Por Pe. Matheus Marques da Costa*
Uma experiência missionária encarnada na realidade, em uma evangelização libertadora.
Cristo aponta para a Amazônia, e a Igreja de Manaus foi convidada a sediar a 1ª Experiência Vocacional-Missionária. Vimos nisso um sinal de Deus! Durante o processo de construção da Experiência, entendemos ser importante partilhar dessa responsabilidade com as Igrejas Particulares vizinhas, Itacoatiara e Coari, que participam do mesmo caminho como Igrejas amazônidas. Nesses espaços, estiveram quase trezentos participantes que puderam fazer essa experiência de Missão, experiência de ser Igreja na Amazônia.
Foram mais de quinhentas comunidades visitadas nos diversos contextos da realidade eclesial, das pequenas comunidades aos grandes santuários, na várzea, nos ramais, nas estradas, no grande centro urbano, na periferia, em novas ocupações e assentamentos, nas comunidades indígenas, com os diversos grupos de pastorais e movimentos. É preciso considerar que a Amazônia é um grande mosaico, caracterizada por gigantesca biodiversidade e marcante sociodiversidade. Aqui, a diferença “que pode ser uma bandeira ou uma fronteira, transforma-se em uma ponte” .
A missão feita a partir do diálogo reconhece e está atenta aos “aspectos sociais, culturais, religiosos e políticos da situação, como também dá atenção aos sinais dos tempos, por meio dos quais o Espírito de Deus está falando, ensinando e guiando. Essa sensibilidade e atenção são desenvolvidas através do espírito de diálogo” . Os participantes puseram os pés no Caminho que a Igreja que está na Amazônia faz, encarnada na realidade, em uma evangelização libertadora. Estou convencido de que o Espírito falou muitas coisas a todos e todas que puderam participar e fazer a Experiência Vocacional-Missionária.
Em tempos de extremismos religiosos e de uma ligeira tendência de retorno às atitudes de clericalismo do passado – por vezes desligada do mundo concreto – o sinal que a Amazônia emite pela articulação de novos caminhos para a missão cristã é, em si, profecia. Um grito para que não percamos a chance de influenciar positivamente os outros, pelo testemunho de quem, como Jesus, passa pelo mundo fazendo o bem.
Testemunhamos o empenho em aprender, desaprender e reaprender ao nos inserir, progressivamente, na lógica decolonizadora da missão, confiando que o diálogo é mesmo “poder de Deus, não uma força que esmaga e força, mas uma força que leva pacientemente e gentilmente para a liberdade e a vida abundante” . Chegamos a essa compreensão tão antiga, mas particularmente nova nos tempos hodiernos, de que a missão é encontro, superando monólogos, desde uma compreensão de que o outro não tem aquilo que o missionário pretensiosamente acha que pode oferecer.
Foram dias de celebração da vida missionária de nossas comunidades. Louvamos e agradecemos a Deus por tantas mãos estendidas, de homens e de muitas mulheres, por tantas preces que ajudaram a concretizar essa Experiência, bem como pelo testemunho desses missionários e missionárias que puderam ver nossa Igreja da Amazônia de perto, nela se inserir, integrar-se nessa Igreja discípula-missionária, sinodal, servidora, profética, defensora da vida, testemunha do diálogo, irmã e cuidadora da criação e, de mártires .
* Arquidiocese de Manaus (AM)