionário de todo o povo de Deus. Assim, três características marcam as bases colaborativas das Obras pela Missão: a Oração, o Sacrifício e a Solidariedade. Vamos apresentar a Oração como meio de participação na vida missionária da Igreja pelo testemunho de Pauline.
O caráter oracional esteve sempre presente nas iniciativas da jovem Pauline. Ela tinha a certeza de que a oração deveria ser constante entre todos os cristãos, pelos missionários e pela missão da Igreja. Em 1817, justamente nos primeiros passos da sua ação missionária em favor das missões da Igreja, ela insere intrinsecamente o papel da Oração. O que movia Pauline na arrecadação material, em prol das missões e até na fundação da Obra da Propagação da Fé, já estava ligado à oração e à vida de cada participante – “a oração diária e a dedicação semanal estavam ligadas. Muitas pessoas aderem a esse movimento, oram pelos missionários e pelo sucesso de suas “missões” e participam da arrecadação de recursos financeiros para sustentar as atividades missionárias” ( DIARRA, 2022, p.18).
A oração, aqui, deve ser compreendida como encontro com Deus que leva a uma fé amadurecida, comprometida, capaz de escutar o chamado de Deus e a oferecer-Lhe a própria vida. É falar e ao mesmo tempo silenciar. É oferecer-se, é dar-se, é resposta, é encontro. É essa entrega que move a vida missionária de Pauline. Praticamente suas maiores decisões estão ligadas a essa fé madura, nascida do encontro que transforma em oração. O encontro que torna um com Deus, com os demais e conosco mesmo.
Desse caminho orante de Pauline, entende-se que a melhor oração é a Eucaristia. Podemos constatar, nos escritos, que o amor à Eucaristia é como fonte de todos os sacramentos, “uma fonte divina que tudo flui: o batismo e os outros sacramentos enraizados no amor único da Trindade” (DIARRA, 2022, p.26). É da centralidade da Eucaristia na sua vida que Pauline “tomou consciência do amor de Jesus Cristo, e isso se manifesta quando escreve um amor que se revela aos olhos despertados pela Fé: com quanto amor você nos amou!” (Servel, 1962, p.186, apud, DIARRA, 2022, p.26). Pauline tem a clareza da centralidade da Eucaristia na vida dos cristãos, como também, no centro da missão da Igreja.
Uma prática orante que Pauline desenvolveu depois da Obra da Propagação da Fé foi o Rosário vivo, criado em 1826. Esse Rosário tinha o objetivo de oferecer a todo o povo de Deus a prática orante contemplando os mistérios de Cristo, de modo individual e coletivo. Três características básicas dessa oração na perspectiva de Pauline, segundo Diarra (2022, p.27): “fazer rezar quem tem dificuldade em rezar; lutar pela oração contra os males que afligem a sociedade; e estabelecer o Rosário vivo e compreender o vínculo que estabelece entre oração e missão, por um lado, e, por outro, entre a meditação do Evangelho e comunhão eclesial”. Pela metodologia do Rosário vivo, Pauline quis despertar a oração que possibilitasse a meditação e a contemplação nos mistérios de Jesus Cristo e de Nossa Senhora na vida diárias das pessoas. Desse modo, se compreende que “o Rosário é vivo porque estabelece a união entre todos os participantes. É uma coroa viva de rosas oferecida ao Senhor, sendo as rosas os diferentes mistérios. O Rosário honra Jesus e sua Mãe Maria, pois Maria está ligada ao Rosário” (DIARRA, 2022, p. 30).
Pauline Jaricot é a leiga cristã que compreendeu o valor essencial da oração. A oração aqui entendida como oferta de si mesmo, como resposta ao chamado de Deus como escuta e intimidade com o criador e salvador. É a contemplação do amor doado a toda a humanidade presente na vida cotidiana de todos os cristãos. Como ela mesmo expressa “a oração é um motor que espalha sua força de um extremo ao outro do mundo, no coração do próprio Deus no trono de sua onipotência, graças de vida e salvação para todos… A oração é o Reino de Deus em nós” (Jaricot, 2011, p.35, apud: DIARRA, 2022, p. 32).
Que da Oração meditativa e contemplativa do Rosário, que da ação de graças e do louvor a Deus em assembleia Eucarística, possamos como povo de Deus aprender a estar na sua intimidade. Que desse encontro desperte a escuta, o silêncio, a súplica e abertura do coração para que, da experiência com a pessoa de Jesus Cristo, possamos dar razões da nossa fé (1 Pd 3,15), sendo uma igreja em saída e, com a força do Espírito Santo, testemunhar o ressuscitado em “todos os confins do mundo” (At, 1,8).
* Secretário Pontifícia Obra da Propagação da Fé