A Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), com a organização da prelazia do Xingu, promoveu em Altamira (PA), nos dias 26 a 28 de maio, o Seminário Laudato sì. A prelazia tem uma extensão de 368.092 quilômetros quadrados e possui 15 paróquias com 786 comunidades das quais participaram do evento, 195 lideranças.
Criada em 2014, a Repam abrange os nove países que formam a Bacia Amazônica: Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
O objetivo da Repam é abrir caminhos de diálogo, de articulação, de cooperação e de fraternidade entre as igrejas locais para fortalecer a comunhão pan-amazônica.
O Seminário em Altamira, incluiu estudos, reflexões, uma audiência pública e celebrações. Nas discussões ressaltou-se os efeitos prejudiciais causados pelos grandes projetos predatórios, como as hidrelétricas, mineradoras e garimpos, agropecuária e madeireiros na região. Também foi denunciado que a maioria das condicionantes para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte não foi cumprida e os impactos causados são duradouros e em grande parte irreversíveis.
Os participantes, iluminados pela carta Laudato sì, do papa Francisco, propuseram-se a uma ação política de tomada de posição em defesa da vida no Planeta; a uma conversão ecológica e promoção da educação ambiental. E ainda a cultivar e cuidar da Criação, como compromisso com as atuais e futuras gerações. No final, os participantes publicaram uma Carta Compromisso, que segue abaixo:
Seminário Laudato sì de Altamira (PA)
Carta Compromisso da prelazia do Xingu
A Igreja, Povo de Deus do Xingu, em diálogo com os movimentos sociais, procura viver no Espírito do Ressuscitado que é luz para nosso caminho e garantia da Vida em plenitude. Durante os dias 26 a 28 de maio de 2017 nos reunimos no Centro de Formação Bethânia para o Seminário Laudato sì, promovido pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), respondendo ao apelo de nosso papa Francisco para aprofundar sua Encíclica Laudato sì (Louvado Sejas), sobre o “Cuidado com a Casa comum”. Acreditamos na Luz e alimentamos sempre a esperança, mesmo quando se faz noite sobre o solo sagrado do Xingu regado com o sangue dos nossos mártires. Com a graça de Deus renovamos nossos compromissos batismais e crismais na defesa e promoção da vida onde a morte é semeada; do amor e da paz onde o ódio é espalhado; da justiça quando vemos os povos do Xingu agredidos por injustiças, violências, desrespeito e discriminação.
O clamor da Mãe Terra se junta ao clamor de suas filhas e filhos. Denunciamos os efeitos causados pelos grandes projetos predatórios: hidrelétricas, mineradoras e garimpos, agropecuária e madeireiros que ocasionam aumento populacional desordenado nas cidades provocado pelo êxodo rural; o deslocamento forçado; aumento dos índices de violência urbana, no campo e contra indígenas; desemprego; prostituição e abuso sexual; tráfico humano; aumento do consumo de drogas e álcool; ausência de políticas públicas básicas e de qualidade; aumento do desmatamento; uso indiscriminado de agrotóxicos; morte cultural dos indígenas pela fragmentação das aldeias, e invasão e grilagem nas terras indígenas e extrativistas. Denunciamos que a maioria das condicionantes para a construção de Belo Monte não foi cumprida. Agora os impactos causados são duradouros, em grande parte irreversíveis.
Apesar destes males, mantemos vivas a esperança e a coragem porque reconhecemos que o Senhor caminha conosco e nos orienta: “Não tenham medo”! Queremos ser uma “Igreja em saída”, discípula e missionária que vive e anuncia o Evangelho “derrubando muros e construindo pontes” neste solo sagrado. São sinais desta construção de pontes: Agricultura Familiar; projetos agroecológico – extrativistas; lutas e resistências dos povos indígenas e comunidades tradicionais (quilombolas, ribeirinhos); o protagonismo da juventude e das mulheres nas Comunidades Eclesiais de Base e movimentos populares.
Aprendemos com a Laudato Si, que há duas crises graves e urgentes que se articulam e se influenciam: a crise climática e a crise ecológica. Elas são consequências de uma economia que visa apenas o lucro e do individualismo consumista como centro da vida social. O papa nos propõe a Ecologia Integral, onde o ser humano e a natureza encontram-se interligados. Convoca-nos a uma ação política de tomada de posição em defesa da vida no Planeta; a uma conversão ecológica e promoção da educação ambiental. Ainda a cultivar e cuidar da Criação, como compromisso com as atuais e futuras gerações.
Comprometidos então com o pedido do Papa Francisco, somos responsáveis com as seguintes ações:
• Construir um fórum composto pelos povos tradicionais implementando medidas educacionais levando em consideração a questão étnico-racial nas escolas dos municípios;
• Unir forças na proteção das terras e meio ambiente contra as políticas predatórias dos grandes projetos e dos empreendimentos governamentais;
• Reconhecer e manter as experiências e os saberes tradicionais;
• Valorizar os produtos da região e lutar pela regularização fundiária;
• Propor que as Universidades Públicas e os centros de pesquisa públicos acompanhem as atividades desenvolvidas dos grandes projetos de exploração e mineração informando os resultados à sociedade;
• Reforçar o apoio às políticas públicas para infância e juventude;
• Apoiar implantação de Centros de Apoio Psicossocial Álcool e Droga-CAPS-AD;
• Criar uma Ouvidoria ou uma pastoral da escuta para acompanhamento das famílias nas paróquias e das famílias atingidas;
• Cobrar as condicionantes de Belo Monte não cumpridas pelos consórcios, assim como de outros projetos de mineração (Belo Sun, Puma, Vale);
• Participar dos conselhos de controle social dos municípios;
• Apoiar e lutar por uma nova política energética e pela Política Nacional dos Atingidos por Barragens;
• Despertar a consciência prática da Ecologia Integral;
• Implementar um projeto de evangelização para juventude, enfrentando as violências e considerando as suas famílias;
• Celebramos a vida que é dom de Deus e, na interação com a natureza, lançamos sementes de árvores nativas, convictos de que elas frutificarão efetivando a implantação da Rede Eclesial Pan-Amazônica no Xingu.
Pedimos ao Deus vivo que abençoe, e a sua Mãe, Virgem de Nazaré, rainha da Amazônia, nossa padroeira, que interceda por nós para que sejamos fiéis a nossa missão na defesa da vida no Xingu.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.
Altamira, 28 de maio de 2017