Por Pe. Vanthuy Neto*
Os 50 anos do Encontro Pastoral dos Bispos Prelados da Amazônia.
O Concílio Vaticano II soprou seus ventos para a Amazônia, chegando primeiro ao coração dos bispos prelados – “participar da aula conciliar foi uma grande escola.” A visibilidade da mudança acontece primeiro nas celebrações, depois nos encontros, planejamentos… mas a novidade foi o movimento missionário acerca de como formar comunidades e do trabalho junto aos padres, religiosas e povo de Deus.
Em 1968 o Concílio Vaticano II era atualizado na América Latina na Conferência de Medellín – A Igreja povo de Deus em Comunidades, aberta ao diálogo com o mundo e no serviço opcional dos e com os pobres, na luta pela dignidade humana, no protagonismo dos leigos e leigas, numa Igreja toda ministerial. O espírito conciliar redescobria as Prelazias como Igrejas locais e indicava o caminho da Evangelização que liberta: “Ajudar os homens e mulheres a passarem de condições menos humanas para condições mais humanas” (Populorum Progressio).
Em 1971 o Papa Paulo VI escrevia: “Cristo aponta para a Amazônia! …sensíveis aos imperativos da caridade… fiéis ao dever missionário… temos de ouvir um clamor que sobe das plagas amazônicas: Vem em nosso auxílio…” (Sedoc 1972). Numa resposta efetiva e afetiva, em janeiro de 1972, a presidência da CNBB visita a Amazônia e lança o programa ‘IGREJAS IRMÃS.’
Com esse impulso missionário, os bispos prelados se encontraram em Santarém, a mais antiga prelazia da região e atualizaram o Concílio de Medellín para a Amazônia.
As Linhas Prioritárias da Pastoral da Amazônia tornaram-se projeto pastoral evangelizador que realçou o anúncio de Jesus Cristo e o ser Igreja na região. “A Igreja da Amazônia (…) manifesta sua crença e esperança no futuro da região, hoje em trepidante processo de transformação… As linhas pastorais passam por duas diretrizes: 1) Encarnação na realidade e 2) Evangelização libertadora, com quatro prioridades: 1) Formação de agentes de pastoral; 2) Comunidades Cristãs de Base; 3) Pastoral Indígena; 4) Estradas e outras frentes pioneiras. Em 1974 em Manaus veio a 5a prioridade: A Juventude.
O trabalho feito em conjunto entre os dois regionais da CNBB, Norte 1 e 2, apontava serviços, como exemplo, nos institutos de pastorais: O Cenesch – Manaus e o Ipar – Belém, com indicativos sobre a necessidade de se ter uma assessoria técnica e jurídica para as Prelazias.
Muitos dizem que o encontro de Santarém foi como fazer o “registro de Nascimento” de um novo Ser Igreja na Amazônia, porque moldou a comunhão e a unidade entre as prelazias e gestou o modus pastoral e evangelizador de toda a Igreja Amazônica. Querer “andar junto” apontou para a experiência ímpar na recente história da Igreja, a de colocar a Amazônia no coração do Papa Francisco e na pauta da Igreja Católica.
O Sínodo para Amazônia nasceu desse querer andar junto como irmãs e irmãos, leigos e religiosos, presbíteros e bispos que se embrenharam pelas matas, navegaram rio abaixo, rio acima, viajaram pelas estradas desse mundo desigual para levar a Palavra de Deus, fundar e organizar comunidades eclesiais, numa grande rede de solidariedade que as fez enfrentar as precariedades existenciais, e manter viva a chama da fé e da esperança. Nessa caminhada de 50 anos de Santarém, lançamo-nos novamente, embalados pelos sonhos da Querida Amazônia, em busca de novos caminhos de conversão e vida para a Igreja sinodal da região.
* Diocese de Roraima