Por Jaime C. Patias *
No dia 31 de outubro, a Pontifícia União Missionária completa cem anos de fundação. “Toda a Igreja para todo o Mundo!” foi o lema, que motivou o padre italiano Paolo Manna, PIME, a criar no dia 31 de outubro de 1916 a União Missionária do Clero, Obra declarada Pontifícia por Pio XII, em 1956.
No entender do padre Manna, a Obra nascia para “resolver no modo mais radical possível o problema da cooperação dos católicos para com o apostolado” em todo o mundo, tornando-se a quarta das Obras Missionárias Pontifícias, ao lado da Obra da Propagação da Fé, da Obra da Infância Missionária e da Obra de São Pedro Apóstolo: estas já Pontifícias, desde 1922.
Pela sua característica formativa, o papa Paulo VI afirmou que a União é “a alma das demais Obras Missionárias” e “apta para fomentar principalmente uma intensa espiritualidade missionária” (Graves et Increscentes, 27). Esta Obra é como que a alma das outras Obras, porque as pessoas que a compõem são especialmente capazes de suscitar o espírito missionário nas comunidades cristãs e de incrementar a cooperação missionária.
Inicialmente, a União Missionária visava o clero. O seu princípio era que um presbítero missionário poderia animar todo o povo cristão para a Missão. Mais tarde, o papa Pio XII a ampliou para religiosos, religiosas, vida contemplativa e também para aqueles que, de alguma forma, participam na formação e animação missionária das comunidades cristãs.
Segundo padre Manna, “a União Missionária deve ter em vista sobretudo a cultura missionária dos sacerdotes a fim de que, com o exemplo e a palavra, se interessem pela Missão e possam iluminar o povo…”
Não é uma Obra para recolher fundos materiais, mas uma escola para a formação do espírito cristão pela vivência do batismo e do crisma, consagração religiosa e presbiteral. Ela ajuda e completa a atividade das Obras Missionárias Pontifícias para que sejam todas escolas de formação missionária e cristã e “manter viva a vocação de toda a Igreja para a missão” (João Paulo II, no 75º aniversário de fundação, 1990).
Hoje, esta Obra centenária está presente em todo o mundo e inclui a formação missionária de seminaristas, presbíteros, religiosos, religiosas, leigos e leigas. No Brasil essa tarefa é desenvolvida por maio do Conselho Missionário de Seminaristas (Comise) que nos últimos anos se expandiu pelas dioceses e regionais graças à realização de formações, congressos e experiências missionárias de seminaristas. O objetivo é proporcionar uma sólida espiritualidade e formação missionária capaz de enfrentar os desafios da missão na pastoral, nova evangelização e na missão ad gentes – além-fronteiras.
Conforme nos lembrou o papa São João Paulo II: “À Pontifícia Obra da União Missionária é confiada a tarefa de sustentar a tensão de toda Igreja para a missão. Em vista desta finalidade, exorto-vos a jamais deixardes de vos preocupar com a formação missionária dos sacerdotes, dos membros das comunidades religiosas e dos aspirantes ao ministério sacerdotal e à vida consagrada. A ninguém passa despercebida a importância desta ação formativa”.
“O missionário não é nada, se não se revestir da pessoa de Jesus Cristo”, afirmava padre Paolo Manna, beatificado pelo papa João Paulo II em 24 de abril de 2001. O Bem-aventurado missionário do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras (PIME), nasceu em Avellino (Itália), em 16 de janeiro de 1872 e faleceu em 1952.
Ordenado padre na Catedral de Milão, em 1894, partiu para a Missão na Birmânia (atual Myanmar), em 1895, onde trabalhou em três períodos ao longo de uma década, até que, em 1907, por doença grave, regressou definitivamente à Itália. A partir de 1909, por mais de quarenta anos, dedicou-se, com todas as suas forças, com os escritos e com as obras, a difundir a ideia missionária entre o povo e o clero.
Padre Manna deixou muitos escritos reunidos em pequenas publicações e livros como: “Mas os Operários São Poucos”, “Os Irmãos Separados e Nós”, propostas inovadoras acerca dos métodos missionários, antecipando o Concílio Vaticano II. Mas, sobretudo, permanece dele o exemplo de uma vida inteiramente animada por uma total paixão missionária, que nenhuma prova ou doença pôde diminuir. Justamente, foi definido por Tragella, seu primeiro biógrafo, “uma alma-fogo”.
Padre Manna morreu em Nápoles, em 15 de setembro de 1952. Os seus restos mortais repousam em Ducenta, no “seu Seminário”, que, em 13 de dezembro de 1990, foi visitado pelo papa João Paulo II.
Por ocasião da beatificação do padre Manna, o papa João Paulo II, na homilia da celebração Eucarística afirmou: “… Com as suas existências totalmente consumidas para a glória de Deus e para o bem dos irmãos, eles (os santos) continuam a ser na Igreja e para o mundo um sinal eloquente do amor de Deus, fonte primeira e fim último de todos os viventes… Também no padre Paulo Manna nós percebemos um reflexo especial da glória de Deus. Ele consumiu a inteira existência pela causa missionária. Em todas as páginas dos seus escritos sobressai viva a pessoa de Jesus, centro da vida e razão de ser da Missão. Em uma das suas cartas aos missionários, ele afirma: ‘O missionário, de fato, não é nada, se não se revestir da pessoa de Jesus Cristo (…). Só o missionário que copia fielmente Jesus Cristo em si mesmo (…) pode reproduzir a Sua imagem nas almas dos outros’” (carta 6).
Paolo Manna atribuía a falta de missionários para a missão ad gentes, “à ignorância da dimensão missionária dos padres, que, muito absorvidos nas atividades pastorais, não percebem a urgência além de suas fronteiras”. A União Missionária nasce para ser um estímulo a todos os presbíteros para socorrer as necessidades da missão em todo o mundo.
Em todo o processo de maturação da Obra, foi providencial a colaboração de grandes figuras como a do bispo de Parma, dom Guido Conforti, fundador dos missionários Xaverianos, que foi seu primeiro presidente, entre 1917 e 1927.
Pe. Jaime Carlos Patias, IMC, secretário nacional da Pontifícia União Missionária.