A religiosa franciscana, em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, faz um retrato preocupante do país que vem dar força às conclusões da Assembleia Ordinária de setembro da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé e Príncipe.
Está há 25 anos em Angola com a missão nas mãos e Cristo no coração. É natural da Guarda, em Portugal, tem 72 anos e entregou a sua vida para o serviço aos outros na Congregação das Franciscanas Missionárias da Mãe do Divino Pastor.
De passagem por Portugal a irmã Maria do Céu Costa deu uma entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre na reportagem do jornalista Paulo Aido. A religiosa diz que a sua principal missão é a formação e cita os valores da honestidade, da responsabilidade e da não-violência como preocupações do seu trabalho, no qual procura incutir o amor ao próximo, porque “a vida cristã é mesmo assim, deixar de pensar em si para pensar nos outros”, afirma.
“Sou a irmã Maria do Céu Costa, sou irmã franciscana missionária da Mãe do Divino Pastor, estou há 25 anos em Angola, vivo na Maianga e a minha missão é a formação. Sou professora e a minha preocupação é formar jovens com valores humanos e cristãos”.
Fome em Angola
A religiosa declara que ao nível social e político a situação não é boa e denuncia que há fome em Angola. “As coisas não estão muito bem em Angola, existe muita fome”, diz a Irmã Maria do Céu, assinalando que muita gente vai procurar comida nos contentores do lixo.
Estas palavras da irmã Maria do Céu sublinham as preocupações dos bispos angolanos que em setembro na sua Assembleia Ordinária expressaram a urgência de se combater a fome. “Nenhuma nação pode sobreviver de barriga vazia”, disse à comunicação social D. Belmiro Chissengueti, bispo de Cabinda e porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé e Príncipe.
E é “constantemente um bater à porta” das religiosas franciscanas, diz a irmã Maria do Céu. Gente que procura comida e “nós repartimos”, “mas às vezes também não temos nada”, acrescenta.
“Se nos ajudam, nós também ajudamos, mas é constantemente um bater à porta… Porque nós, as religiosas, vivemos também da ajuda dos outros. Algumas pessoas realmente solidarizam-se connosco e dão-nos um pouquinho de feijão, de fuba… e nós repartimos, mas nós também temos meninas em casa que estamos a ajudar. Temos nove meninas, nove jovens que também comem, não é? Então, nós quando temos alguma coisa, repartimos, mas às vezes também não temos nada…”, diz a religiosa.
Corrupção no acesso às escolas
Nesta entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que sofre, a irmã Maria do Céu denuncia também a corrupção no acesso às escolas em Angola.
“Há muita corrupção para se entrar nas escolas. Se queres entrar numa escola secundária, ou mesmo primária, se não consegues entrar porque não há lugar, mas se tu pagares, então encontra-se lugar na escola… Então, quando é na altura das matrículas, há muita, muita corrupção. E os familiares têm de fazer tudo por tudo para ver se o filho entra [na escola], mas muitos, muitos, milhares de crianças não estão a entrar na escola”, declara.
“Precisamos muito de alfabetização”
A Irmã Maria do Céu desenvolve o seu trabalho missionário nos arredores da cidade de Luanda, nos bairros do Destaque, Buraco, Palmeirinhas, Kwanza e Lombo. É por aí que as Franciscanas Missionárias da Mãe do Divino Pastor vão estendendo as suas teias de amor, de solidariedade e ternura. Elas ensinam a ler e escrever, o que pode significar uma mudança total na vida das pessoas. E precisam de muitas bíblias, livros, papel e outros materiais para encetar ações de alfabetização.
“Nós precisamos muito de alfabetização. Muito, muito. Para que as pessoas se sintam também livres e seguras e com vontade de trabalhar. Precisamos muito de alfabetização, e também o cristianismo faz muita falta porque a pessoa cristã pensa nos outros, e precisamos então da Palavra de Deus, de Bíblias, precisamos de livrinhos para as crianças, para elas aprenderem a rezar, para conhecerem a Bíblia logo desde pequeninos, para que cresçam neste ambiente de amor ao próximo”, afirma a irmã.
Quando se faz a radiografia de Angola a questão da pobreza parece estar na linha da frente. Há muito desemprego, mas também muita gente que trabalha com salários muito baixos. O salário mínimo é de 70 mil kwanzas, pouco mais de 78 euros e “não dá para abastecer a família”, diz a irmã Maria do Céu.
Nesta entrevista a irmã Maria do Céu Costa pede a solidariedade dos benfeitores da Fundação Ajuda à Igreja que sofre para conseguir cumprir melhor a sua missão de levar Deus aos angolanos, especialmente aos mais pobres e necessitados.
Fonte: Vatican News