O quarto dia do Congresso Americano Missionário em Porto Rico reflete o eixo temático do envio missionário além-fronteiras.
“Precisamos correr o risco do encontro com o outro, passando da ansiedade da salvação para a calma da convivência; da presunção de quem quer ensinar à disposição de quem quer aprender”. A percepção do Pe. Estevão Raschietti, último conferencista deste 6º Congresso Missionário, aponta para uma nova proposta de saída, de uma Igreja integralmente missionária, voltada aos lugares remotos, mais esquecidos e desafiadores.
A conferência “Da América ao mundo e do mundo à América”, durante a manhã desta sexta-feira, iniciou lembrando que já há mais de 40 anos Puebla convidava a América Latina a sair em missão ad gentes. “Desde então, o que realmente foi feito?”, questionou. Ainda olhando ao passado, alertou sobre a colonização e a necessidade de um novo paradigma.
“Se a missão ad gentes foi colonial, não podemos condená-la em tudo e agora o recuo não parece ser uma solução razoável. Entretanto, é absolutamente preciso fazer memória diante dos crimes cometidos pelo colonialismo histórico e atual. Isso nos permite especialmente uma redefinição das relações de encontro entre os diferentes povos”, explicou o conferencista, completando que “Uma missão descolonizada é uma missão autenticamente pobre, missionária e pascal”.
Durante sua exposição, Pe. Estêvão pontuou que hoje a realidade missionária mudou e o mundo se tornou uma imensa terra de missão. “Toda Igreja se tornou missionária, mas essa percepção esconde o risco de não reconhecermos as diversas situações que as Igrejas e os povos se encontram”, advertiu ele.
“Não se faz missão em qualquer lugar. Em primeiro acontece nas periferias territoriais, socioculturais e existenciais. Lugares longes do centro, de luta pela vida, de exclusão, marginalidade e transgressão. Em segundo, nas fronteiras: muros reais e cruéis para milhões de pessoas. E em terceiro lugar, até os confins da terra, fora de nossos mundos, cruzando fronteiras e ouvindo o chamado constante do dever evangélico de solidariedade, diálogo e abertura universal a todos os povos”, ressaltou Pe. Estêvão.
Ministros instituídos da missão ad gentes
Respondendo à inquietação sobre os sujeitos da missão, afirmou que todo batizado é, por sua essência, missionário, mas salientou: “Há diferentes atuações que tocam não apenas a forma, mas também ao grau de comprometimento e ao próprio dinamismo missionário entre o agente de pastoral em sua paróquia e quem está a serviço da missão além-fronteiras num país muçulmano da África ou da Ásia”.
Neste contexto de envio e partidas além-fronteiras, a Igreja de toda a América ainda busca caminhos para promover e sustentar a participação dos leigos em projetos ad gentes e, para mudar essa realidade, não há outra forma se não mudando também a estrutura e a mentalidade da Igreja que envia.
Por isso, Pe. Estêvão defende a instituição do ministério do missionário ad gentes, “reconhecido por todos os organismos eclesiais, ao qual todos os batizados e batizadas possam ter acesso indistintamente, de acordo com os diversos carismas”.
Essa mudança é também sinal da proposta de um novo estilo de missão, que não “se situa mais no âmbito das grandes obras, mas das relações. A missão é feita de se sentar, de gastar tempo com as pessoas, de confraternizar e cuidar da vida e das chagas dos crucificados”.
Esta missão sinodal ad gentes, que habita nas periferias, que derruba muros e cruza fronteiras, abre caminhos até aos confins da terra e interpela a Igreja a uma mudança radical. “Nesta aventura, o importante não será o que poderemos realizar, mas a Igreja que poderemos nos tornar”, finalizou.
Da teoria à prática
A Ir. Joaninha Madeira é da Congregação da Imaculada Conceição e integra a Rede Itinerante Amazônica, perpassando as regiões de fronteira do Alto Rio Negro, na fronteira com o Brasil, Colômbia e Venezuela. Para ela, as reflexões deste 4º dia de CAM6 convidam a olhar, de alguma forma, à sua própria missão:
“O tema deste dia no congresso me move internamente. Confirmada e enviada até os confins do mundo, estando nas fronteiras, onde a vida está mais ameaçada e as feridas mais abertas. Isso é chegar até aos confins da terra”, relata. Ela diz ainda que a experiência do Congresso é também a confirmação para “seguir servindo e defendendo a vida na Amazônia com todos os desafios que significa, animada pelo Espírito”.
O Pe. Josivan Calixto de Arruda, da Diocese de Primavera do Leste-Paranatinga, no Mato Grosso, participa pela segunda vez de um Congresso Americano Missionário e comenta que se sente “tocado, empurrado e impulsionado pelo sopro do Espírito Santo, a Divina Ruah, protagonista da Missão de Deus”. Para ele, este 4º dia foi oportunidade para arder o coração. “Sinto a convicção de ser discípulo missionário de Jesus Cristo, dando continuidade a propagação com o anúncio do amor e da paz a todos os povos, começando em nossa América missionária, desde seus primeiros habitantes”, disse ele.
O presbítero acrescenta ainda que vê em sua experiência neste congresso “um novo Pentecostes, experimentado na vida, vocação e missão de cada missionária e missionário que aqui está nestes dias”.
Visitas missionárias
As conferências do CAM6 encerraram nesta sexta-feira. Para o sábado, estão previstas visitas missionárias nas paróquias da Diocese de Ponce. No domingo, a partir das 15h, acontece a celebração de envio e anúncio do local de acolhida do próximo Congresso Americano Missionário.
Por: Victória Holzbach