“Sínodo” quer dizer “caminhar juntos”. A sinodalidade expressa a participação e comunhão em vista da missão. Este será um dos eixos temáticos do 4º Congresso Missionário Nacional (4º CMN) a ser realizado, nos dias 7 a 10 de setembro, em Recife (PE), com o tema “A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”. O cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da CNBB, será um dos conferencistas. Publicamos, a seguir, uma de suas reflexões sobre o tema.
A sinodalidade da Igreja é tema de profunda atualidade, adquirindo especial importância desde o Vaticano II, principalmente no pontificado do papa Francisco. Ele nos ofereceu uma reflexão teológica profunda e desafiadora sobre a sinodalidade da Igreja, na comemoração dos 50 anos da instituição do Sínodo dos Bispos, aos 17 de outubro de 2015, afirmando que “o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”.
Para compreender bem a sinodalidade, é preciso considerar também outro termo de grande sentido eclesiológico e igualmente importante, a colegialidade. A colegialidade é exercida pelos bispos unidos ao papa. Portanto, é episcopal. A sinodalidade vai além da colegialidade e não se reduz ao Sínodo dos Bispos. Há diversos níveis de exercício da sinodalidade na Igreja. O primeiro realiza-se nas Igrejas particulares, com os seus vários organismos de comunhão. No segundo, estão as Províncias Eclesiásticas e as Conferências Episcopais. O terceiro nível é o da Igreja universal, com o Sínodo dos Bispos. “O Sínodo dos Bispos, representando o episcopado católico, torna-se expressão da colegialidade episcopal dentro de uma Igreja toda sinodal”, afirma Francisco.
De acordo com o seu sentido etimológico, o termo grego “sínodo” significa “caminhar juntos”. A sinodalidade expressa a participação e a comunhão em vista da missão; não é algo instrumental, mas pertence à natureza da Igreja. Entretanto, o papa Francisco nos alerta que o conceito de sínodo é “fácil de exprimir em palavras, mas não de ser colocado em prática”. Para tanto, é fundamental retomar a eclesiologia do Concílio Vaticano II que nos apresenta a Igreja como “mistério”, sinal e instrumento de comunhão, e como “Povo de Deus”. De um povo composto pela diversidade de vocações e ministérios, mas que “reina entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo” (Lumen Gentium 32). Trata-se de uma Igreja servidora, ministerial, na qual a autoridade se expressa como serviço e o próprio Sucessor de Pedro é servus servorum Dei.
Uma Igreja onde todos são chamados a “caminhar juntos” valoriza a escuta e o diálogo. Em pleno Concílio Vaticano II, Paulo VI afirmou que “a Igreja se faz diálogo”, enfatizando a atitude de escuta (Ecclesiam suam). Francisco ressalta a “escuta” como exigência fundamental para a sinodalidade. “Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar é mais do que ouvir. É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo”.
A colegialidade episcopal em uma Igreja sinodal não diminui a autoridade do papa, nem a autonomia de cada bispo. A colegialidade é entendida e exercida “não só cum Petro, mas também sub Petro”, referindo-se ao Sucessor de Pedro, o que “não é uma restrição da liberdade, mas uma garantia da unidade”, esclarece o papa Francisco.
Este tema atual, belo e exigente, tem implicações importantes para a compreensão e a vivência da missão evangelizadora em uma “Igreja em saída”. Para compartilhar a alegria do Evangelho e fazer discípulos, somos chamados a caminhar juntos, convivendo fraternalmente e trabalhando juntos, no diálogo e no serviço, revalorizando a dimensão comunitária da missão, a ser assumida como Igreja, na Igreja e com a Igreja.
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Cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da CNBB. Publicado no SIM n. 2 – abril- junho de 2017.