Rio São Francisco, o Velho Chico

por Ivo Poletto *

Participei da 8ª Assembleia do Regional da Cáritas Brasileira que atua nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, realizada na cidade de Piranhas, à beira do Velho Chico, que aqui passa entre penhascos.

Como em outras oportunidades, fui ver o rio, desejando encantar-me com sua beleza, e logo vi que continua lindo, mas com bem menos da metade do que tem sido seu leito histórico.

A Cáritas escolheu esta cidade para sua assembleia justamente porque desejava estar perto do rio que banha toda esta região. Estar perto e escutar o grito do rio e de seus povos para assumir com maior firmeza a decisão de lutar e apoiar todas as lutas que defendem e exigem mudanças nas atividades que estão levando o Velho Chico à morte. Sim, amigas e amigos, há um sentimento geral, confirmado por pesquisas científicas, de que o São Francisco está dando  180316_turismo-rio-sao-franciscosinais claros de que se aproxima da morte. E se ele morrer, vale perguntar-nos, como a canção de Targino Gondim: que será de mim? Que será de José serafim? Que será dos povos do logo vale desse longo rio, que corre de Minas Gerais até o Atlântico?

Dialogando com participantes da assembleia, percebi como as informações sobre o ciclo das águas do nosso país são uma novidade absoluta. Muitos deles nunca tinham ouvido falar que a diminuição das águas do seu Velho Chico tenham a ver com o que está acontecendo no bioma Cerrado e na Amazônia. Para eles, a explicação estaria só na seca dos últimos anos na sua região. Deram-se conta que as águas do seu Rio dependem da situação dos aquíferos, e de modo especial do Urucuia, que é alimentado pelas chuvas que caem na região do Cerrado. E como as chuvas estão diminuindo no Cerrado, as águas do Urucuia estão baixas e isso explica por que estão secando fontes que davam vida a córregos e rios que desaguam no São Francisco. Deram-se conta também que as chuvas do Cerrado e de grande parte do território brasileiro dependem da umidade, dos rios aéreos da Amazônia trazidos pelos ventos para essas regiões.

Como parte do compromisso de lutar em favor da vida e da construção de comunidades e sociedades de Bem Viver no Semiárido e em todo o Nordeste, a luta pela recuperação da vida do Velho Chico foi assumida como uma conquista indispensável em favor da vida.

* Ivo Poletto, Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS): www.fmclimaticas.org.br

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