Entrevista: Pe. Antonio fala sobre a atuação junto à secretaria da Pontifícia União Missionária

Em pouco mais de 6 anos colaborando com a secretaria nacional da Pontifícia União Missionária, Pe. Antônio Niemiec se despede da função, deixando para trás uma intensa trajetória vivida junto às atividades missionárias da Obra. Em sua bagagem, leva a experiência de ser envolvido com a formação missionária de todo o Povo de Deus.

POM: Chegando a esse final do percurso em que esteve à frente da secretaria nacional da União Missionária, ao olhar para trás, qual o sentimento que define esse período?
Pe. Antonio: Este ano, a Pontifícia União Missionária completou 107 anos de criação. Tive a graça e privilégio de colaborar com essa Obra durante os últimos seis anos, e contribuir para a expansão e concretização de alguns de seus projetos. O sentimento de gratidão é o que invade hoje o meu coração, na sensação do dever cumprido. Mas, também, um pouco de frustração pela lentidão de alguns processos na expansão das POM no Brasil e do não-aproveitamento do grande potencial que a Igreja do Brasil tem para cooperar com a missão universal.
Creio que a dinâmica permanente, a qual deve acompanhar a vida e o caminhar de todas as instâncias da Igreja que cooperam na construção do Reino de Deus é: manter uma memória agradecida por tudo o que já foi realizado e vivido, reavaliar e revitalizar a identidade e o agir e, finalmente, projetar o futuro, revigorando a esperança e propondo novos caminhos.

POM: Quais projetos/ações realizadas você destaca positivamente?
Pe. Antonio: A atuação da União Missionária, fiel ao mandato missionário de Cristo, se insere dentro da caminhada sinodal da Igreja no Brasil, a serviço da construção do Reino de Deus. Como tem sido desde que a Obra surgiu no Brasil, também nesses últimos anos a Obra contribuiu efetivamente no que a própria Igreja se propõe por meio das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora 2019-2023 e do Programa Missionário Nacional 2019-2023.

Além disso, em sintonia com o processo de renovação que as POM estão vivendo – renovação estrutural e da redescoberta do carisma das Obras – ajudamos no aprofundamento da reflexão sobre a identidade e atuação das POM, além de apresentar projeto de renovação da estrutura das POM no Brasil.

Atuamos em busca de um estreitamento da cooperação com organismos eclesiais no Brasil. Ao longo dos últimos anos, potencializamos essa cooperação com a Comissão Missionária da CNBB, Comissão Nacional de Presbíteros, Comissão Nacional de Diáconos, Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB), Comissão Nacional dos Conselhos Missionários de Seminaristas (COMISE), Centro Cultural Missionário (CCM) e as demais Obras (POM). Essa cooperação assumiu diversas formas e se concretizou em muitas atividades.

Colaboração em Grupos de Trabalho (GT) e comissões: Considerando que a União Missionária tem como objetivo educar a sensibilização missionária de todos os sujeitos eclesiais, o secretário nacional ofereceu sua contribuição nesse campo. Colaborou em quatro GTs: “Formação missionária”, da Comissão Missionária da CNBB; “Missões populares”, da Comissão Missionária da CNBB; “Religiosos presbíteros”, da CRB Nacional; e “Subsídios de formação para a IAM”, da Secretaria Geral da IAM, em Roma. Além disso, participou da comissão metodológica do 5º Congresso Missionário Nacional e da comissão teológica do 6º Congresso Missionário das Américas (CAM6).

Atuação da União Missionária junto aos seminaristas no Brasil: A União Missionária promoveu, incentivou, apoiou ou acompanhou muitos projetos e atividades, em diversos níveis (nacional, regional, provincial e diocesano), a saber: implantação e expansão dos Conselhos Missionários de Seminaristas (COMISEs); assessoria e formação para os COMISEs e para os seminaristas em geral; participação e ajuda nos eventos missionários de caráter formativo; ajuda e assessoria na preparação de Congressos (2) Missionários Nacionais; Assembleias (3) Nacionais dos COMISEs; e Encontros (4) de Formação Missionária Nacional de Seminaristas (FORMISE); preparação, acompanhamento e realização de experiências missionárias; incentivo e ajuda na produção de subsídios e material de apoio aos COMISEs; ajuda na elaboração da Regimento Interno do COMISE e do Plano Trienal de Animação e Ação dos COMISEs; diálogo e assessoria com coordenadores dos COMISEs; assessoria à coordenação nacional do COMISE; incentivo ao estudo, reflexão e produção na área de missiologia; ajuda na articulação da comunhão entre os COMISEs e a OSIB.
Hoje, os COMISEs são uma realidade muito presente na vida dos seminários e casas deformação de religiosos. Existem e estão articulados em todos os 19 Regionais, num total de cerca de 150 COMISEs em diversos níveis.

Serviço de assessoria, animação, articulação e formação em diversos eventos (entre internacional, nacional, regional, estadual e diocesano). Promoção de assessorias e/ou acompanhamento a iniciativas que visaram formar discípulos missionários para se colocarem a serviço da vida plena para todos, numa dinâmica da missão permanente e num processo de conversão pessoal, pastoral e estrutural.

POM: Existe algo que poderia ter sido diferente ou melhor, ou que não conseguiu ser realizado?
Pe. Antonio: Sem dúvida, por causa da necessidade de, nos anos 2018-2019, assumir duas responsabilidades ao mesmo tempo – o de assessor da Comissão Missionária da CNBB e o de secretário nacional da União Missionária – meu serviço nas POM ficou prejudicado e limitado ao necessário. Consequentemente, nesses dois primeiros anos, não pude colaborar de maneira mais assídua, plena e efetiva com a União Missionária, sem, no entanto, deixar de realizar os serviços essenciais.

Creio que um dos campos em que não conseguimos avançar muito, em nosso serviço, foi a cooperação mais efetiva com responsáveis pela formação contínua de diáconos permanentes e de presbíteros. Empreendemos algumas iniciativas e fizemos tentativas de aproximação para dialogar melhor, ajudar na inserção de elementos de formação missionária nos programas de formação permanente (em diversos níveis), tecer projetos em comum e caminhar juntos, mas não houve progressos nem conseguimos prosperar. E trata-se de algo urgente porque, conforme constatação generalizada, especialmente entre os fiéis leigos, e que encontrou respaldo no Documento de Aparecida: “falta espírito missionário em membros do clero, inclusive em sua formação” (DAp, 100e).
Em relação a sonhos que tive, ao vir para servir nas POM, dois deles não se concretizaram. Mas, reconheço também que alguns empreendimentos e projetos fazem parte de um processo e que algumas coisas exigem paciência e perseverança.

Primeiro sonho: um fundo financeiro missionário. Creio que a Igreja no Brasil, pelas POM ou a Comissão Missionária da CNBB, deveria constituir e dispor de um fundo financeiro missionário para cooperar, de maneira efetiva, com diversos projetos missionários no país e além-fronteiras. Esse fundo poderia servir de suporte para, no Brasil, apoiar os projetos de Igrejas-irmãs e tantos outros projetos, especialmente nas regiões de maior necessidade e carência. Esse fundo estaria também a serviço de tantos projetos missionários, em diversas partes do mundo, inclusive lá onde a Igreja do Brasil, pela CNBB, atua e ajuda há anos (Timor Leste, Guiné Bissau, Haiti) e onde a evangelização depende da solidariedade dos fiéis das Igrejas que têm mais condições e são mais generosas.

Segundo sonho: reestruturação das POM. Antes ainda de vir para trabalhar na sede das POM, em Brasília, considerei a necessidade da reestruturação das POM no Brasil. É que, passados 45 anos da presença das POM, as Obras são ainda pouco conhecidas na Igreja no Brasil e ausentes em grande número de dioceses. Além disso, o fato de as POM no Brasil, no que se refere à sua implantação e organização, dependerem dos Conselhos Missionários, dificulta ou até impossibilita sua expansão e atuação. Por isso, creio que a Igreja no Brasil deveria ter uma instância (estrutura) intermediária, institucional e oficializada que garanta a implantação, animação e coordenação das POM nas dioceses. É que há uma lacuna entre o âmbito nacional e local. Muitos encaminhamentos locais (nas paróquias) precisam ser feitos ou acompanhados pela coordenação nacional. Por isso, seria bom adequar a atual estrutura das POM no Brasil às orientações do Vaticano, segundo a Cooperatio Missionalis e o Instrumento de Trabalho para a reforma das POM no mundo.

POM: Que mensagem você deixa às lideranças das Pontifícias Obras Missionárias?
Pe. Antonio: Creio que todo cristão, consciente da sua vocação e assumindo-a, sente-se permanentemente chamado à missão. É que a missão é sua identidade, como nos lembram os bispos do Brasil, nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora 2019-2023: “Jesus Cristo não confiou aos seus seguidores uma tarefa simples, mas conferiu-lhes uma identidade que os projeta para além de si, na comunhão com a Santíssima Trindade, em favor do mundo inteiro, por meio do testemunho, do serviço e do anúncio do Reino de Deus” (21).

Por isso, resta-nos então viver essa realidade porque, enquanto cristãos, discípulos missionários, “não temos outra felicidade nem outra prioridade que não seja sermos instrumentos do Espírito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos, não obstante todas as dificuldades e resistências. Este é o melhor serviço – seu serviço! – que a Igreja tem que oferecer às pessoas e nações” (DAp 14).

Que, como discípulos missionários, testemunhas de Cristo, na vida eclesial e nos diferentes setores da sociedade, saibamos viver nossa consagração para a missão e cooperar com a missão universal de salvação, porque “Todos os membros da Igreja são consagrados para a missão, todos são corresponsáveis por levar Cristo ao mundo com a própria contribuição pessoal” (São João Paulo II).

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