Por Pe. Antônio Niemiec CSsR*
Celebração de 150 anos de nascimento do fundador da Pontifícia União Missionária
Ao declarar o padre Paolo Manna beato, João Paulo II disse: “O Beato Paolo Manna foi um autêntico precursor das intuições e indicações do Concílio Vaticano II”. João XXIII o chamou de: “O Cristóvão Colombo da nova cooperação missionária”. Paulo VI considerou ser “um dos mais eficazes promotores do universalismo missionário do século XX”. O estudioso da história missionária, padre Drehmanns, registrou: “O padre Manna está na origem e no desenvolvimento de todo o movimento missionário do século XX”. O teólogo Henri de Lubac escreveu: “O Padre Manna é a expressão mais completa de uma missão compartilhada”. O Cardeal Celso Costantini, Prefeito de Propaganda Fide, definiu-o: “Homem perigoso – como se dizia de alguns seminários, depois da difusão do escrito Operarii autem pauci! – um intrometido! Santo, mas intrometido; um temerário. Um missionário incômodo”. Isso porque suas intuições sobre a missão universal da Igreja incomodavam muitas pessoas.
Paolo Manna nasceu em 1872 e ingressou no PIME em 1891, sendo ordenado sacerdote em 1895. Logo partiu para a Birmânia, onde teve tuberculose e precisou voltar para a Itália. Ao peregrinar pelo Santuário de Lourdes, não pede a Nossa Senhora que o cure, mas que se apaixone por Jesus e possa dar sua vida pela difusão do Reino de Deus.
A sua paixão missionária o faz promover, nas dioceses e paróquias da Itália, as Obras de Propagação da Fé e da Santa Infância. Padre Mannna provoca uma verdadeira “revolução profética” ao insistir que o problema missionário não diz respeito apenas aos missionários, mas a toda a Igreja, e requer uma solução global e o envolvimento de todos os batizados – bispos, sacerdotes e fiéis – dioceses e paróquias, congregações religiosas e associações leigas. Era uma novidade profética na vida da Igreja. “A conversão dos infiéis é o problema dos problemas”, afirmava padre Manna que também exortava: “Todos os fiéis por todos os infiéis”.
Com a ajuda de São Guido Maria Conforti, funda a União Missionária do Clero em 1916. Estabelece também os “círculos missionários” nos seminários diocesanos. O objetivo da União é inflamar os sacerdotes no amor de Cristo, e depois “acender em todo o povo cristão uma forte chama de zelo apostólico pela conversão do mundo”. Em 1923, a União é estendida também aos religiosos e mulheres.
Em 1950, padre Manna lança o livro: “Nossas Igrejas e a propagação do Evangelho – Para a solução do problema missionário”. Esse livro está na origem da encíclica do Papa Pio XII, “Fidei Donum” (1957), que abre o caminho das missões ao clero diocesano. Afirma que todos os bispos e padres são responsáveis pela missão entre os não cristãos, e que o anúncio de Cristo não pode ser confiado apenas às ordens religiosas e aos institutos missionários. Ele escreve: “Mobilizemo-nos, organizemos toda a Igreja para as missões; façamos da difusão do Evangelho o dever de todos os que crêem em Cristo”. A obra propõe que “sejam instituídos seminários missionários em todas as Províncias Eclesiásticas”, para enviar sacerdotes diocesanos e leigos em missão.
Padre Manna estava convencido de que tudo na Igreja depende do clero: “A solução do problema missionário está no clero: se os padres são missionários, o povo cristão o será igualmente; se os sacerdotes não viverem a paixão de levar Cristo a todos os homens, também o mundo cristão não poderá fazer milagres. O espírito missionário é, antes de tudo, uma grande paixão por Jesus Cristo e pela sua Igreja”, afirma.
Nos anos 1924-1934, padre Manna exerce a função de superior geral do PIME e depois, seu superior regional. Sua morte se dá em 15 de setembro de 1952.
Em sua vida, fez o melhor pela animação missionária: insistiu nas vocações missionárias, na oração pelas missões, no compromisso pessoal de cada cristão. Sua obra “Virtudes Apostólicas” é “um verdadeiro tratado sobre a espiritualidade da missão, um clássico da literatura missionária dos tempos modernos”. A encíclica Redemptoris Misssio, de João Paulo II, retoma o que padre Manna escreveu: “A vocação universal à santidade está intimamente ligada ao apelo universal à missão: todo crente é chamado à santidade e à missão” (RMi, 90). “A palavra de ordem deve ser esta: todas as Igrejas para a conversão de todo o mundo” (RMi, 84).
Após uma visita a diversos países da Ásia, Oceania e América do Norte, padre Manna escreveu um memorando para a Propaganda Fide, “Observações sobre o método moderno de evangelização”. Nele, apela para se proceder mudanças no “método de evangelização”: rejeitar o ocidentalismo, libertar-se da proteção das potências ocidentais, educar os padres locais com programas diferentes dos usados no Ocidente; nas missões, abolir o latim e o celibato para favorecer a maior participação dos indígenas no sacerdócio; consagrar os melhores catequistas onde não existem sacerdotes; eliminar qualquer compromisso com dinheiro. Sua paixão pela conversão do mundo infiel e pela salvação das pessoas não lhe permitiu calar-se: “A salvação das pessoas é a lei suprema!”.
A preocupação pela missão universal, presente no Vaticano II, foi preparada pelo grande crescimento das missões católicas, durante os anos 1920-1960, e pelo nascimento de centenas de novas Igrejas. Padre Manna foi o profeta e o precursor de todo esse processo.
Como um verdadeiro missionário de sabedoria apostólica, pouco antes de sua morte, publicou a segunda edição de “Nossas Igrejas e a Propagação do Evangelho”. Na capa da obra, destacou-se a síntese do seu projeto missionário: “A Igreja inteira para o mundo inteiro”.
* Secretário da Pontifícia União Missionária
(Resumo do artigo do Pe. Piero Gheddo: http://www.gheddopiero.it/index.php/il-beato-paolo-manna-precursore-del-vaticano-ii-e-anche-dottore-della-chiesa-padre-gheddo-sul-blog/).