Por Pe. Daniel Luz Rocchetti, SAC *
No horizonte missionário, é sempre muito claro e reconhecido que a missão não se faz sozinho. Nosso Senhor Jesus Cristo, em determinado momento, embora sendo o grande Missionário do Pai (cf. Hb 3,1), chamou para mais perto de si alguns homens e mulheres que, da convivência com Ele, foram aprendendo como ser e como viver, no estilo que Ele propunha (cf. Mc 3, 13-19). Em consequência do discipulado, quais apóstolos e missionários foram enviados para onde Ele mesmo deveria ir. Mais adiante, ao olhar os desafios do trabalho e da missão, Jesus pede ao Pai que enviasse tantos mais operários à Sua messe (cf. Mt 9, 37ss). Portanto, a missão não é algo que se faz sozinho!
Saber como podemos colaborar com a missão se expressa na própria abertura de Nosso Senhor, ao contar com nossas forças e ajuda, ainda mais que Ele prometeu estar conosco até o fim, confirmando o anúncio que realizamos (cf. Mt 28,20). Também somos convidados a refletir e reconhecer que, juntar as mãos, caminhar juntos, pé a pé, com outras tantas pessoas, torna-se um eficaz testemunho bíblico-cristão. Com o mundo dividido e competitivo, realizar algo em conjunto é um desafio profético. Ocasiona, mais uma vez, reconhecermos que a missão, por ela mesma, não se realiza solitariamente.
Nesse sentido, a Congregação para Evangelização dos Povos, responsável por toda a articulação missionária da Igreja escreveu um importante documento sobre esse tema. É o documento Cooperatio Missionalis. Nele, lemos que a “cooperação é o primeiro fruto da animação, entendida como um espírito e uma vitalidade a encorajar os fiéis, as instituições e as comunidades à responsabilidade universal, à formação da consciência e mentalidade missionárias e de orientação ad gentes. Por isso, toda iniciativa de animação missionária se dirige sempre para o seu objetivo: formar o povo de Deus para a missão “específica”, suscitar boas e numerosas vocações missionárias, promovendo toda forma de cooperação na evangelização” (Cooperatio Missionalis, n.2).
O documento trata ainda da importância para que cada Conferência Episcopal una forças e articule organismos eclesiais, em vista de uma conscientização missionária e uma missão mais incisiva e de largos horizontes ad gentes: “Para alcançar maior unidade e eficácia operativa na animação e cooperação, e para evitar concorrências e paralelismos, a Conferência Episcopal constitua um Conselho Missionário Nacional (COMINA), do qual se sirva para programar, executar e rever as principais atividades de cooperação em âmbito nacional” (CMi, n. 12).
É interessante recordar que esse documento é datado do ano de 1998, já destinado para a Igreja no Brasil, no alimento à intuição voltada à organização e articulação do que se concretizou em 1972! Sim, sim: no Brasil de 1972, há 50 anos, viu-se a necessidade de fortalecer a missão e as questões afins, unindo as forças dos organismos eclesiais missionários: a CNBB, as POM, a CRB, e o CIMI recém-nascido! Assim, em novembro de 1972, conforme breve informação nas Atas do Conselho Permanente da CNBB daquele mês, foi instituído o Conselho Missionário Nacional – COMINA.
O atual Regulamento diz que o COMINA: “é uma instituição estabelecida pela Santa Sé e constituída pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para articular os organismos e instituições missionárias da Igreja no Brasil e, assim, alcançar maior unidade e eficácia operativa na animação e cooperação missionária” (Art. 1), e que tem por finalidade:
a) Promover a articulação das instituições missionárias atuantes no País, entre si, com as Pontifícias Obras Missionárias (POM) e com a CNBB.
b) Estudar e apresentar soluções articuladas para as questões missionárias de maior relevância, relativas a todo o território nacional.
c) Promover, acompanhar e animar os Conselhos Missionários Regionais (COMIREs).
d) Cooperar com a CNBB e as instituições missionárias na elaboração e execução de projetos de atuação missionária dentro e fora do País.
e) Fomentar iniciativas de animação, formação e cooperação missionária.
Após esses 50 anos de caminhada articulada como um Conselho Missionário Nacional, continua em sua composição os mesmos organismos missionários iniciais, com a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; as POM – Pontifícias Obras Missionárias; a CRB – Conferência dos Religiosos do Brasil; o CIMI – Conselho Indigenista Missionário; e também a CNISB – Conferência Nacional dos Institutos Seculares do Brasil; a CNLB – Conferência dos Leigos do Brasil; a REPAM – Rede Pan Amazônica; e alguns outros organismos. Por meio de uma secretaria executiva, o COMINA articula a animação à vida missionária da Igreja, alcançando todos os organismos do Povo de Deus e grupos de fiéis.
De forma muito especial, o COMINA busca mobilizar o Povo de Deus a partir de importantes Conselhos Missionários em todos os segmentos da Igreja, com os COMIRE´s – Conselhos Missionários Regionais; os COMIDI´s – Conselhos Missionários Diocesanos; e os COMIPA´s – Conselhos Missionários Paroquiais. Cada um desses conselhos tem grande valor, na preciosa tarefa de a Igreja não ter como esquecer da sua natureza missionária (cf. AG2), porque é a ela (e por extensão, a cada um de nós), que Jesus disse: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20, 21).
* Assessor da Comissão Episcopal para Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB