Em sintonia com o Sínodo para a Amazônia, a Igreja em Roraima caminha de mãos dadas com as comunidades indígenas na missão de anunciar o Reino de Deus na história de resistência e compromisso de fé.
A Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TI RSS) no Estado de Roraima, norte do Brasil é habitada por mais de 20 mil indígenas Macuxi, Wapichana, Taurepang, Ingaricó e Patamona. A população vem crescendo organizada em mais de 200 aldeias ou comunidades nas regiões de Surumu, Serras, Baixo Cotingo e Raposa.
A evangelização nas comunidades tem a participação ativa dos catequistas e lideranças. Em sintonia com o Sínodo para a Amazônia, com o objetivo de unificar a caminhada e refletir sobre o processo de iniciação à vida cristã, cerca de 400 catequistas das quatro regiões da TI RSS estiveram reunidos, nos dias 24 a 28 de janeiro 2019, na comunidade do Barro em Surumu, para a IV Assembleia.
“Iniciação à vida cristã na perspectiva do Sínodo e da REPAM” foi o teme central do encontro que contou com a presença do bispo de Roraima, Dom Mário Antônio, entre outros convidados.
Valorização das línguas indígenas
Uma das preocupações é iniciar as novas gerações na fé cristã por meio de uma catequese inculturada que inclua a valorização e o uso das línguas indígenas. O padre Ronaldo B. MacDonell, linguista canadense, da Sociedade Missionária de Vida Apostólica (SOMIVA), coordena o projeto de resgate e valorização da língua macuxi por meio de estudos, publicações e seminários nas comunidades.
Presentes na região desde 1948, em 1971 os missionários da Consolata fizeram a opção pelos indígenas e em 1972 passaram viver nas comunidades ao lado do povo. Ao longo dos anos, “o Plano de Deus sobre nós” orientou a ação evangelizadora integrando fé e vida onde a libertação da terra era o objetivo principal. Hoje acompanham os povos indígenas sete missionários da Consolata: os padres africanos Philip Njoroge Njuma, James Murimi Njimia, Joseph Musito, Jean-Claude Bafutanga, Joseph Mugerwa, Gabriel Ochieng; e o experiente Irmão italiano Francisco Bruno. Atuam na área também, três missionárias da Consolata: as Irmãs Maria Thereza Thukani, Kibinesh Amanuel e Alda Raffaela.
A programação da Assembleia incluiu reflexões sobre o Sínodo para a Amazônia e a REPAM, a conjuntura do governo atual e as possíveis ameaças aos direitos dos povos indígenas. Luiz Ventura, Leigo Missionário de Consolata e coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em Roraima, recorda as principais demandas dos povos indígenas na atual conjuntura: 1. Proteção dos direitos indígenas previstos na Constituição Brasileira; 2. Demarcação das Terras Indígenas; 3. Garantia dos direitos humanos e combate à violência contra indígena; 4. Reconhecimento dos povos originários e de sua cultura ancestral; 5. Contra a transferência da Funai para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos; 6. Contra a transferência da demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura.
Essas reivindicações fazem parte da Campanha nacional “Sangue Indígena, Nenhuma Gota a Mais!”
Resistência e compromisso
A TI RSS tem 1,7 milhão de hectares e foi homologada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005, após 34 anos de luta que custou a vida de 21 indígenas e representou uma aula de resistência.
Foi exatamente na Missão Surumu que em 1977, uma centena de indígenas e aliados estavam reunidos, numa das primeiras assembleias, quando baixou a repressão militar. Mas eles não se intimidaram. Dispersaram para continuar a Assembleia em outro lugar. Foi o início da resistência e busca de autonomia do movimento indígena. Talvez por isso que, em 2005, essa Missão teve a igreja, a escola e o Centro de Saúde queimados em um dos tantos ataques a mando dos fazendeiros.
O marco histórico da luta foi o compromisso “Ou Vai ou Racha” quando os indígenas, em 26 de abril de 1977, reunidos em Maturuca, aldeia a 320 quilômetros de Boa Vista, resolveram dizer “não à bebida alcoólica e sim à comunidade”, iniciando o processo de organização que culminou com a criação do Conselho Indígena de Roraima (CIR).
Por Jaime C. Patias, IMC, Conselheiro Geral para América