Mais um comunicado divulgado pela diocese de Rio Branco, no Acre, confirma que as igrejas permanecem fechadas até “a hora mais segura para darmos o passo de reabertura”. A mensagem, divulgada na última segunda-feira (20), foi embasada numa “difícil decisão” e com manifestação ponderada e pela segurança dos católicos que somam mais de 51% da população do Acre. Além disso, “o ‘efeito sanfona’ de abrir e depois ter que fechar, poderá trazer perdas irreversíveis para o nosso povo”.
A Igreja doméstica na prática
“Estamos todos cansados e ansiosos”, prossegue a nota. Já são 4 meses de igrejas fechadas e atividades paroquiais presenciais suspensas em respeito às normas sanitárias e de isolamento social. Porém, é um incentivo “à vivência da fé como Igreja doméstica, que tantas vezes falamos e pregamos e que agora é o momento de colocar em prática”, afirma o bispo de Rio Branco, dom Joaquín Pertíñez, que acrescenta:
“Fomos muito criticados, e continuamos sofrendo, vendo os nossos templos fechados, mas nós sempre falamos que a vida está acima de tudo. Continuamos com as igrejas fechadas, não sabemos até quando, com sérios prejuízos também para nós. No total, a economia não se salvou e a linha de crescimento de contagiados e de mortos não para de crescer, a curva só aponta para o alto, não se inclina de jeito nenhum. Nestes dias os números são assustadores, tudo muito preocupante.”
O Acre já contabiliza quase 18 mil pessoas testadas positivas para o coronavírus e mais de 470 as que morreram vítimas da doença. As missas, transmitidas diariamente ao vivo, através de diferentes plataformas on-line, são uma forma de incentivar as pessoas a ficarem em casa, apesar de muitos agirem de maneira “irresponsável, não obedecendo as normas dos governos”, alerta o bispo.
O apoio institucional com hospital filantrópico
O Hospital Santa Juliana, entre as obras sociais da Igreja local, também é um apoio para mitigar os efeitos da pandemia já que é o único da região habilitado para a alta complexidade. Dom Joaquín explica que, desde o início da pandemia, colocou a instituição a serviço do governo, de forma gratuita, para os casos de Covid-19, através dos 20 leitos da UTI – recém-inaugurada, com aparelhos provenientes dos Estados Unidos e que tem parceria com a Faculdade de Medicina da Uninorte.
“Mas o governo preferiu construir e habilitar outros espaços para atender pacientes com Covid-19. Com certeza muitas mortes teriam sido poupadas e evitadas se se fosse dada essa assistência desde a nossa UTI. Mas nós não podemos decidir sobre essa questão. Continuamos atendendo o máximo possível e dentro das nossas limitações o máximo possível de pacientes, de pobres e necessitados, inclusive também indígenas, mas, nossas condições econômicas estão chegando ao limite. Não estamos suportando mais por ser um hospital filantrópico.”
A instituição tem sofrido com a alta demanda, os gastos com fornecedores de materiais e o problema dos médicos que não estão querendo trabalhar na UTI. “Precisamos de ajuda para poder continuar essa missão em favor dos mais desfavorecidos”, desabafa o bispo.
O desafio dos migrantes em meio à pandemia
Outro grande desafio apontado por dom Joaquín é a questão migratória, já que a região se encontra na Tríplice Fronteira, entre o Brasil, Peru e Bolívia. O Acre recebe muitos haitianos, nigerianos e venezuelanos que, diante da crise econômica e social atual, estão querendo voltar ao país de origem e encontram as fronteiras fechadas. “Nem os peruanos estão podendo entrar no país deles”, acrescenta o prelado, e os governos municipais não têm “condições de enfrentar tantos desafios”. A Igreja, assim, procura trabalhar com voluntários para amenizar a situação:
“O mais absurdo de tudo é ter que dizer que, com muita tristeza, muitas pessoas morreram na Amazônia por falta de oxigênio. É uma grande contradição e algo muito triste ver e saber tudo que está acontecendo ao nosso redor. E a impotência que se sente diante deste problema, deste grande desafio, sem UTIs, sem ventiladores, sem equipamentos de proteção, sem remédios, sem testes, enfim, é muito difícil.”
São os migrantes, os pobres, os indígenas, os mais vulneráveis e que mais sofrem com as consequências da pandemia, que também “não faz distinção de raça e status social”. O reflexo da grave crise econômica, que acompanha aquela sanitária, não está sendo ignorada pela Igreja que tem atuado diretamente com ações solidárias:
“Então, depois do coronavírus, chegou outro vírus aqui: o da fome. Não sei se é melhor ou pior, mas é terrível a fome na vida do povo. Muito desemprego, muitas famílias sem o mínimo para sobreviver. Graças a Deus começou também a aparecer muita solidariedade em favor dos mais necessitados que são atendidos pelas Caritas paroquiais, fazendo o possível, já que não podemos chegar a todos. Mas estão surgindo muitos gestos heroicos em favor da superação desta crise. Até já faleceu um agente de pastoral da Cáritas das nossas paróquias… Assim, a gente faz o que pode, que pode ser só uma gota no meio do oceano da Selva Amazônica, da floresta que nos rodeia.”
Fonte: Vatican News