por Lucivan Francieski *
São Bernardo de Claraval dizia que “quem encontrou o Reino e por ele se encantou, não tem mais o direito de viver sossegado”. Poderíamos nos perguntar: o que fazem os seminaristas na III Missão Sem Fronteiras da Juventude Missionária (JM)? A melhor resposta creio que seria: estão com os jovens. Não estamos para ensinar, corrigir, fiscalizar, mas numa grande comunhão de fé nos colocamos ao seu lado, como discípulos enviados dois a dois, para anunciar uma grande alegria: Deus nos ama, Ele nos deu Jesus como Salvador, caminha conosco e nos quer felizes, em comunidade. Ele não tira nada, mas dá tudo.
A III Missão Sem Fronteiras da Juventude Missionária (JM) do Brasil ocorreu de 11 a 21 de janeiro, em Viamão, região metropolitana de Porto Alegre (RS). A iniciativa promovida pela Pontifícia Obra da Propagação da Fé (POPF) aconteceu na paróquia Rede de Comunidades Santa Cruz, em comunhão com a paróquia Santa Isabel, ambas localizadas na cidade, e contou com a presença de cerca de 60 jovens do Brasil e Paraguai.
Em nosso caminho de fé cristã e como vocacionados ao presbiterado, experimentamos esta proximidade do Senhor, que se fez amigo na caminhada da vida, caminhou conosco e imerecidamente nos chamou a agirmos no mundo representado-O. Por isso, o presbítero deve ser sempre o primeiro missionário. O padre é aquele que um dia deixou-se cativar pelo olhar do Senhor, ouviu sua Palavra, o reconheceu no partir do pão, sentiu o coração arder, e agora não guarda mais esta alegria para si, mas corre anunciá-la aos irmãos (Cf. Lc 24, 13-35). Nós, candidatos ao ministério ordenado, precisamos estar de tal forma apaixonados pelo Senhor e pelo seu Reino que tenhamos medo de sermos levados pelo Mestre Jesus aonde for preciso.
A experiência desta Missão, em meio aos jovens, e como jovens, possibilita-nos tomar contato com a realidade tão rica das diversas regiões do Brasil. É uma experiência que nos mostra a catolicidade da Igreja. Quão belos e motivadores são os trabalhos missionários realizados pelos jovens neste país! Anima-nos saber que em nosso trabalho pastoral, como presbíteros, seremos auxiliados e amparados por uma juventude inquieta e apaixonada por Jesus. Por vezes nos sentimos pequenos diante de tanta fé e entusiasmo que nossos amigos de missão partilham em seus relatos. São verdadeiros missionários cheios da alegria do Evangelho.
A III Missão Sem Fronteiras aconteceu na realidade dura, sofrida, mas cheia de esperança da cidade de Viamão. A realidade ao nosso entorno clama para que sejamos uma Igreja em saída e pobre para os pobres. Um padre precisa, mais do que todos, recordar disto diariamente. É preciso tomarmos por plano de vida não apenas o texto bíblico do lava-pés, mas também o texto de Paulo aos Filipenses, o Senhor renunciou à glória, rebaixou-se, fez-se servo (Cf. Fl 2, 6-11). A nossa configuração a Jesus, Pastor, Servo e Cabeça só tem sentido e é eficaz á medida que assumimos em nosso modo de vida as suas opções.
Estar com os jovens, sendo um deles, recorda-nos, por fim, que a nossa dignidade não está no ministério que assumiremos em breve, mas no Batismo que a todos torna sacerdotes, profetas e reis. A missão e seus desafios acrisolam certas convicções secundárias e purificam nossas inconsistências para que Aquele que chamou alguns para o serviço de todos como presbíteros molde nosso ser sacerdotal ao seu coração de Pastor. Assim como o Seminário forma para toda uma vida sacerdotal, da mesma forma a missão forma para uma vida missionária, marca de quem se deixou cativar por Jesus.
Seminarista da diocese de Caxias do Sul (RS).