Por Pe. Badacer Neto*
Há cinquenta anos, o Concílio Vaticano II recuperou, dos escritos paulinos, a família nascida do sacramento do matrimônio como “Igreja Doméstica” e “Santuário íntimo da Igreja”. Hoje, o Papa Francisco, na Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, pede a atenção dos fiéis com relação à família, “célula básica da sociedade”. Sua mensagem orienta as relações de fraternidade que se encontram ameaçadas pelo individualismo e pelo egoísmo crescente, os quais enfraquecem o desenvolvimento de valores e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas, sobretudo vínculos familiares (cf. EG66-67).
A antiga expressão “Igreja Doméstica” tem suas origens nos tempos apostólicos, quando o núcleo da Igreja era em geral constituído por aqueles que, “com toda a sua casa”, tornavam-se cristãos (cf. At 18,8). O Apóstolo Paulo em suas pregações falava sobre “construir” a comunidade e, para isso, utilizava metáforas que correspondiam a “edificar a casa”. As Igrejas domésticas foram, então, os principais pilares das primeiras comunidades cristãs. A partir delas, os lares passaram a promover e a dar expressão aos laços que tinham em comum, sempre na preocupação de promover a hospitalidade como principal impulsionador da missão deixada por Jesus Cristo.
A Pontifícia Obra da Propagação da Fé, obra fundada em 1822 pela Jovem Paulina Jaricot, que tem como alicerce o tripé da oração, sacrifício pessoal e solidariedade concreta em função das missões, e ainda despertar, animar e promover o espírito missionário ad gentes, envolve atividades com as Juventudes, os idosos e enfermos, e também com as famílias. São as Famílias Missionárias (FM).
Como Obra Pontifícia, todas essas atividades são comprometidas a rezar pelas missões, oferecer algum sacrifício no decorrer do dia pela evangelização, contribuir financeiramente cada mês para suprir as necessidades missionárias da igreja, e formar e alimentar o espírito missionário pela leitura de publicações missionárias.
As Famílias Missionárias são um serviço de animação oferecido pela Obra da Propagação da Fé, como alternativa para todos os que integram o ambiente familiar. Elas desejam ajudar na animação missionária a partir do interior do lar, para edificar Igrejas Domésticas enraizadas na vivência do Evangelho e em Jesus Cristo. Seu objetivo geral é promover a consciência missionária universal nas famílias, como igrejas domésticas, despertando vocações missionárias comprometidas com o anúncio do Evangelho e em favor da vida.
Para alcançar tal objetivo elas fortalecem os grupos de famílias para que vivam em estado permanente de missão na ternura do amor cristão, realizando encontros para a escuta, reflexão e partilha da vida, desenvolvendo atividades de formação e animação missionária com as variadas famílias, e ainda ajudando a despertar, no seio familiar, vocações missionárias além-fronteiras. Além de articular ações conjuntas com pastorais, movimentos, organismos e entidades que trabalham com a ética e a promoção da dignidade humana, e assim, estimulam projetos de inclusão social e sustentáveis, levando as famílias à comunhão fraterna.
As atividades da Obra da Propagação da Fé, bem como as demais Obras, adotam a metodologia das quatro áreas integradas, ver, julgar, agir e celebrar. As Famílias Missionárias, sendo uma dessas atividades, também agem por essa metodologia e buscam vivenciá-la em duas etapas: Vida de grupo e vida de Família. Vida de grupo é o momento em que as famílias que compõem o grupo vivem em comunidade, partilham vivências e orientam os trabalhos a partir de encontros como Igreja doméstica. Vida de Família é o momento de vivência familiar que busca fortalecer o diálogo, a presença de Deus e os vínculos dentro da família. Completam assim, as quatro áreas integradas que devem ser vividas no seio familiar.
Para melhor compreender:
Vida de Grupo: é o momento da reunião dos grupos das famílias missionárias que devem ser compostos de no máximo sete famílias. Aqui se vive o 1º Passo da metodologia das quatro áreas integradas que é o da Realidade Missionária. Escolhe-se um tema gerador que norteará toda a reflexão e ação do mês. Sobre o tema escolhido se estuda, se reflete e se forma. É o primeiro encontro do mês. Quinze dias depois o grupo se reúne para a vivência do terceiro passo da metodologia que é a visita missionária, a qual deve acontecer uma vez por mês de acordo com a realidade local. É uma maneira de interferência direta dentro da realidade que fora estudada. Pode ser realizada também em parceria com as pastorais, movimentos e organismos organizados na comunidade, dentro de uma perspectiva orgânica e de conjunto.
Vida Familiar, como o nome sugere, é um momento mais voltado para o interior de cada lar, na vivência da fé dentro de casa. Esse passo contempla as outras duas áreas que correspondem à Espiritualidade Missionária buscada no interior do lar, após olharem a realidade, perceberem como se pode iluminar aquela determinada realidade, enquanto família missionária, podendo também se rezar o terço missionário em família ou se fazer a leitura orante da palavra, realizando assim, esse segundo passo. E o Celebrar, como testemunho missionário, celebra tudo o que foi vivenciado no grupo e em família, podendo também convidar as famílias visitadas a celebrarem consigo, gerando um espírito de fraternidade dentro da comunidade. Dessa maneira, acredita-se que os grupos de FM se formam enquanto grupos, mas também, tornam-se grupos de famílias evangelizando famílias – famílias em missão.
Portanto, por meio dessa metodologia e na comunhão com toda a Igreja, as Famílias Missionárias querem ser, no importante momento que vive nossa Igreja, instrumentos que favorecem e garantem a saída missionária, recuperando, no seio dos lares, a vocação de cada batizado, de nós todos, convocados a assumir, na própria vida, a vida de Cristo no anúncio e no testemunho do Reino de Deus que já desponta em nossa história.
“Famílias em missão, vidas em doação!”
* Secretário da Pontifícia Obra da Propagação da Fé