Pe. Ezequiel Ramin: testemunho de vida em doação

No dia 24 de julho celebra-se a memória de Pe. Ezequiel Ramin, missionário comboniano que foi morto em 1985 por estar defendendo a vida dos povos indígenas e de trabalhadores sem terra. Sua história de inserção junto à vida do povo foi escolhida para ser lembrada como testemunha para o mês missionário extraordinário de outubro de 2019.

Biografia

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Conhecer a vida e martírio do Pe. Ezequiel Ramin é permitir entrar nas nossas vidas o testemunho profético de um jovem missionário que é recordado pelos pobres da zona rural do interior de Rondônia e Mato Grosso como um padre alegre e simples, que gostava de visitar as famílias e ficar com o povo, e que ia ao encontro das pessoas com um gesto muito característico: ao avistá-las, abria os braços com a palma da mão para cima e ia ao encontro delas para abraçá-las.

Ezequiel nasceu em Padova, Itália, em 1953. Ainda jovem, decidiu dedicar sua vida aos mais pobres e necessitados como missionário além fronteiras. Este foi sempre seu grande ideal: queria estar ao lado dos mais pobres e abandonados. Foi ordenado sacerdote em 1980, e aos 30 anos, foi enviado em missão ao Brasil. Desejava viver uma experiência de fronteira. Em abril de 1983, antes de chegar ao Brasil, partilhou: “Ainda não sei aonde irei, porém estou contente com o fato de partir. É uma coisa mais forte do que eu.” Foi destinado a trabalhar em Cacoal, Rondônia, cujo estado ainda estava em processo de colonização.

Quando lá chegou, encontrou uma Igreja que caminhava junto ao povo, comprometida com os pobres e atenta às questões sociais. Havia comunidades consolidadas e lideranças que estavam sendo formadas, e por isso, eram capazes de exercer um protagonismo na vida eclesial e social destas pequenas comunidades (CEB’s). Cheio de entusiasmo, entrou com facilidade na realidade do povo de Rondônia dos anos 80.

Não demorou muito também para se deparar com os conflitos de terra que havia naquela região. Encontrou-se num contexto de gritantes desigualdades pela falta de reforma agrária e de uso da violência pelos poderosos, que grilavam terras para ampliar seus latifúndios e expulsavam ou matavam os indígenas para ficar com as suas terras.

Essa realidade o incomodava profundamente. Não se continha diante das desigualdades sociais, da concentração dos bens da criação nas mãos de poucos, das injustiças, do uso da violência ou da manipulação das leis para oprimir aos pequenos. Diante disso, Ezequiel colocou-se corajosamente em defesa dos indígenas, que tinham um grande aprecio por sua pessoa, e dos posseiros (trabalhadores rurais sem-terra) na luta pelo direito à terra e à vida digna, vivendo de modo muito concreto a opção pelos pobres. Em várias ocasiões tratou publicamente desses assuntos, como quando falou: “o meu trabalho aqui é de anuncio e denuncia. Não poderia ser diferente considerando a situação do povo. Precisamos apoiar bastante os movimentos populares e as associações sindicais. A fé precisa caminhar junto com a vida…”

ezequiel2No dia 24 de julho de 1985, o Pe Ezequiel Ramin, aos 32 anos de idade, foi brutalmente assassinado quando voltava de uma missão de paz, na qual havia visitado posseiros na Fazenda Catuva para pedir-lhes que se retirassem, pois corriam perigo. Foi pego de surpresa pelos pistoleiros a mando de fazendeiros. Seu corpo recebeu muitos tiros de espingarda.

O legado de Pe. Ezequiel Ramin:

Opção pelos pobres
O Pe Ezequiel viveu concretamente a opção pelos pobres que emergiu na Igreja Latinoamericana nas décadas de 70 e 80. A opção pelos pobres foi encarnada em sua vida, como na vida de tantos missionários e missionárias. Os indígenas e pobres trabalhadores rurais que o conheceram relatam que ele se inseria com muita facilidade entre eles, acolhia as pessoas estava com elas fazendo causa comum. Defendia a demarcação das terras dos indígenas e buscava soluções pacíficas para que os trabalhadores rurais tivessem a oportunidade de ter um pedaço de terra. Hoje o Papa Francisco nos pede quero uma Igreja pobre e para os pobres. E nós aprendemos da sua vida a ser servidores dos pobres.

Fidelidade até o fim
Sua entrega missionária foi até o fim. Sofreu muitas ameaças, mas não desistiu. Quando soube o perigo que estavam vivendo os posseiros que ocupavam a Fazenda Catuva, e a pedidos das esposas destes posseiros, não se recusou a buscar uma solução pacífica. Foi até a Fazenda Catuva para que se retirassem das terras e assim evitar o conflito. Foi morto por querer preservar a vida do seu povo. Ele acabou morrendo no lugar dos camponeses. Várias vezes disse às pessoas que seria melhor que ele morresse do que os pais de família que tinham os filhos e a esposa para cuidar. Na sociedade atual, vive-se a dificuldade de perseverar nas adversidades. Buscamos caminhos mais fáceis quando nos afrontamos com as situações difíceis. Sua vida nos inspira a ser fieis até o fim.

Justiça socioambiental
Sua vida foi comprometida pela Justiça, paz e integridade da criação. Ezequiel dizia: “a fé precisa caminhar com a vida…” Diante das injustiças que vivia o povo e a destruição da floresta amazônica pelos grandes fazendeiros que se apropriavam da terra indígena e vendiam suas madeiras, o Pe Ezequiel não foi omisso. Denunciou nos jornais a exploração ilegal da madeira, ajudou os indígenas a demarcarem as terras, buscou a paz para o povo ameaçado, apoiou sindicatos e associações para a emancipação dos mais pobres. Nós vivemos em tempos que somos chamados a pensar no nosso estilo de vida, pois do modo como estamos atuando vamos destruir a nossa casa comum. Somos chamados a assumir a nossa responsabilidade, como fez Ezequiel, diante deste desafio e colaborar para que haja justiça, paz e a integridade da criação.

Igreja em saída
O Papa nos pede ser uma Igreja em saída. Ezequiel saiu de si mesmo e foi ao encontro dos outros. Deixou a sua terra natal, a Itália, e a vida prospera que poderia ter para doar-se aos pobres de Rondônia. A missão está na essência da Igreja, pois ela existe para a missão. Somos chamados cada um a ser discípulos missionários e ir ao encontro dos outros como testemunhas do Ressuscitado, para que todos tenham vida e vida em abundância.

 

Saiba mais

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