O papa Francisco recebeu a notícia da morte do “venerado irmão cardeal Paulo Evaristo Arns” com grande pesar e enviou um telegrama ao cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, na manhã desta quinta-feira, dia 15.
O pontífice expressa a todo o clero, comunidades religiosas e fiéis da arquidiocese de São Paulo (SP), bem como à família do falecido, os seus pêsames pelo desaparecimento desse intrépido pastor que no seu ministério eclesial se revelou autêntica testemunha do Evangelho no meio do seu povo, a todos apontando a senda da verdade na caridade e do serviço à comunidade em permanente atenção pelos mais desfavorecidos.
“Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja tão generoso pastor e elevo fervorosas preces para que Deus acolha na sua felicidade eterna este seu servo bom e fiel enquanto envio a essa comunidade arquidiocesana que chora a perda do seu amado pastor e à Igreja do Brasil, que nele teve um seguro ponto de referência e a quantos partilham esta hora de tristeza que anuncia a ressurreição, uma confortadora bênção apostólica”.
A notícia da morte do cardeal Paulo Evaristo Arns repercutiu no Brasil e a imprensa internacional deu muito destaque à perda. Várias entidades ligadas à Igreja emitiram notas de pesar. Dom Paulo tinha 95 anos, 71 anos de sacerdócio e 76 anos de vida franciscana. Ele era cardeal desde 1973 e foi arcebispo metropolitano de São Paulo entre 1970 e 1998.
CNBB
A CNBB, em nota assinada pelo secretário-geral, dom Leonardo Steiner, afirma que “em seu ministério episcopal, especialmente durante os penosos anos do regime de exceção vividos pelo Brasil, ele foi sempre um pastor símbolo da fidelidade à Palavra de Cristo e aos ensinamentos da Igreja… deu significativa contribuição na luta contra a tortura e o restabelecimento da democracia”.
Dom Arns, como Francisco de Assis, encontrava na prática de Jesus a motivação fundante para sua predileção pelos pobres e desamparados da sociedade conforme declarou em uma de suas obras mais conhecidas: “Jesus não foi indiferente nem estranho ao problema da dignidade e dos direitos da pessoa humana, nem às necessidades dos mais fracos, dos mais necessitados e das vítimas da injustiça. Em todos os momentos Ele revelou uma solidariedade real com os mais pobres e miseráveis (Mt 11, 28-30); lutou contra a injustiça, a hipocrisia, os abusos do poder, a avidez de ganho dos ricos, indiferentes aos sofrimentos dos pobres, apelando fortemente para a prestação de contas final, quando voltará na glória para julgar os vivos e os mortos” (Da esperança à utopia: testemunho de uma vida).
CBJP
O secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB, Carlos Moura, disse que dom Paulo Evaristo Arns deixa o legado de colocar na agenda pública nacional a inviolabilidade da vida humana: “Quem conviveu com o religioso teve a oportunidade de escutar ‘de esperança em esperança’, esse quase lema que o acompanhou nos tempos mais difíceis da história nacional, quando o autoritarismo era lei que prendia, torturava e condenava quem discordasse da Lei de Segurança Nacional”, afirma, em nota.
O trabalho pastoral de Arns foi voltado principalmente aos moradores da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros e à defesa e promoção dos direitos humanos. O livro de sua autoria ‘Brasil: nunca mais’ retrata os mecanismos de tortura e outras graves violações a direitos humanos durante a ditadura militar brasileira.
Pastoral da Criança
A coordenação nacional da Pastoral da Criança atesta que dom Paulo foi “o grande responsável por semear a criação da Pastoral da Criança” em 1982, projeto desenvolvido por sua irmã, a médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, e que busca reduzir a mortalidade infantil.
Em nota, a Pastoral disse que a vida do cardeal foi marcada por uma série de ações voltadas às populações mais pobres e necessitadas: “Ele foi um exemplo de que os ensinamentos cristãos se concretizam no contato com o povo, pelo viés da solidariedade, buscando a transformação das injustiças sociais. Costumava dizer que, para que essas transformações aconteçam, é importante cada um se interessar pela política e agir, no sentido de defender os direitos daqueles que mais precisam”.
Pastoral da Terra
A Comissão Pastoral da Terra também manifestou pesar à morte de Arns e ressaltou sua ligação com as questões agrárias. A entidade afirmou que “se une a todos os brasileiros e brasileiras e a todos os que, lutando por um mundo de justiça e igualdade, hoje pranteiam a morte de Dom Paulo Evaristo Arns.
“Dom Paulo foi um baluarte na luta pela democracia, no combate à Ditadura Militar, denunciando os desmandos praticados contra lideranças e militantes de movimentos, presos e submetidos a sessões de tortura. A palavra e a postura de dom Paulo dando guarida a perseguidos, denunciando as atrocidades e brandindo a espada da Justiça é um exemplo que marca até hoje a história de nosso país”.
Os funerais do cardeal Arns serão celebrados sexta-feira, dia 16, às 15h, na Catedral da Sé, em São Paulo.
Fonte: Rádio Vaticano