A terceira conferência do 5º Congresso Americano Missionário (CAM 5), intitulada “Discípulos, testemunhas da comunhão e da reconciliação”, foi proferida no final da manhã desta quinta-feira, 12, pelo diretor geral da Agência de Notícias Fides da Bolívia, o padre jesuíta Sergio Montes Rondón. Apresentando estatísticas sobre a violência, a corrupção e a pobreza na América Latina e no mundo, o conferencista disse que não é possível promover a reconciliação sem conhecer a realidade.
“A imagem de um mundo quebrado, fragmentado ou dividido é muito forte e provocadora, mas o que mais chama a atenção é que é real, porém o discípulo-missionário deve ver a realidade com realismo, com sentido crítico e profético, e igualmente com fé e esperança”, afirmou padre Rondón.
Segundo o conferencista, em 2016 houve 1831 assassinatos de mulheres em 16 países da América Latina. “Acompanha a violência contra as mulheres, uma violência social mais ampla que afeta 42 cidades da América Latina”, ressaltou. Ele destacou a desigualdade social que faz crescer o número de pobres no continente latino-americano. “Na América Latina, os 10% mais ricos concentram 68% da riqueza”, apontou.
Padre Rondón destacou também o risco que a democracia está correndo nos países latino-americanos com graves consequências para os mais pobres. “As democracias estão atravessando dificuldades muito amplas em seu espectro institucional, de representação, de controle social e de exercício do poder, o que ocasiona instabilidade política e agudas crises sociais e econômicas que, como sempre, afetam mais os pobres, os marginalizados, os descartáveis por quem intercede continuamente o papa Francisco”, sublinhou.
A violência contra a natureza foi outro aspecto considerado pelo conferencista. “A violência contra a natureza é ao mesmo tempo uma violência contra Deus e a humanidade”, disse. Na opinião do padre Rondón é urgente uma conversão ecológica na Igreja e na sociedade. Além disso, defendeu a igualdade nas relações entre as pessoas. “A comunhão nas comunidades cristãs supõe a compreensão eclesiológica de que tendo distintos dons, carismas ou funções, ninguém é melhor ou pior, ninguém é maior ou menor, ninguém é superior ou inferior”.
Como o primeiro conferencista do dia, padre Rondón também entende que a mulher precisa ser mais ouvida na Igreja. “A Igreja na América e no mundo tem um rosto de mulher. Sua voz e seu olhar devem que ser respeitados, valorizados e promovidos, não a partir da aparente condescendência para nos justificar, mas a partir do convencimento de que [a mulher] não é uma cristã de segunda categoria, mas testemunho fiel de que é capaz de dar a vida”, considerou.
O conferencista questionou a qualidade da fé dos católicos da América Latina diante da desigualdade que marca os países latino-americanos. “Chama a atenção o fato de que a América Latina seja a região com mais católicos do mundo e, por sua vez, seja a mais desigual economicamente. Este dado é que nos alerta sobre o real impacto da vida cristã na sociedade. Que Cristo estamos pregando?”, provocou.