Por Pe. Antônio Niemiec CSsR*
Pauline Jaricot, aos dezessete anos, já tinha em mente e no coração a convicção sobre a dimensão universal que uma comunidade cristã deve cultivar e viver. Em seu coração, a jovem amadureceu a consciência de que a oração é uma força transcendente que move montanhas, e a caridade, uma linguagem global, capaz de chegar a todas as pessoas, em todos os cantos do planeta. Nesse sentido, essa jovem pode ser hoje um modelo para a Igreja do século XXI.
Nascida em uma família profundamente católica, Pauline teve uma infância feliz, caracterizada pelo carinho e pela profunda fé de seus pais e irmãos. Ainda assim, na adolescência, Pauline distancia-se de Deus. Mas, aos 17 anos, o Senhor toca-lhe o coração e provoca uma mudança interior. A graça de Deus inunda seu coração, ilumina sua mente e muda sua vida para sempre.
Ao longo do seu caminho de aprofundamento da Palavra de Deus, a jovem compreende, assim como o fez Santa Teresa de Lisieux, que “o amor é tudo e abrange todos os tempos e todos os lugares” e, por isso, deve chegar a todas as pessoas porque “Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Pauline encontra sua vocação cristã – uma vocação de presença e comunicação de amor – no “trabalho em rede”. Ela promove iniciativas que unem os fiéis na oração, experimentando seu poder transformador e que, ao mesmo tempo, abre os corações dos fiéis para aliviar as misérias e sofrimentos de pessoas próximas e, sobretudo, os de pessoas que estão a milhares de quilômetros de distância, que vivem “nos confins da terra”.
Dessa intuição de Pauline, de sua paixão por Cristo e pelas pesssoas, nascem as Pontifícias Obras Missionárias que, até hoje, promovem a dimensão universal da oração e da caridade missionária, trabalhando a serviço do Papa para o crescimento do Reino de Deus e da Igreja.
Pauline Jaricot é animada por um extraordinário ardor missionário. Esse zelo a faz dar início ao movimento do Rosário Vivo e, depois, à Associação para a propagação da fé. Na oração e na Eucaristia, ela encontra sua força espiritual para realizar múltiplas ações caritativas e de caráter universal. Mulher de ação, dedica-se incansavelmente ao apostolado, promovendo iniciativas audaciosas a serviço da evangelização e por maior justiça social.
Com alguns amigos, entre operários e familiares, unidos pelo mesmo espírito de caridade missionária, ela idealiza uma coleta financeira, chamada “moeda pauline”, para apoiar e ajudar missionários que, pioneiros da proclamação do Evangelho, vivem e atuam em terras distantes. A intuição é simples e ao mesmo tempo extraordinária, e pode ser resumida na expressão “o pouco de muitos”, inspirada na oferta da viúva do Evangelho. O mecanismo é fácil e eficaz: cada pessoa cria um grupo de dez pessoas e cada uma dessas, por sua vez, forma outro grupo de dez, e assim por diante.
Esse trabalho de angariação de fundos é colocado ao serviço da missão ad gentes. O que a motiva é a consciência e convicção de que cada batizado é discípulo missionário e é chamado a participar e a cooperar, na medida do possível, no sustento de pequenas comunidades cristãs do outro lado do mundo.
Pauline oferece, assim, sua peculiar e extraordinária contribuição à sensibilidade e à atividade missionária da Igreja, revigorada e retomada no início do século XIX. Graças a essa jovem, a sensibilidade e preocupação missionária foi sendo expandida e compartilhada por todo o povo de Deus, com a ideia de que todos os batizados – e não apenas os religiosos, enviados para terras distantes – fossem autênticos protagonistas da missão, incluída a missão ad gentes.
Dada sua simplicidade e eficiência, o sistema criado por Pauline se espalhou rapidamente na Europa e em outros lugares.
Receosa de que esse mecanismo venha a assumir uma face puramente financeira, e também em resposta às necessidades espirituais consideradas essenciais em seu tempo, ela cria a corrente do Rosário Vivo. Dispõe suas intuições espirituais voltadas ao serviço apostólico e à atividade missionária até os confins do mundo nas mãos de Maria, rainha das missões. Ela cria e envolve vários grupos de quinze pessoas – cada pessoa representa um mistério – comprometidos com a recitação diária do rosário.
Pauline, com seu modo de viver e de atuar, nos ensina que a vivência da missionariedade e a cooperação com a missão universal, ad gentes, tem sua fonte na contemplação, na Eucaristia e em profunda união com Cristo.
Seu legado está muito presente na Igreja: a Associação para a Propagação da Fé, que ela fundou, foi elevada à categoria de “Obra Pontifícia”, em 1922. Hoje, essa Obra contribui eficazmente para a vida das dioceses e prelazias mais necessitadas no mundo inteiro.
* Secretário da Pontifícia União Missionária