Papa encoraja a reconhecer Jesus no drama de migrantes e refugiados

“Este ano, quis dedicar o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado ao cuidado pastoral das pessoas deslocadas internamente.”

Assim o Papa Francisco começa o vídeo divulgado nesta sexta-feira (15) ao anunciar a mensagem para o 106º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, celebrado em 27 de setembro. Para o ano de 2020, Francisco escolhe o tema “Forçados, como Jesus Cristo, a fugir”, colocando no centro da reflexão a experiência de Jesus de quando era menino, deslocado e refugiado, junto aos pais.

O vídeo, produzido em colaboração entre Vatican Media e Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, do Vaticano, foi apresentado em coletiva de imprensa de apresentação da mensagem. Um dos protagonistas é Inácio, que conta a sua história e representa os mais de 40 milhões de deslocados atualmente no mundo.

No texto da mensagem, também divulgada nesta sexta-feira (15), reforça que “o drama dos deslocados dentro da própria nação”, principalmente daqueles “que já vivem em grave estado de pobreza”, é um dos desafios do mundo contemporâneo. Um drama, salienta ele, “muitas vezes invisível, que a crise mundial causada pela pandemia da Covid-19 exacerbou”, devido à “gravidade e extensão geográfica”.

As próprias agendas políticas acabaram “relegando para um plano secundário”, emergências humanitárias como essa, comenta o Papa. A mensagem, assim, é dedicada a todas as pessoas deslocadas internamente, mas também a quem “vive experiências de precariedade, abandono, marginalização e rejeição por causa do vírus da Covid-19”.

Francisco explica, então, que o ponto de partida para a mensagem deste ano foi inspirado na constituição apostólica Exsul Familia (1/VIII/1952), do Papa Pio XII: “na sua fuga para o Egito, o menino Jesus experimenta, juntamente com seus pais, a dramática condição de deslocado e refugiado ‘marcada por medo, incerteza e dificuldades’ (cf. Mt 2, 13-15.19-23)”. Milhões de famílias se reconhecem nessa triste realidade, diz o Papa, “em cada um deles, está presente Jesus, forçado – como no tempo de Herodes – a fugir para Se salvar”.

A importância, então, de reconhecermos Jesus dentro dessa emergência humanitária, afirma Francisco, porque “as pessoas deslocadas nos proporcionam essa oportunidade de encontrar o Senhor, ‘mesmo que os nossos olhos sintam dificuldade em O reconhecer: com as vestes rasgadas, com os pés sujos, com o rosto desfigurado, o corpo chagado, incapaz de falar a nossa língua’ (Francisco, Homilia, 15/II/2019)”.

Esse desafio pastoral pode ser abraçado nas realidades do mundo inteiro ao responder os quatro verbos já indicados pelo Papa em 2018: acolher, proteger, promover e integrar. Junto a eles, então, Francisco acrescenta “seis pares de verbos que traduzem ações muito concretas, interligadas numa relação de causa-efeito”.

É preciso conhecer para compreender, sobretudo para compreender migrantes e deslocados, diz o Papa, que não se resume a números:

“Mas não se trata de números; trata-se de pessoas! Se as encontrarmos, chegaremos a conhecê-las. E conhecendo as suas histórias, conseguiremos compreender. Poderemos compreender, por exemplo, que a precariedade, que estamos dolorosamente experimentando por causa da pandemia, é um elemento constante na vida dos deslocados.”

É necessário aproximar-se para servir, sem receios e preconceitos, adianta o Papa, que acabam nos mantendo afastados dos outros e até impedindo a aproximação. Francisco explica da importância de “estar disposto a correr riscos, como muitos médicos e enfermeiros nos ensinaram nos últimos meses. Aproximar-se para servir vai além do puro sentido do dever”.

Para reconciliar-se é preciso escutar, naquele que já é um ensinamento de Deus, “que quis escutar o gemido da humanidade com ouvidos humanos, enviando o seu Filho ao mundo”. O Papa, então, clama pelo dom da escuta e o clamor dos mais vulneráveis:

“O amor, que reconcilia e salva, começa pela escuta. No mundo de hoje, multiplicam-se as mensagens, mas vai se perdendo a atitude de escutar. É somente através da escuta humilde e atenta que podemos chegar verdadeiramente a nos reconciliar.”

Para crescer é necessário partilhar, um dos seus elementos basilares da comunidade cristã. Francisco incentiva sobre o dever de “aprender a partilhar para crescermos juntos, sem deixar ninguém de fora”, sobretudo num período de emergência como o da pandemia.

É preciso coenvolver para promover, como fez Jesus com a mulher samaritana (cf. Jo 4, 1-30). E o Papa explica:

“Se queremos verdadeiramente promover as pessoas a quem oferecemos ajuda, devemos coenvolvê-las e torná-las protagonistas da sua promoção. A pandemia nos recordou como é essencial a corresponsabilidade, pois só foi possível enfrentar a crise com a contribuição de todos, mesmo de categorias frequentemente subestimadas.”

É necessário colaborar para construir, o que se torna, inclusive, compromisso comum dos cristãos, sem egoísmos e “sem nos deixarmos tentar por invejas, discórdias e divisões”, acrescenta o Papa, que finaliza:

“Para salvaguardar a Casa Comum e torná-la cada vez mais parecida com o plano original de Deus, devemos nos empenhar em garantir a cooperação internacional, a solidariedade global e o compromisso local, sem deixar ninguém de fora.”

Oração
O Papa Francisco conclui a mensagem com uma oração inspirada no exemplo de São José, “particularmente quando foi forçado a fugir para o Egito a fim de salvar o Menino”:

«Pai, confiastes a São José o que tínheis de mais precioso: o Menino Jesus e sua mãe, para os proteger de perigos e ameaças dos malvados.
Concedei-nos, também a nós, a graça de experimentar a sua proteção e ajuda. Tendo ele provado o sofrimento de quem foge por causa do ódio dos poderosos, fazei que possa confortar e proteger todos os irmãos e irmãs que, forçados por guerras, pobreza e carências, deixam a sua casa e a sua terra a fim de se lançarem ao caminho como refugiados rumo a lugares mais seguros.
Ajudai-os, pela sua intercessão, a terem força para prosseguir, conforto na tristeza, coragem na provação.
Dai a quem os recebe um pouco da ternura deste pai justo e sábio, que amou Jesus como um verdadeiro filho e amparou Maria ao longo do caminho.
Ele, que ganhou o pão com o trabalho das suas mãos, possa prover àqueles a quem a vida tudo levou, dando-lhes a dignidade dum trabalho e a serenidade duma casa.
Nós Vo-lo pedimos por Jesus Cristo, vosso Filho, que São José salvou fugindo para o Egito, e por intercessão da Virgem Maria, a quem ele amou como esposo fiel segundo a vossa vontade. Amém.»

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