Com o objetivo de aprofundar os temas discutidos nos 15 seminários regionais realizados entre junho de 2016 e setembro de 2017, a Rede Eclesial Panamazônica (Repam) promoveu um grande Seminário Geral Laudato Sì. O evento realizado em Brasília, neste final de semana, dias 17 a 19 de novembro, foi marcado por vozes da Amazônia
A mesa de abertura contou com a presença das principais lideranças pastorais e eclesiais da região. O grito que ecoa da Amazônia ressoou nas palavras iniciais, do secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, do presidente da Comissão Episcopal da Comissão para a Amazônia da CNBB e da Repam, cardeal dom Cláudio Hummes, do secretário da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB e presidente da Repam-Brasil, dom Erwin Krautler, do procurador do Ministério Público da República, Felício Pontes, da assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB e Repam, irmã Irene Lopes e da coordenadora do Movimento Xingu Vivo, Antônia Melo.
Este foi também, um Seminário internacional, uma vez que contou com a presença de uma delegação da República do Congo e da República Democrática do Congo, além da presença do secretário executivo da Repam Panamazônica, o equatoriano, Maurício Lopez. Estes partilharam experiências da Rede Eclesial da Bacia do Congo (Rebac) e da Amazônia, a experiência de fortalecimento dos povos tradicionais e dos seus territórios, tal qual acontece com a Repam.
“A palavra do papa Francisco na Laudato Sì nos ajuda a aprofundar os processos de cuidado com a Casa Comum, a superarmos uma atuação de medidas externas e nos levando ao encontro das pessoas, a aprofundar nossa relação com os irmãos, com Deus e com a Terra. E se viemos aqui é porque nos colocamos a pergunta: como agir? Estamos aqui para escutar, sobretudo, queremos aprender, porque vocês já têm uma experiência nesse campo. Admiramos o processo no qual vocês estão engajados com a Laudato Sì, estamos contando com vocês”, disse o bispo da Conferência Episcopal do Congo Brazzaville, dom Louis Portela Mbuyu. A Rebac é uma rede irmã da Repam e compartilha o mesmo objetivo de ser a voz dos povos originários e tradicionais, neste caso, na Bacia do Congo.
A coordenadora do Movimento Xingu Vivo, Antônia Melo, destacou a história de resistência dos povos do Xingu. “O modelo de desenvolvimento que nos oferecem não serve para a Amazônia, não serve para os povos. Precisamos ser mais ousados e apresentar um modelo de desenvolvimento a partir dos povos da Amazônia. Unir as universidades em torno desse projeto de desenvolvimento a partir das populações tradicionais e lutar contra banqueiros, governos e gente de gabinete”, disse.
Outra voz em defesa da Amazônia tem ecoado a partir da atuação do procurador do Ministério Público, Felício Pontes, que em sua fala lembrou que em três anos de existência a Repam tem conseguido dar passos importantes na mobilização e visibilidade que consegue dar aos povos e as causas da Amazônia. “Cada um de vocês representa milhares de pessoas. É preciso fazer com que essa rede avance, e o que o Ministério Público Federal tem haver com isso? Aquilo que nós chamamos de direito à dignidade da pessoa humana coincide com a teologia quando defende a vida em plenitude para todos. Do outro lado, contra esse nosso projeto de defesa da vida, há uma estrutura muito forte, e no Brasil essa estrutura está dentro do governo federal e é responsável pelo maior desrespeito aos direitos dos povos da Amazônia. Os principais desafios que temos na defesa da Amazônia é o enfrentamento a quatro frentes: a indústria madeireira, o agronegócio, a atividade mineradora e a operação de hidrelétricas na região. Esses projetos causaram e causam etnocídios, uma palavra nova que temos que usar cada vez mais, e contra isso só uma Rede forte como a Repam para dar visibilidade a essas pessoas e povos que foram invisibilizados. É preciso que eles apareçam e digam: nós estamos aqui, nós temos direitos! A Repam nos dá esperança de fazer com que isso se torne realidade. Os 15 seminários já tiveram resultados extraordinários, já produziram um barulho bom, isso nos dá alento e nos motiva a continuar a luta sem medo dos enfrentamentos que vamos ter pela frente”, destacou o procurador.
Por sua vez, o presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB e da Repam, cardeal dom Cláudio Hummes, enfatizou que toda mobilização provocada a partir da criação da Repam e do lançamento da encíclica Laudato Sì está acontecendo num momento crucial para a história dos povos. “Eu penso que devemos considerar que tudo isso está ocorrendo num momento histórico muito grave porque a sociedade mundial acabou se dando conta de que o planeta está numa crise grave e urgente, portanto é preciso agir rapidamente para não haver perdas irreversíveis. Neste sentido, o papa Francisco, que é um presente de Deus, uma surpresa feliz, precede à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015 (COP21)”, lembrou o cardeal.
Dom Cláudio destacou ainda que os 15 seminários foram convocadores, dinamizadores e construtores da Repam. “Nesse quadro, esses seminários são extremamente importantes e significativos, de fato está começando a mexer nas estruturas porque a sociedade está angustiada, apesar dos governos não darem visibilidade a essa movimentação do povo, mas, de fato é grande a ressonância dos seminários, eu participei de três e pude perceber como isso envolvia, sensibilizava a todos os participantes que sentiam e expressavam: agora podemos recomeçar, discernir de novo os caminhos e as práticas. Então os seminários foram uma bênção e continuam sendo uma bênção junto a outras entidades e ONG’s que se associam e colaboram. Foi um projeto bem sucedido, que nos alegrou e continua alegrando muito. Desde o primeiro seminário em Cuiabá foi entendido que não poderia se tratar apenas de um momento, mas que deveria haver continuidade com as pessoas dos territórios, que era preciso fazer que isso fosse o início de um processo”, afirmou.
O presidente da Repam enfatizou ainda a presença essencial do papa Francisco no processo de fortalecimento de iniciativas eclesiais criativas e participativas na Amazônia. “O papa Francisco tem nos encorajado desde o início, quando falou longamente aos bispos do Brasil sobre a Igreja na Amazônia e enfatizava que a Igreja não pode errar na Amazônia porque ela está em um momento crucial que pode decidir a sua continuidade e preservação ou seu fim, o papa destacava naquela ocasião que a Amazônia é um banco de provas para a Igreja. Sua fala tinha coragem e pedia aos bispos propostas corajosas, inovadores, criativas, e ele quer estar junto. Esses seminários criaram um ambiente propício para essas propostas corajosas, ele sabe como isso é urgente, a Amazônia precisa de uma renovação missionária, uma missionariedade atualizada. Isso nos move também na Repam, existe urgência! A crise climática e ambiental é mundial, mas nós que temos a Amazônia precisamos realizar nossa missão em meio a esta crise. Que esse seminário possa nos dar coragem, fortalecer a rede para a caminhada. É preciso sacudir a acomodação e ter a coragem de fazer um discernimento de como somos Igreja missionária na Amazônia”, finalizou dom Claúdio.
Durante a programação do Seminário, os 80 participantes e convidados discutiram sobre a Repam e seus desafios, refletindo sobre sua identidade, articulação, formas de animação local e incidência eclesial, além de fazer uma análise sobre a realidade da Amazônia e a conjuntura nacional e internacional. Outro momento importante no evento foram as oficinas temáticas que abordaram temas como: Terra, água e território dos povos da Amazônia, Saberes e espiritualidade dos povos da Amazônia, Formação pastoral e incidência política, Questão urbana, Mulheres da Amazônia e Fluxos migratórios e tráfico humano.
Fonte: Repam