Programa Missionário Nacional e a vida missionária da Igreja no Brasil

Por Pe. Daniel Rocchetti*

A Missão da Igreja é o que a constitui. A Igreja é, por sua natureza, missionária (AG2). Nascida para a missão, e antes, porém, a Igreja nasceu da Missão: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20,21)! Assim, origem e fim da Igreja, é esta capacidade linda de testemunhar a fé, servir a Deus nos irmãos, anunciar, pregar, encarnar na história os ensinamentos amorosos de Nosso Senhor Jesus Cristo, Apóstolo do Eterno Pai (Hb 3,1).

Pelos séculos, a Igreja tem crescido nessa autocompreensão de ser uma Igreja testemunhal, ou seja, uma comunidade de fé que testemunha ao mundo a presença de Nosso Senhor. E por isso, a Igreja identificou em si duas dimensões de sua missão: a dimensão paradigmática e a dimensão programática. E mais recentemente, sob o pontificado do Papa Francisco, pode-se ainda dizer de uma terceira dimensão da missão eclesial: a dimensão existencial.

As três dimensões da missão eclesial

Por anos, a Igreja compreendeu que a sua missão se desenvolvia em FAZER, em REALIZAR atividades, sejam elas de anúncio querigmático – ou seja, de anúncio e testemunho da fé em Jesus Ressuscitado – como também aquelas de serviço aos mais necessitados – já que Ele se identificara com os menores e o que se fizesse a eles, a Jesus mesmo se estaria realizando aquele ato de caridade (Cf. Mt 25). Essa é, em amplas explicações, a DIMENSÃO PROGRAMÁTICA da missão, na qual se realizam projetos de atividades, planos, planejamentos. Mais adiante falaremos sobre ela.

Com o Concílio Vaticano II, depois de um período lindo e fecundo de reflexão teológica e missionária a partir daquele importante documento Maximum Illud, do Papa Bento XV, em 1919, vinha à tona outro aspecto característico da ekklesia, ou seja, da Igreja: se a Igreja é, por sua natureza, missionária, então o seu DNA é a missão! Assim, mais especificadamente: se a Igreja deixar de anunciar e testemunhar o Evangelho no mundo, ela deixa de ser Igreja! Aqui identificamos a DIMENSÃO PARADIGMÁTICA da missão. Foi o papa Bento XVI que, na Mensagem do Dia Mundial das Missões de 2012, ensinou-nos que a missão ad gentes é paradigma da ação eclesial. Mais tarde, o Papa Francisco ecoou este ensinamento em várias ocasiões: “A missão paradigmática, por sua vez, implica colocar em chave missionária a atividade habitual das Igrejas particulares”, explicava ele aos bispos do CELAM, em 2013, quando da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro – Brasil.

Mais recentemente, o papa Francisco tem feito despontar ainda outra compreensão de missão, na Igreja e principalmente em cada batizado. “Eu sou uma missão nesta terra e para isso estou neste mundo. É preciso que nos consideremos como que marcados a fogo por esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar” é o que ele escreveu na Evangelii Gaudium, 273. É a DIMENSÃO EXISTENCIAL da missão. A vida torna-se missão; entra na categoria do SER! A vida mesma, por inteiro é um dom doado por Deus para ser doado aos irmãos de todos os lugares e de qualquer realidade. Se a Vida é Missão, a resposta de cada fiel não deveria ser outra senão esta: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8)! Cada fiel poderá responder favoravelmente a tal chamado, seja uma criança, um jovem, um adulto, um idoso, um clérigo, um religioso ou religiosa… todos, inclusive um enfermo! Nessa compreensão existencial da missão, até a enfermidade enfrentada com fé, esperança e resignação podem ser testemunhos missionários!

O Programa Missionário Nacional

Vimos, até agora, haver uma dimensão programática da missão. E ela é necessária, inclusive. Diz-se necessária, pois é essa programação missionária que vai fazer emergir aquela realidade existencial e paradigmática. Deve-se, obviamente, tomar cuidado para não reduzir a missão a um fazer coisas, pois como foi bem visto, a missão está na categoria do ser cristão. Mas sim, certamente a dimensão programática visualiza, concretiza – e porque não dizer, “encarna” – a missão na realidade da Igreja.

E é neste contexto compreensivo que a Igreja do Brasil, por meio do COMINA – Conselho Missionário Nacional, composto por vários organismos missionários – empreendeu um trabalho profundo e importante que resultou no Programa Missionário Nacional, PMN, para o quadriênio 2019-2023.

O PMN “deseja colaborar para que a missão seja o eixo norteador das prioridades definidas no programa e demais atividades da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, explica Dom Odelir José Magri, presidente do COMINA e da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB. De fato, as Diretrizes Gerais para Ação Evangelizadora da CNBB, em seu parágrafo 200, vem exortar sobre a importância de acolher e concretizar as prioridades e projetos do PMN.

Esse programa nasceu do anseio compartilhado de tantas e tantos missionários espalhados pelo país que gostariam de ter direcionamentos mais concretos para a realização de suas atividades. Nos anos 2017 e 2018, foi feita uma ampla escuta pelos COMIRE´s – Conselhos Missionários Regionais. Após ver e ouvir as necessidades e expectativas missionárias de cada local, foram recolhidas muitíssimas sugestões que posteriormente foram organizadas e apresentadas, no ano de 2019, na Assembleia do COMINA. Ali foi aprovado o texto com quatro prioridades e respectivas atividades, e, então, o PMN foi apresentado à Assembleia Nacional dos Bispos do Brasil, em abril daquele mesmo ano. Assim aprovado, foi também abraçado pela Igreja a partir dos Bispos e representantes dos Organismos do Povo de Deus ali reunidos.

As prioridades e atividades abraçadas pelo PMN

Aquela ampla escuta dos Regionais gerou um volumoso material. Houve quem trabalhasse aquele material, o organizasse e propusesse um esquema de atuação. E assim foi feito. Depois de escutar e ver, foi necessário iluminar teológica e espiritualmente aquelas escutas e propor caminhos de ação: foram identificadas quatro Prioridades para o Programa Missionário Nacional, e a partir delas, traçados doze projetos e apontadas quarenta atividades. Das prioridades, vale a pena conhecê-las: a. Formação Missionária, b. Animação Missionária, c. Missão Ad Gentes, d. Compromisso Profético-Social. Cada prioridade tem seus projetos importantíssimos e desafiadores, que deveriam envolver tantas e quantas pessoas apaixonadas por Jesus Cristo, pela Igreja, pelo Reino, pela Missão!

Os grupos de trabalho para o PMN

A Missão não é nossa, sabemos disso. E nem tão pouco pode ser realizada só. Foi por isso que, para implementar o PMN e ajudar na concretização dessas prioridades, projetos e atividades, a Executiva do COMINA convidou diversas pessoas para compor alguns grupos de trabalho. Esses têm perfil executivo e seus membros foram convidados a ajudar na realização do Programa Missionário Nacional. São seis os GT´s, em que quatro se referem às prioridades já nomeadas acima, mais um GT para a Sustentabilidade econômica e humana do Programa, e outro GT para articular as diferentes metodologias de Missões Populares existentes neste nosso país. Os grupos já começaram a se reunir de forma virtual e há muito entusiasmo entre os voluntários. Rezemos por eles!

O Programa Missionário Nacional poderia ser comparado aos trilhos de um trem ou a balizas para a manobra de um carro: é a dimensão programática da missão da Igreja! A missão não pode existir sem certa organização. O improviso até pode dar certo uma vez, mas nem sempre. Ter um programa missionário para a Igreja do Brasil é ter pistas de atuação, onde há início, desenvolvimento e finalização bem claros, ajudando-nos a sermos mais fiéis àquele mandato missionário que o Senhor Jesus nos deixou: “Ide por todo o mundo” (Mt 28, 19).

* Assessor da Comissão Missionária da CNBB

 

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